Por Demetri Sevastopulo, Financial Times — Washington
12/10/2022 16h47 Atualizado há 17 horas
O presidente Joe Biden alertou nesta quarta-feira (12) que os EUA estão diante de uma “década decisiva” em sua disputa com a China, ao divulgar uma estratégia de segurança nacional que destaca o governo chinês como dotado da intenção e da capacidade de reformular a ordem internacional.
No seu primeiro documento de estratégia de segurança, Biden diz que o governo tem plena percepção do âmbito e da gravidade do desafio representado pela China e pela Rússia à ordem internacional.
“A China acalenta a intenção e, cada vez mais, a capacidade de reformular a ordem internacional em favor de uma [outra ordem] que inclina as condições em seu favor”, diz o texto de 48 páginas, assinado pelo presidente.
Biden acrescentou que a Rússia “destruiu a paz na Europa” com a invasão da Ucrânia e que colocava em risco o regime global de não proliferação de armas nucleares com suas “irresponsáveis ameaças nucleares”.
Em relação à disputa com a China — chamada pelo Pentágono de “pacing challenge”, ou o principal fator que determinar o ritmo das atividades dos EUA — Biden escreveu que a próxima década será decisiva.
“Estamos agora no ponto de inflexão, onde as escolhas que fazemos e as prioridades que seguimos hoje nos colocarão em uma trajetória que determinará nossa posição competitiva por um longo período no futuro”, segundo texto da estratégia de segurança nacional.
A estratégia de Biden, lançada cinco anos após o documento anterior, delineia a visão do presidente sobre os desafios estratégicos com que o país se defronta e as prioridades decisivas para as autoridades de segurança nacional.
O documento afirma que a meta dos EUA é ter uma “ordem internacional livre, aberta, próspera e segura”. O plano tentará assegurar essas metas por meio de investimentos no poder e na influência dos EUA, da formação de sólidas coalizões para “moldar o ambiente estratégico global” e do fortalecimento do aparato militar de modo a garantir que esteja “equipado para a era da competição estratégica com grandes potências”, ao mesmo tempo assegurando-lhe a capacidade de fazer frente a ameaças terroristas ao país.
O foco na China ocorre em um momento em que as relações entre Washington e Pequim encontram-se no ponto mais baixo desde que os dois países estabeleceram relações diplomáticas, em 1979. Os EUA estão preocupados com uma variedade de aspectos, desde a acelerada modernização do aparato militar chinês até sua atividade agressiva para com Taiwan.
Há dois meses, a China realizou exercícios militares de grande escala, que incluíram o disparo de mísseis sobre Taiwan, em resposta à visita da presidente da Câmara dos Deputados dos EUA, Nancy Pelosi, a Taipé.
Pequim acusa Washington de interferir em seus assuntos internos e de criar coalizões anti-China com aliados americanos. Nos últimos dias, Pequim criticou Washington por adotar controles sobre as exportações, voltados para desacelerar o avanço chinês em inteligência artificial, supercomputadores e chips avançados.
A estratégia de segurança nacional apresenta a China como o mais sério desafio aos EUA, mas também diz que Washington tomará medidas para garantir que está “suplantando a República Popular da China na disputa nos domínios tecnológico, econômico, político, militar, de inteligência e de governança global”.
Reconhece também que a China é fundamental para a economia global e que é um país importante no aspecto dos esforços para gerir a mudança climática e questões de saúde pública global. Afirma que os países ainda “coexistirão pacificamente”, apesar dos desafios.
Biden disse recentemente — pela quarta vez — que os EUA defenderão Taiwan se o país for atacado pela China. A afirmação reforçou preocupações sobre o risco de uma guerra na região do Indo-Pacífico.
A divulgação da estratégia ocorre dias antes do 20º Congresso do Partido Comunista chinês, quando o presidente, Xi Jinping, deverá obter um terceiro mandato como líder da China. Além disso, autoridades americanas e chinesas negociam um possível encontro entre Biden e Xi, por ocasião da participação de ambos da cúpula do G-20 (que reúne as principais economias mundiais), marcada para novembro em Báli, Indonésia.
O documento era esperado no início do ano, mas foi adiado devido à invasão da Ucrânia pela Rússia. Sua publicação abre o caminho para a liberação, pelo Pentágono, de sua “estratégia de defesa nacional” e para a divulgação, pelo governo, de uma muita aguardada “revisão da postura nuclear”.
Fonte: Valor Econômico

