Por Megha Mandavia, da Dow Jones Newswires — Nova York
10/05/2023 09h58 Atualizado há uma hora
A empresa indiana da Edtech Byju’s era a menina dos olhos do boom de startups do país asiático, atraindo projeções de crescimento elevadas enquanto atende às necessidades de milhões de estudantes em todo o país em um momento em que a pandemia prejudica o acesso a escolas e educação.
A empresa agora está se tornando um símbolo de tudo o que deu errado com a promessa da Índia de criar empresas de tecnologia que iriam rivalizar com os titãs chineses como Alibaba e Tencent. O ecossistema que buscou atrair empresas do setor e conseguiu trazer investidores como Softbank e Tiger Global, está enfrentando questões sobre responsabilidade financeira, aquisições questionáveis, avaliações que não se cumprem e a possibilidade dos investidores terem supervalorizado o mercado total da Índia. A entrada de diversas empresas na bolsa de valores da Índia foi adiada e as demissões agora são quase uma ocorrência diária.
No mês passado, a agência de combate a crimes financeiros da Índia invadiu as instalações de Byju em Bengaluru sobre suspeitas de violações da Lei de Gerenciamento de Câmbio e alegou ter apreendido documentos incriminatórios. A startup mais valorizada do país diz que está confiante de que o assunto será resolvido de maneira oportuna e satisfatória.
A empresa, avaliada pela última vez em US$ 22 bilhões, vive uma controvérsia desde o ano passado, quando diminuiu de arrecadação e os investidores começaram a questionar as empresas do portfólio, alegando que elas estariam “queimando” dinheiro.
A Byju’s ainda não apresentou os resultados financeiros nos últimos dois anos e os últimos dados divulgados trazem números pouco inspiradores. A firma de investimentos BlackRock reduziu em 50% os investimentos na empresa, de acordo com relatórios da mídia local em março, em um momento em que o crescimento esperado de Byju não chegou perto do esperado.
Os problemas não são todos específicos da empresa. Os investidores das startups do país estão percebendo que os gastos online são impulsionados apenas por uma porcentagem minúscula da população geral da Internet da Índia e que pode demorar um pouco até que o poder de consumo seja distribuído de maneira mais uniforme. De acordo com um relatório recente da Blume Ventures, apenas cerca de 45 milhões de usuários representam 50% dos gastos online do total de 850 milhões de indianos que usam a Internet.
Apenas 26% das famílias da Índia ganharam mais de US$ 10 mil em 2021, de acordo com um relatório do Morgan Stanley no ano passado. A realidade é preocupante, segundo o sócio-gerente da McKinsey, Bob Sternfels, que declarou que não é a década, mas o século que pertence à Índia.
Após alguns anos de expansão e aquisições agressivas de negócios, os unicórnios indianos vivem uma severa falta de dinheiro. As demissões em massa e a redução nas operações se tornaram uma norma, pois os unicórnios resistem à possibilidade desagradável de fazer novas rodadas de investimentos com valuation cada vez menor.
De acordo com a empresa de dados Tracxn, as startups indianas mais antigas angariaram apenas US $ 17,6 bilhões em 2022, ante US $ 35,3 bilhões em 2021.
Se o ciclo de alta de juros do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) não terminar em breve e as economias desenvolvidas entrarem em uma recessão, as startups indianas poderão ter que engolir uma pílula amarga. Os investidores na cena de startups da Índia claramente não fizeram a lição de casa. Eles estão aprendendo a lição.
Fonte: Valor Econômico

