Prata, da Embrapii: crescimento rápido vai demandar atenção especial à captação de recursos — Foto: Diego Bresani/Divulgação
O programa Nova Indústria Brasil (NIB), lançado em janeiro, trouxe um impulso maiúsculo ao financiamento de projetos de inovação. No Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), as aprovações em 2024 cresceram nada menos do que 516% sobre a média de R$ 1,8 bilhão/ano de 1995 a 2023, ao somar R$ 11,1 bilhões, até 14 de novembro passado. Na Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), as contratações, até novembro, totalizaram R$ 15,5 bilhões, ou 64,5% a mais do que o acumulado de 2019 a 2022 (R$ 9,5 bilhões). A Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii), por sua vez, aportou R$ 287,2 milhões neste ano, valor 69% superior à média de R$ 170 milhões/ano de seus onze anos de existência.
“Toda ação que o banco tem feito no apoio à inovação está no contexto do programa Nova Indústria Brasil, do governo federal, cujas seis missões foram incorporadas às prioridades do BNDES”, diz o diretor de desenvolvimento produtivo, inovação e comércio exterior do BNDES, José Luiz Gordon. A política industrial lançada no começo do ano estabeleceu metas específicas para seis missões, abrangendo os setores de infraestrutura, moradia e mobilidade; agroindústria; complexo industrial da saúde; transformação digital; bioeconomia e transição energética; e tecnologia de defesa.
Gordon destaca os setores de fármacos e biofármacos, que foram objeto de três operações de financiamento do programa específico BNDES Mais Inovação, que fornece crédito à Taxa Referencial (a TR, que em novembro era de 0,06%). Foram R$ 500 milhões para a EMS, R$ 390 milhões para a Aché e outros R$ 500 milhões para a Eurofarma. No âmbito da mobilidade, ele ressalta o financiamento de R$ 500 milhões para desenvolver a unidade de produção do eVTOL, o carro voador da Eve Air Mobility (Eve), em Taubaté (SP). O financiamento da unidade fabril se baseia na parceria entre a Eve e o BNDES após a aprovação, em 2022, de uma linha de crédito de R$ 490 milhões para dar apoio ao programa de desenvolvimento do veículo.
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“Nós apoiamos uma planta pioneira, que iria para fora e veio para o Brasil. Ela foi financiada nesse ambiente de inovação, porque nossas linhas dividem-se em P&D, planta pioneira e digitalização. Apoiamos projetos de empresas de mobilidade como a Volkswagen, projetos de motores elétricos, motores a etanol e uma série de projetos envolvendo inteligência artificial”, salienta o diretor do BNDES.
Gordon enfatiza a acessibilidade da linha Mais Inovação, que é remunerada à TR, calculada pelo Banco Central e que serve de indexador para o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), a caderneta de poupança e títulos de capitalização. Nos últimos 12 meses terminados em novembro, a TR acumulada era de 0,8%, e no mês de novembro era de 0,06% — condição particularmente atraente para micro, pequenas e médias empresas, com receita operacional bruta de até R$ 300 milhões/ano e que foram objeto de R$ 3,6 bilhões do programa Mais Inovação até setembro.
Mas a instituição, ressalta Gordon, conta com vários outros instrumentos para apoiar a inovação de empresas de todos os tamanhos e setores, como o Fundo Clima, que financia startups de inovação climática e projetos inovadores em mudança do clima, bem como aportes em participações societárias e em fundos de investimento, além de apoiar a criação e aceleração de startups, projetos de pesquisa, desenvolvimento e inovação de universidades e institutos tecnológicos, com recursos do Fundo Tecnológico (BNDES Funtec), não reembolsáveis ao banco.
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Gordon, do BNDES: Nova Indústria Brasil orienta a atuação do banco para inovação — Foto: Wilson Dias/Agência Brasil
Escolhida como principal braço financeiro para projetos de inovação da NIB, segundo seu presidente, Celso Pansera, a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) contratou cerca de R$ 15,5 bilhões em 2024, nas seis missões consideradas prioritárias pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial que norteiam o programa Finep Mais Inovação. Esse valor, que inclui contrapartidas aos R$ 13,17 bilhões da própria Finep, é 99% superior ao do ano passado (R$ 7,82 bilhões).
“A Finep tem desempenhado papel essencial ao financiar projetos de inovação em empresas, startups, universidades e instituições de pesquisa. Sua expansão reflete o reconhecimento da necessidade de apoiar diferentes etapas do desenvolvimento tecnológico, desde a pesquisa básica até a comercialização. Esse apoio tem sido particularmente importante para setores estratégicos como saúde, tecnologia da informação, energia renovável e agroindústria, que podem trazer retornos significativos para a economia nacional”, diz Pansera, também presidente da Associação Brasileira de Desenvolvimento (ABDE), que reúne as instituições financeiras de fomento do país.
Para os próximos quatro anos, o Mais Inovação deverá contar com R$ 66 bilhões, tanto em modalidades reembolsáveis como não reembolsáveis, sendo que a Finep entra com R$ 41 bilhões e o BNDES com o restante.
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Pansera, da Finep: apoiando desde a pesquisa básica até a comercialização — Foto: Leo Pinheiro/Valor
Pansera avalia que a ampliação do portfólio da Finep, incluindo linhas de crédito mais acessíveis, investimento em capital de risco e subsídios, permite que mais atores participem do ecossistema de inovação. “A diversificação das modalidades de financiamento (reembolsáveis, não reembolsáveis e participações societárias) torna o apoio mais inclusivo, atingindo desde pequenas empresas até grandes corporações e centros de pesquisa”, frisa.
A Embrapii, por sua vez, prevê destinar, nos próximos quatro anos, R$ 1,8 bilhão para apoiar projetos demandados pela indústria nas seis missões da NIB, informa seu presidente, Álvaro Prata. Esses projetos vêm se somar ao portfólio da empresa, que contratou, até novembro, 468 novos projetos no valor de R$ 839,6 milhões, sendo R$ 287,2 milhões de recursos próprios e os restantes R$ 552,4 milhões em participação das empresas, unidades Embrapii e de recursos do Sebrae (que complementa a participação de micro e pequenas empresas clientes).
Sua expectativa é fechar 2024 com o recorde de 600 novos projetos, totalizando R$ 1,09 bilhão neste ano, em que a parcela da Embrapii corresponderá a R$ 372,8 milhões. Para o próximo ano, a estimativa é de R$ 1,04 bilhão, proveniente do contrato de gestão com os ministérios de Ciência, Tecnologia e Inovação, Saúde, Educação e do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, além de contratos com o BNDES e Sebrae.
Prata assinala que a Embrapii conta, ainda, com recursos oriundos de Programas Prioritários da Lei de Informática e do Programa Rota 2030/Mover, que poderão alavancar até R$ 1,7 bilhão adicionais das empresas e institutos de ciência e tecnologia.
Com isso, até o momento, os recursos disponíveis foram suficientes para atender à demanda apresentada pelo setor privado. “Entretanto, dada a velocidade de crescimento da Embrapii [superior a 25% de aumento no número de projetos contratados entre 2023 e 2024] e a ampliação no valor contratado [com expectativa de superar R$ 1 bilhão em 2024], a disponibilidade de recursos passa a se tornar um potencial fator limitante nos próximos anos, exigindo da Embrapii uma atenção especial à captação de novos recursos, à diversificação de fontes e desenvolvimento de novos programas”, adverte Prata. Segundo ele, do total de empresas atendidas em cada ano, cerca de dois terços contrataram pela primeira vez.
O movimento de maior apoio à inovação, entretanto, extrapola os agentes operadores da NIB, como BNDES, Finep e Embrapii, englobando também o impacto de outras instituições do ecossistema de inovação, como a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), cujo lastro é a receita tributária paulista. Ela registrou, de janeiro a outubro de 2024, um aumento real de 20% nos desembolsos totais para ciência, tecnologia e inovação em comparação ao mesmo período de 2023 e adotou desde 2021 uma política ativa de novos instrumentos de financiamento. Segundo o gerente de relações institucionais, Tomás Bruginski de Paula, entre outras iniciativas, a Fapesp pretende investir cerca de R$ 150 milhões em fundos de investimento para empresas de base tecnológica no Estado.
“Tínhamos programas tradicionais, em que nas fases 1 e 2 eram aportados recursos não reembolsáveis, mas a Fapesp identificou que, muitas vezes, as empresas tinham dificuldades na sequência das suas vidas. Elas não conseguiam escalar, não conseguiam sobreviver ao longo do tempo”, relata De Paula. “Daí a fundação adotou uma política de investir em fundos de venture capital. Fomos convidados pelo BNDES e passamos a investir nos fundos do banco de fomento e, neste ano, a Fapesp fez a primeira chamada própria e vai seguir essa política.”
A gerente da área de pesquisa para inovação da Fapesp, Patrícia Tedeschi, detalha que a entidade examina por volta de 700 a 800 projetos por ano e acaba financiando 20% a 30% deles. A grande maioria vem de pesquisadores de instituições de ensino superior, muitos sem ter empresa constituída. “Muitas vezes, só depois de avaliado o mérito do projeto e confirmado que ele é financiável, é que se abre uma empresa”, relata ela, acrescentando que agricultura, saúde e computação são as atividades mais atendidas.
O apoio à inovação é uma parcela do escopo da Fapesp, algo como 8% a 9% dos desembolsos, o que representa cerca de R$ 100 milhões/ano, frisa De Paula, lembrando que há cerca de três anos a entidade decidiu consolidar e expandir programas já existentes nessa área de inovação, como o Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (Pipe), destinado à pesquisa científica e/ou tecnológica em micro, pequenas e médias empresas exclusivamente no Estado de São Paulo e que recebeu R$ 90 milhões em 2023.
Fonte: Valor Econômico