O centro da meta de inflação para este ano é de 3,25%, mas ela pode ir até 4,75%. A projeção mediana do mercado ainda está em 5,1%, pelos dados do BC, mas um mês atrás estava em 5,8%. A projeção mínima recuou um ponto percentual no período, de 4,8% no fim de maio para 3,8% no fim de junho.
No Relatório de Inflação (RI) do segundo trimestre, divulgado na semana passada, o próprio BC informou que, de acordo com seus modelos, a probabilidade de a inflação ficar acima do limite superior em 2023 passou de cerca de 83% em março para 61% agora.
A última vez que a inflação encerrou o ano dentro do intervalo da meta foi em 2020, quando o choque da pandemia fez o IPCA fechar em 4,5%, para uma meta centrada em 4%, mas com tolerância até 5,5%. Em 2021, o alvo caiu para 3,75%, mas a inflação saltou para 10,1%, quase o dobro do teto da meta (5,25%). No ano seguinte, o IPCA desacelerou para 5,8%, mas a meta também foi reduzida, para 3,5%, com limite até 5%.
“Estávamos bastante pessimistas com a inflação global e local. Mudou bastante”, diz Gustavo Arruda, chefe de pesquisa para América Latina do BNP Paribas. A previsão do banco para o IPCA em 2023, que chegou a ficar ao redor de 6%, está agora em 4,7% – dentro, portanto, do limite da meta.
Pesou para a nova projeção do BNP Paribas o alívio nos preços dos alimentos. Além da safra recorde no Brasil, eles têm sido beneficiados por uma normalização dos estoques de soja e outros grãos pelo mundo “que não se via há muito tempo”, diz Arruda. Os custos de produção agrícola, sobretudo fertilizantes, também estão menos pressionados do que o esperado.
Do seu cenário, Arruda cita ainda o comportamento dos preços dos bens industriais. “A gente ia ter um preço acalmando, porque não há mais grandes restrições nas cadeias de produção. Mas está indo até um pouco além”, afirma.
Assim, a avaliação do BNP Paribas é que o alívio em alguns preços que não necessariamente integram os núcleos – medidas que tentam suavizar o efeito de itens mais voláteis – pode acabar respingando nessas métricas.
“Quando olhamos para trás, no Brasil, se há choques em produtos fora dos núcleos, em alguns momentos essas medidas não se movem. Mas, quando o movimento é muito grande, vemos, sim, uma contaminação”, diz Arruda.
Uma melhora mais clara dos núcleos de inflação deve ficar mais para o fim do ano, segundo Tomás Goulart, economista-chefe da Novus Capital. Mas ele também projeta inflação dentro do teto da meta de 2023, em 4,5%.
José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator, espera IPCA de 4,7% ao fim do ano e reconhece a chance de ir a 4,5%. Para ele, os preços dos serviços devem fazer diferença. “A velocidade de queda tem sido muito mais rápida do que em 2016, 2017, quando esses preços saíram lá de 10% e caíram à medida que o desemprego avançava.”
Dessa vez, compara, a taxa de desocupação está em 8,3%, tem ficado nesse patamar no período mais recente e, mesmo assim, a inflação de serviços está caindo.
Livio Ribeiro, economista e sócio da BRCG, também espera 4,7% para o IPCA em 2023, mas, na sua avaliação, são os preços administrados que devem fazer diferença até o fim do ano. “Na ponta do lápis, para o IPCA, isso fica por conta da gasolina, mas acho que há espaço para outros administrados terem preços reduzidos, especificamente a parte de gás natural”, diz.
Ribeiro, que também é pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (FGV Ibre), diz acreditar que qualquer “sinal de choque” que venha de nova medida de reoneração de tributos pelo governo federal será compensada com redução de preços na refinaria.
A Petrobras anunciou na última sexta-feira redução dos preços nas refinarias do gás de cozinha (GLP) em 3,9% e da gasolina em 5,3%.
Depois do anúncio, entre outros motivos, o J.P. Morgan ajustou sua projeção de IPCA em 2023 de 5,2% para 5,1%. “Não prevíamos um corte nos preços no atacado, uma vez que os preços domésticos já parecem estar abaixo do equivalente internacional”, escrevem os economistas Vinicius Moreira e Cassiana Fernandez em relatório. “Mais uma vez os preços dos combustíveis foram reduzidos mesmo com o preço interno 6% abaixo do externo, segundo a Abicom [associação dos importadores de combustíveis]”, comenta Luís Otavio Leal, economista-chefe da G5 Partners.
Essa dinâmica em preços administrados, diz Ribeiro, dá um viés de baixa para a atual projeção da consultoria. “Para 2023, há chance grande de ficar dentro da banda de inflação.”
Embora não seja o mais provável, já é “bastante possível” que a inflação termine este ano dentro da meta, ainda que próximo do teto da banda, diz Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados.
“Há um cenário conjunto de câmbio e inflação de alimentos que serão importantes para trazer a inflação para baixo”, afirma. Ele pondera que, na inflação de alimentos, riscos precisam ser monitorados, como o clima.
A MB ainda projeta um IPCA de 4,9% ao fim do ano, mas novos ajustes para baixo podem ocorrer, segundo Vale. E, mesmo que a inflação fique acima do teto da meta para este ano, diz, trata-se de uma mudança de perspectiva muito grande em relação ao que se tinha antes. “Falávamos de inflação para este ano de 6% ou 6,5% e agora estamos falando de uma inflação de 4,5% a 5%. É uma mudança muito grande em seis meses e que é muito favorável”, afirma Vale.
Isso não quer dizer que a dinâmica “está tranquila”, segundo Arruda, do BNP Paribas. “Os últimos dados de difusão [percentual de itens com alta] vieram bons, mas os preços dos serviços não estão aquela maravilha”, diz.
Significa, na avaliação de Arruda, que também não há espaço para o Banco Central “cortar um montão” os juros. “O número [4,7% projetado de IPCA em 2023] é melhor do que já tivemos, mas não quer dizer que o trabalho está feito. Tem chão até a meta de 3%”, diz.
Para Gonçalves, do Fator, a inflação menor em 2023 traz um cenário mais positivo também para os preços no ano que vem. “Abaixa o ponto de partida”, diz, projetando 3,5% para 2024, já mais perto do centro da meta de 3%. Ribeiro, da BRCG, discorda. “A inflação vai ficar dentro da banda, mas ligeiramente acima de 4%. Isso vale também para 2025. Não haverá rompimento do regime, mas não há convergência para o centro da meta.”
Fonte: Valor Econômico
