27 Feb 2023 ARTUR NICOCELI
Entre os principais objetivos dos investidores tanto da renda fixa quanto da variável, está a busca por ativos que gerem bons retornos. E nos últimos dez anos os produtos atrelados ao Certificado de Depósito Interbancário (CDI) foram mais interessantes do que o Ibovespa, aponta levantamento da Economatica.
De janeiro de 2013 a fevereiro deste ano, os títulos que rendem 100% do CDI valorizaram 135,3%, enquanto o índice de referência em renda variável da Bolsa no País subiu cerca de metade disso, 71,31%. Segundo especialistas, ambos os indicadores devem ser analisados no longo prazo.
Gustavo Gomes, sócio e especialista de renda variável da Acqua Vero, acredita que os produtos atrelados ao CDI renderam mais porque o Brasil tem histórico de inflação alta, obrigando o Comitê de Política Monetária do Banco Central a subir os juros. Como nos últimos dez anos a inflação oficial teve alta de 80,67%, os juros também subiram na sequência – a taxa DI, que nada mais é do que o juro decorrente das operações de CDI, está precificada em apenas 0,10 ponto porcentual abaixo da Selic e, quando uma sobe, a outra avança em seguida.
Rodrigo Knudsen, gestor de fundos da Empiricus Investimentos, afirma que, dado o fato de os juros poderem subir somente a cada 45 dias – intervalo entre as reuniões do Copom –, “os produtos atrelados ao CDI apresentam menos volatilidade e risco que a Bolsa, sendo mais atraentes aos investidores conservadores”.
Ao mesmo tempo, o especialista da Acqua diz que a queda no preço do petróleo e do minério de ferro na última década – de 18,83% e 24,27%, respectivamente – também serviram para reduzir o interesse no mercado de renda variável. As duas commodities estão atreladas às empresas (Petrobras e Vale) que correspondem a quase 35% da carteira do Ibovespa.
Há outros dois motivos que explicam a diferença no desempenho dos dois índices na última década. O primeiro é que o mercado acionário no Brasil é menos desenvolvido do que em países com economias mais estáveis, como Estados Unidos. “Como o Brasil tem, historicamente, inflação e juros altos, a relação risco/ retorno do Ibovespa se torna pouco interessante”, diz Bruno Monsanto, sócio da RJ Investimentos. Com menor atratividade da Bolsa, os investidores migram para a renda fixa.
RISCO POLÍTICO. O segundo motivo toca a seara política, já que a cadeira da Presidência foi ocupada nos últimos anos por rivais políticos com visões contrárias para a política monetária, “o que trouxe instabilidade sobre a economia doméstica”, afirma o especialista. Dessa forma, Monsanto destaca que os investidores acabam por preferir ativos mais seguros, como a renda fixa.
No final das contas, ao colocar na ponta do lápis, todos os motivos levaram na última década os investidores a desmontar posições em renda variável e alocar em renda fixa. Esse movimento reduziu o preço das ações, assim como provocou a desvalorização do Ibovespa, já que há mais oferta de ações no mercado secundário e menos demanda.
Tanto o sócio da RJ Investimentos quanto o sócio da Acqua Vero acreditam que vale ter posição em renda fixa e variável, visando a mitigar riscos e trazer melhores retornos. Quando um lado tomba, pode ser que o outro valorize. Assim, a carteira dos investidores fica balanceada ao longo do tempo. “É importante escolher as empresas e setores com atenção, considerando o momento político e econômico”, diz o sócio da RJ Investimentos. •
Fonte: Fonte: O Estado de S. Paulo

