A General Atlantic vai investir neste ano entre US$ 7 bilhões e US$ 8 bilhões, o dobro do registrado em 2022 e o segundo maior valor de sua história, segundo Martín Escobari, copresidente da empresa de private equity americana fundada em 1980 e que tem quase US$ 90 bilhões sob gestão. “Estamos na melhor janela para investir dos últimos 15 anos”, diz, ao apontar que há empresas com valor de venda abaixo de seu potencial, depois do período de juros altos no mundo e maior dificuldade de captação. “Estamos otimistas porque estamos pagando barato por várias empresas para depois revender mais caro.”
Martín Escobari, da General Atlantic: até US$ 8 bi em investimentos neste ano — Foto: Divulgação
Escobari explica que 50% de seus investimentos estão nos EUA, 25% em empresas globais baseadas na Europa e 25% em emergentes. Segundo o executivo, a gestora tem aumentado a alocação de recursos na Índia, que, para ele, “é a bola da vez” no momento. “Finalmente chegou o momento de a Índia deslanchar. Estamos no país há 23 anos e agora vemos um mercado local de poupança supersaudável, com consolidação no setor de telecom, retirada de impostos, muitas operações de abertura de capital na bolsa.” A China, por outro lado, está com “expectativas complicadas”, por isso a General Atlantic “puxou o freio”. Escobari diz estar confiante que os problemas internos do país serão resolvidos com medidas do governo, mas incertezas sobre as negociações comerciais com os EUA estão pesando.
De acordo com o executivo, o melhor retorno que a gestora vem obtendo nos últimos 15 anos vem do Brasil — no país a empresa já investiu, por exemplo, em XP Investimentos, QuintoAndar e Gympass. Mas, comenta, o país saiu do radar do capital estrangeiro diante das preocupações com a saúde fiscal. “Juro, dívida e impostos altos não é uma boa combinação. Tem que cortar custos, mas não é fácil”, avalia. “A tendência é melhorar, mas nos últimos três anos se fala de Índia, México e não do Brasil.” Escobari ressalta que a microeconomia está “muito bem”, mas o estrangeiro vê um risco muito alto para tirar seus recursos dos EUA para aplicar em ativos brasileiros. “Vemos isso no fluxo de captação da bolsa.”
Ele acredita que no ano que vem as estreias na bolsa americana podem ser retomadas com força, o que também ativaria o mercado brasileiro e o mercado de private equity. Segundo ele, são 3 mil companhias americanas na fila. “Quando o mercado de IPOs abre forte nos Estados Unidos, 18 meses depois os americanos redescobrem o Brasil. Quando reabrir, volta numa média de 10 a 15 IPOs por ano. O mercado nunca fica deprimido para sempre. O apetite por risco vai voltar.”
Ele vê o setor de tecnologia voltada à educação em crescimento no Brasil e frisa que vê muito potencial no setor de saúde e em inovação voltada ao meio ambiente. “Lançamos um fundo para isso. No mundo, 90% do PIB assinou o compromisso de emissões zero até 2030, e o Brasil tem muito potencial. Temos olhado essas oportunidades.”
Escobari no entanto, diz ver uma “minibolha de inteligência artificial”, embora seja uma “ferramenta muito potente”. “Há um excesso de otimismo e uma irracionalidade na precificação. Quem chegou depois vai perder dinheiro.”
No campo das incertezas, ele adiciona ainda o temor de aumento no protecionismo dos EUA após a eleição de Donald Trump, embora diga que há otimismo no mercado em relação às expectativas de desregulação do mercado com o novo presidente. “A gente não investe em setores que dependem de subsídios, mas há uma preocupação com o protecionismo porque o resto do mundo vai reagir. Pode haver retração da globalização. É uma área de incerteza.”
* A repórter viajou a convite da XP International
Fonte: Valor Econômico

