Por Jonathan Wheatley — Financial Times
02/05/2022 05h03 Atualizado há 5 horas
A moeda da China caiu acentuadamente em relação ao dólar nas últimas duas semanas, afetada pelo impacto econômico dos “lockdowns” contra a covid-19 no país, a guerra na Ucrânia e a possibilidade de uma política monetária mais apertada nos Estados Unidos. Mas o yuan não se moveu isoladamente: analistas alertam que ele está arrastando outras moedas de mercados emergentes consigo, incluindo moedas de fora do complexo industrial asiático.
Com os preços dos alimentos e da energia em alta, as moedas de países emergentes exportadores de commodities como o Brasil e a África do Sul estão entre as poucas que obtiveram alguma vantagem com a invasão da Ucrânia pela Rússia no fim de fevereiro. Muitas dessas moedas também se beneficiaram da demanda chinesa por commodities industriais como o cobre e o minério de ferro, no início deste ano.
Mas, em abril, a combinação da desaceleração da economia da China com as consequências mundiais da guerra levou a uma reversão do movimento de moedas de mercados emergentes de todas as partes do mundo.
Yerlan Syzdykov, diretor global de mercados emergentes da Amundi, diz que a proliferação dos “lockdowns” rígidos na China está provocando fraqueza em toda a economia. O pior cenário projetado pelos analistas da Amundi prevê que os lockdowns causariam uma redução de 10% na produção industrial e uma queda de 18% na produção de aço na China.
A Amundi já estava pessimista com o crescimento chinês antes do começo dos lockdowns recentes. Sua visão interna era de que o crescimento do PIB chinês neste ano ficaria quase um ponto porcentual abaixo da previsão do Fundo Monetário Internacional (FMI), de 4,4%. Mas até mesmo esse número está agora sob pressão, afirma Syzdykov.
“Isso está tendo um efeito negativo sobre os preços das commodities – esses países, especialmente os da América Latina, que tiveram até agora um efeito positivo em seus termos de troca, estão agora em retração”, diz ele. “Isso definitivamente afetará suas perspectivas de longo prazo.”
No fim de abril, o real brasileiro era uma das moedas de melhor desempenho no mundo, com uma valorização acumulada sobre o dólar no ano de 20%. Mas um recuo de lá para cá fez essa valorização cair para 13%.
Enquanto isso, o sol peruano e o peso colombiano caíram bastante. O peso chileno e o rand sul-africano perderam quase todos os ganhos obtidos neste ano.
Os bancos centrais do Brasil e de vários outros mercados emergentes reagiram cedo à possibilidade do aumento das taxas de juros nos EUA e do dólar mais forte, aumentando os custos dos empréstimos desde o primeiro semestre do ano passado.
Mas enquanto a expectativa antes da guerra na Ucrânia era de que a inflação nos mercados emergentes atingiria um pico por volta da metade deste ano, Syzdykov agora diz que provavelmente isso será adiado por pelo menos outros três meses – podendo colocar uma pressão mais sustentada sobre as moedas desses países.
É somente depois desse ponto que alguma recuperação poderá ocorrer, acredita. “Esse será o momento em que os investidores internacionais começarão a voltar e esses fluxos ajudarão a alavancar novamente essas moedas”, afirma.
Em meio aos bloqueios contra a covid-19 e a expectativa de aperto monetário nos EUA por parte do Federal Reserve, a moeda chinesa caiu 4,2% em abril, para cerca de 6,6 yuanes por dólar, a maior queda desde o fim de sua paridade com o dólar americano, que vigorou de 1994 a 2005. A queda é maior do que uma desvalorização pontual promovida pelo banco central chinês em 2015, que abalou os mercados globais, e um tombo em 2018 durante a guerra comercial com os EUA, sob o governo Trump.
O ritmo de vendas se intensificou depois que o presidente chinês Xi Jinping anunciou um pacote de gastos com infraestrutura “completo” destinado a ajudar a mitigar os danos dos bloqueios contra a covid-19 em Xangai e outras cidades.
“Isso foi um sinal de que o governo terá que fazer mais do que planejava para chegar perto de sua meta de crescimento de 5,5% para este ano”, disse Steve Cochrane, economista-chefe da Moody’s para a Ásia-Pacífico.
Fonte: Valor Econômico

