24 Aug 2022 LORENNA RODRIGUES EDUARDO RODRIGUES
Em contraste com o discurso do governo, que comemora repetidamente a deflação pontual de julho, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse ontem não celebrar o recuo nos índices de inflação registrado recentemente. “Ainda há muito trabalho a fazer”, afirmou. “Maior parte do trabalho do BC ainda não impactou preços.”
Segundo ele, o histórico inflacionário brasileiro fez com que o BC evitasse “fazer pouco” no combate à alta de preços para não correr o risco de o País cair em recessão. “Todo banco central tenta evitar dois erros: fazer demais ou não fazer o suficiente. Bancos centrais de países com histórico de inflação menor, como o Chile, podem arriscar mais. No caso do Brasil, temos uma memória muito vívida de inflação alta e estamos sempre tentando evitar o risco de fazer pouco e pagar com uma recessão”, disse.
No 18.º International Investment Seminar, promovido pelo Moneda Asset Management, em Santiago, Chile, Campos Neto previu três meses de deflação decorrentes das medidas adotadas pelo governo para baixar o preço dos combustíveis. Mas ressaltou outras variáveis, como questões sobre taxa de equilíbrio de desemprego no Brasil. “Ainda vemos inflação de serviços subindo, com moderação em núcleos”, disse.
Para ele, há incertezas adiante com as eleições – sobre qual será a âncora fiscal a ser adotada no próximo governo. Ele ressaltou que parte da melhora fiscal registrada pelo atual governo, com a arrecadação em alta, decorreu da inflação e da mudança de consumo, que, com a pandemia, foi direcionado para bens – que pagam mais impostos, em vez de serviços, menos tributados.
O presidente do BC afirmou que a queda nos preços de energia poderá levar a inflação a cair de 9% para 5% ou 4% ao ano. “Já o trabalho de reduzir a inflação de 4% para 2% é diferente. Precisamos estar preparados.”
Campos Neto acrescentou que o Brasil começou a subir os juros com mais agilidade do que outros países. “Os mercados dizem que a maior parte do trabalho no Brasil está feito”, afirmou. Sobre a variação do Produto Interno Bruto (PIB), afirmou que os países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) revisaram as previsões de crescimento para baixo, enquanto no Brasil as projeções estão sendo mudadas para cima, em parte graças a medidas do governo. •
Fonte: O Estado de S. Paulo

