23 Oct 2023 DANIEL ROCHA E-INVESTIDOR
Os preços praticados pela chinesa Shein, bem abaixo da média no mercado nacional, fizeram a alegria do consumidor brasileiro, mas adicionaram uma dose extra de pessimismo entre os investidores sobre a capacidade de recuperação das varejistas locais que já enfrentam um cenário de juros elevados e alta da inadimplência. Isso se refletiu nas recomendações de compra e venda de ações dessas empresas na Bolsa. Mas surgiu um novidade: a diferença de preços entre a Shein e as marcas brasileiras caiu nos últimos meses, o que pode aliviar a pressão da concorrência nas ações do setor.
Segundo relatório do BTG Pactual, uma cesta com oito produtos da Shein custava, em média, R$ 648 em abril deste ano. Ao avaliar os mesmos itens agora em outubro, os analistas do banco identificaram um valor de R$ 692, alta de 6,7% durante os últimos seis meses. Esse aumento coincidiu com o aperto da fiscalização na cobrança de impostos sobre produtos vindos do exterior.
Em abril passado, as varejistas nacionais e entidades do setor alegaram que as remessas feitas por plataformas estrangeiras de e-commerce, como a Shein, não estavam sendo tributadas pela Receita Federal como prevê a legislação. Os grupos ressaltaram que a ausência de fiscalização ajudava a criar uma concorrência desleal no mercado nacional.
Segundo a Receita, nas compras de itens importados os consumidores eram obrigados a pagar a alíquota de 60% sobre o valor aduaneiro (custo do produto + custo do frete + seguro) para compras de até US$ 3 mil. A isenção do tributo só acontecia para os produtos com valor de até US$ 50 entre pessoas físicas, e que não configurassem uma transação comercial. Com o aumento da fiscalização, os itens quase dobraram de preço.
Para amenizar esse efeito, o governo federal lançou o Remessa Conforme, que retirou a alíquota de importação para as empresas que aderirem ao programa. Apenas a cobrança de 17% do ICMS, de âmbito estadual, foi mantida. Nesse meio tempo, a Shein informou que pretende iniciar produção no Brasil. A ideia da marca é adquirir 80% dos produtos localmente e importar apenas 20% da China.
Enquanto os preços da Shein subiram, as varejistas nacionais conseguiram tornar os seus itens mais acessíveis ao bolso do consumidor. Ao comparar a mesma cesta de produtos, o BTG Pactual identificou uma queda de 15,4% no caso da Riachuelo (com código GUAR3 na Bolsa); de 13,7% no da Lojas Renner (LREN3); e de 10,7% no da C&A (CEAB3) entre os meses de abril e outubro.
A variação contribuiu para reduzir a diferença de preços entre as marcas. Ainda assim, de acordo com o banco, os itens da Shein continuam 26% mais baratos do que os da Renner; 22% na comparação com os da Riachuelo; e 17% ante os da C&A.
RECOMENDAÇÃO. Por enquanto, os analistas apontam a Lojas Renner como a principal concorrente da marca chinesa no País. Na avaliação de Gabriel Bassotto, analista chefe de ações do Simpla Club, a companhia possui lojas espalhadas pelos principais shoppings brasileiros, tem uma cadeia logística eficiente e dispõe de tecnologia aplicada em seus negócios.
Como alternativa, olhando para esse segmento de varejo, os analistas de mercado também recomendam papeis de companhias voltadas para o público de alta renda. Lucas Rietjens, analista da Guide Investimentos, cita os papéis da Vivara (VIVA3), devido à liderança de mercado. “É uma empresa resiliente porque consegue crescer independentemente do cenário econômico, por estar exposta a um segmento de mercado com ticket médio elevado”, diz Rietjens. Por essa razão, a Guide mantém recomendação de compra para a companhia, com um preço-alvo de R$ 30.
A RB Investimentos também possui recomendação de compra das ações da Track&Field (TFCO4) por enxergar a companhia menos exposta à concorrência de preços da Shein. “Quem compra dessas lojas, se preocupa menos com o preço do que os consumidores de uma C&A e Renner”, afirma Gustavo Cruz, estrategista-chefe da gestora.
Já a EQI Corretora mantém recomendação de compra para as ações da Lojas Renner, do Grupo Soma (SOMA3) e da Track&Field.
Se o aumento de custos nos preços da marca chinesa torna a empresa menos competitiva em relação às varejistas locais, por outro lado a estratégia utilizada pela Shein para suprir a demanda dos brasileiros continua sendo o seu principal diferencial. Segundo Cruz, a plataforma ainda se mostra mais eficiente ao estudar o seu público-alvo e antecipar tendências de forma mais rápida do que as varejistas brasileiras.
“O poder de inteligência de trabalho de dados é um diferencial da Shein, que está muito à frente das empresas brasileiras. A marca consegue trabalhar com base de dados de fora para prever as tendências no Brasil”, diz Cruz. A característica traz um alerta aos investidores para monitorarem as marcas brasileiras nos próximos trimestres. •
Pesquisa do BTG mostra que cesta de produtos da Shein foi reajustada em 6,7% em seis meses
Fonte: O Estado de S. Paulo
