Por Brooke Masters e Andrew Edgecliffe-Johnson — Financial Times
18/07/2022 05h01 Atualizado há 4 horas
Os aumentos drásticos dos preços do petróleo e dos minerais depois da invasão da Ucrânia pela Rússia desviaram a atenção dos investidores do impacto mais duradouro e mais perigoso da inflação sobre os alimentos, alertou o fundador da BlackRock, Larry Fink.
“A única coisa com que me preocupo e sobre a qual não discutimos o suficiente são os alimentos”, disse ele ao “Financial Times”. “Isso não diz respeito apenas à inflação. Também existem questões geopolíticas que resultam disso.”
Os preços da energia, petróleo e insumos agrícolas derivados do petróleo dispararam no início do ano, quando os países ocidentais impuseram sanções à Rússia. Os custos de grãos e de óleo comestível também foram atingidos duramente porque a Ucrânia é um grande exportador.
O preço do petróleo começou a cair esta semana para níveis anteriores à invasão, já que as empresas se preparam para uma redução acentuada no consumo. Mas a inflação nos preços dos alimentos continua teimosamente alta. Os números de junho do índice de preços ao consumidor nos Estados Unidos mostram que os preços dos cortes de frango e da farinha subiram quase 20% em relação a um ano e o da margarina 34%.
“Falamos muito sobre os preços da gasolina porque é isso que afeta os americanos, mas o maior problema é a comida”, disse Fink. “Houve uma tremenda destruição de terras aráveis na Ucrânia… Em termos mundiais, o custo do fertilizante subiu quase 100%, e esse custo adicional leva à redução da quantidade usada na agricultura. Isso prejudica a qualidade das safras em todo o mundo.”
Embora os preços mais baixos do petróleo tenham começado a se refletir nos preços para os motoristas, os custos dos insumos continuam altos para as empresas de bens de consumo. É provável que qualquer queda nos preços dos fertilizantes aconteça tarde demais para incrementar as colheitas de alimentos deste ano.
Depois da invasão da Ucrânia, o Banco Mundial previu que o aumento dos preços dos alimentos em todo o mundo chegaria a 20% este ano e superaria em muito o das matérias-primas.
O impacto é especialmente grave na África, que costuma importar grãos da Ucrânia, além de produzir os próprios alimentos. Os preços dos fertilizantes subiram 300% e, segundo o Banco Africano de Desenvolvimento, o continente se prepara para um déficit de 2 milhões de toneladas métricas. O banco aprovou um programa de US$ 1,5 bilhão para ajudar os agricultores a suprirem essa diferença, mas adverte que a produção total pode cair em 20% este ano.
A secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen, disse na sexta-feira que o mundo está diante de “um momento extremamente difícil para a segurança alimentar” e apelou ao G20, o grupo dos 20 principais países, para que suspendam as restrições à acumulação de estoques e à exportação de alimentos e disponibilizem assistência financeira adicional aos países e povos que enfrentam a insegurança alimentar.
Bill Gates, filantropo e cofundador da Microsoft, destacou preocupações semelhantes na semana passada, ao dizer que a redução na oferta de trigo, óleos comestíveis e outros alimentos, causada pela guerra na Ucrânia, “elevou os preços dos alimentos, o que aumentará a desnutrição e a instabilidade. em países de baixa renda”. Ele observou em seu blog que melhorar a produtividade agrícola na África exigia “muito mais investimento”.
Enquanto alguns fabricantes de bens de consumo e varejistas de alimentos dizem estar esperançosos de que a inflação dos preços dos alimentos comece a cair, outros se preparam para o pior.
Para a fabricante de salgadinhos Mondelez, dos EUA, a inflação está muito alta e há muitos “problemas de disponibilidade” de grãos e óleos comestíveis. “Estamos à procura de uma formulação flexível para substituir alguns ingredientes e componentes em falta por algo que esteja mais disponível”, disse, no mês passado, o diretor financeiro, Luca Zaramella,
A General Mills prevê “aumento significativo nos custos de insumos”, de 14% no ano fiscal iniciado em junho. Seu executivo-chefe, Jeff Harmening, afirmou no mês passado que a expectativa da fabricante é de que haja uma “redução do poder de compra do consumidor”.
Fonte: Valor Econômico