Por Eduardo Magossi e Gabriel Caldeira — De São Paulo
22/06/2023 05h01 Atualizado há 4 horas
O presidente do Federal Reserve (Fed), Jerome Powell, afirmou, em testemunho diante do Comitê de Serviços Financeiros da Câmara dos EUA, que apesar de ter mantido os juros inalterados na reunião da semana passada, quase todos os membros do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc) acreditam que novas altas de juros serão necessárias até o fim do ano para levar a inflação de volta para a meta de 2%.
Segundo Powell, os efeitos do aperto monetário feito pelo Fed – que já subiu os juros em cinco pontos percentuais desde o início do ano passado – começam a ser sentidos em setores mais sensíveis aos juros, mas que efeitos mais amplos serão sentidos no longo prazo, principalmente na inflação.
O presidente do Fed explicou ontem que, diante do efeito retardado do aperto monetário na economia e do potencial impacto do aperto de crédito, o Fomc achou prudente manter os juros inalterados na reunião da semana passada, para permitir que o comitê acesse mais dados e suas implicações para economia. Ele ressaltou que as decisões continuarão sendo tomadas de reunião a reunião, a partir de novas informações sobre mercado de trabalho e inflação.
Powell disse que a inflação vai demorar para voltar à meta de 2%, mas que “apesar de elevada, as expectativas de inflação de longo prazo parecem estar bem ancoradas”. O banqueiro lembrou que a economia está enfrentando condições mais apertadas de crédito para famílias e empresas, que deverão pesar na atividade econômica, contratações e inflação. “A extensão desses efeitos ainda é incerta”, disse.
Sabatinado pelos deputados, Powell afirmou que embora novas altas nos juros podem ser necessárias no futuro, o Fed não tem mais pressa na execução de mais aperto monetário. Powell disse também que a decisão de manter os juros inalterados na faixa de 5% a 5,25% na semana passada é “totalmente consistente” com o aumento nas projeções do BC para a taxa dos Fed funds ao fim do ano, a 5,6%. Segundo ele, no início do aperto monetário, um forte ritmo de altas era muito importante. “Agora não é mais”, afirmou. “Pode ser que subir mais os juros faça sentido, mas em ritmo mais moderado.”
Powell reiterou que o sistema bancário dos EUA é sólido. Mas alertou que a recente quebra de bancos regionais, como o Silicon Valley Bank (SVB), mostra a importância de práticas e regras de supervisão também para bancos menores. Ele ponderou, contudo, que a regulação dos bancos deve ser transparente, consistente, sem dificultar o modelo de negócio dessas instituições.
O banqueiro disse também que manter os juros inalterados na última reunião não significa “pausa” no ciclo. “Nunca usamos a palavra ‘pausa’ e eu não a usaria aqui hoje”, disse, reiterando que o ciclo de aperto monetário do Fed ainda não terminou.
Já o presidente da distrital do Federal Reserve de Atlanta, Raphael Bostic, defendeu ontem a continuidade da pausa no aperto monetário para dar tempo para que as altas já realizadas sejam transmitidas para a economia real.
“Deixar a política restritiva funcionar por um tempo é prudente, porque ela está em um intervalo realmente restritivo há menos de um ano e leva tempo para que as mudanças na política monetária influenciem significativamente a atividade econômica”, afirmou o executivo.
Fonte: Valor Econômico

