Analistas veem diminuição do risco do plano de expansão da companhia da família Moll
A joint-venture anunciada ontem à noite entre Rede D’Or e Atlântica Hospitais, da Bradesco Seguros, para a construção de novos hospitais, foi bem recebida pelo mercado. Entre analistas, prevaleceu a percepção de que o acordo vai diminuir o risco do plano de expansão da empresa da família Moll, um dos principais pontos de preocupação entre investidores.
Pelo acerto, a Atlântica se torna sócia de três hospitais que já estavam em construção pela Rede D’Or (um em Macaé, no Rio de Janeiro, e os outros dois no estado de São Paulo, em Guarulhos e Alphaville). A Rede D’Or, que será a operadora das unidades, terá 50,01%, enquanto a Atlântica, 49,99%. O investimento total previsto, de R$ 1,156 bilhão, será arcado proporcionalmente pelos sócios (com reembolso proporcional do que já foi investido pela Rede D’Or) — e as unidades incluídas no negócio serão batizadas de Atlântica D’Or.
O acordo envolve ainda a possibilidade de as duas companhias serem sócias em outros projetos de hospitais no interior de São Paulo que ainda não começaram a ser construídos, em Taubaté e Ribeirão Preto. Os ativos já foram oferecidos à Atlântica, mas o desenvolvimento ainda está em análise.
Desde que fez o seu IPO em 2020, a Rede D’Or tem sido uma das empresas de saúde mais agressivas na expansão, orgânica ou inorgânica. De lá para cá, o número de leitos totais saltou de 8,8 mil para 11,7 mil, e o de hospitais em operação subiu de 52 para 73 (70 próprios e três sob gestão).
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E a companhia segue ambiciosa para os próximos anos, com um plano até 2027 que envolve mais 6,6 mil leitos em expansão orgânica. No entanto, em um cenário de juros que seguem elevados, há receios entre investidores sobre a capacidade da empresa de seguir expandindo sem se alavancar exageradamente.
Basta lembrar que, quando a Selic voltou a subir durante a pandemia, a Rede D’Or foi uma das empresas que mais sofreram com o aumento das despesas financeiras. A companhia, contudo, tem buscado alternativas para se adaptar. No ano passado, por exemplo, anunciou que o plano de expansão passou por algumas postergações no curto prazo. A expectativa até 2027 seguiu praticamente a mesma, mas o número de projetos previstos até 2025 foi reduzido de 11 para sete.
Ao ter a Atlântica como sócia em alguns desses projetos, a Rede D’Or diminui os riscos, na avaliação de analistas. De todos os hospitais citados no acordo, só o de Ribeirão Preto já não estava previsto no plano de expansão da Rede D’Or, notou o BTG Pactual.
“O anúncio, muito positivo em nossa opinião, endereça um das principais resistências comumente levantadas por investidores baixistas, que sempre atribuíram riscos relevantes ao ambicioso plano da Rede D’Or para amadurecer seus ativos hospitalares”, escrevem os analistas Samuel Alves e Yan Cesquim, do BTG. “Do lado do Bradesco, também vemos o movimento como agregador, já que o Bradesco ficará rapidamente mais exposto ao negócio hospitalar ao custo do valor contábil.”
O Goldman Sachs ressaltou ainda que os três hospitais em construção incluídos no acordo devem ser entregues já em 2024 e que a soma dos leitos dos três (620) representa 44% dos leitos de todos os projetos greenfield da Rede D’Or com previsão de entrega entre 2024 e 2027. “É uma JV que deve aliviar a queima de caixa da Rede D’Or em um cenário macro de juros restritivos”, afirmam os analistas Gustavo Miele e Emerson Vieira, do Goldman.
Ao ter como sócia uma empresa ligada à Bradesco Seguros, a Rede D’Or também sinaliza uma melhor relação com um dos principais players de planos de saúde do país. No mercado, desde que a Rede D’Or comprou a SulAmérica no início de 2022, investidores passaram a alimentar preocupações sobre uma piora no relacionamento com a Bradesco Seguros.
“Acreditamos que o acordo é uma jogada vencedora que irá de forma relevante reduzir o risco da agenda greenfield da Rede D’Or, garantindo o credenciamento de seus dois maiores clientes — Bradesco Seguros e SulAmérica — em alguns de seus maiores projetos, mesmo considerando que os lucros desses ativos serão divididos com o Bradesco”, diz o BTG.
Os analistas do Citi ainda destacaram que o anúncio mostra força e protagonismo da Rede D’Or em um setor que tem sofrido com alta alavancagem — casos de Dasa e Kora Saúde. A Dasa, inclusive, tem conversado com investidores financeiros e estratégicos em busca de capital.
Por volta das 13h, a ação da Rede D’Or anotava valorização de 2%, a R$ 30,11, depois de ter subido quase 3% no início do pregão. Já o papel da Dasa caía 2,79%, a R$ 4,18.
Fonte: Pipeline Valor