Consultores estimam que o valor da rede adquirida gire em torno de R$ 1,5 bilhão a R$ 2 bilhões, mas como a Plurix adquiriu o controle, o desembolso foi menor
PorAdriana Mattos — De São Paulo
O fundo de investimentos do Pátria, focado em varejo alimentar, fechou a sua maior aquisição desde que foi formado, em 2019, com a compra do controle da rede Amigão (antiga Companhia Sulamericana de Distribuição), vice-líder no segmento de supermercados do Paraná. A operação foi feita pela empresa Plurix, que recebe os investimentos do Fundo Pátria Private Equity VI.
Consultores ouvidos ontem estimam que o valor da rede adquirida gire em torno de R$ 1,5 bilhão a R$ 2 bilhões, mas como a Plurix adquiriu o controle, o desembolso foi menor. A negociação envolveu as dívidas da varejista. A empresa não informa a participação comprada (apenas que ficou acima de 51%) e o valor envolvido. O escritório Pinheiro Neto assessorou a empresa.
Com a transação, a Plurix ganha peso maior num momento em que o mercado já chama a atenção para questões de governança e da gestão no negócio – vitais para não repetir erros que outros investidores enfrentaram em acordos entre fundos e varejistas.
Pelos cálculos do comando, a Plurix pode ficar na 9ª ou 10ª posição no ranking da Abras, a associação nacional do setor, a depender do avanço dos seus rivais diretos neste ano. Em três anos, a companhia movimenta metade do que o GPA, dono da rede Pão de Açúcar, vendeu em 2023. Ainda deve ficar na 3ª ou 4ª colocação entre as maiores supermercadistas do país.
A posição não leva em conta um segundo fundo que reúne a operação de atacado, que inclui a baiana Atakarejo, adquirida em outubro de 2023. A estratégia de investimentos é definida de forma separada para cada fundo, por isso o Pátria não considera as atividades somadas.
Se fosse considerar as atividades de varejo e atacado, juntas, os fundos estariam na sétima posição do ranking geral, calculou o Valor.
É a segunda transação de peso no setor alimentar em uma semana. O Grupo Mateus anunciou, no dia 29, um acordo para aquisição de fatia majoritária na rede Novo Atacarejo, de Pernambuco.
O Amigão tem 65 lojas nos estados de São Paulo, Paraná e Mato Grosso do Sul, e registrou faturamento bruto de R$ 4,3 bilhões no ano passado. Outras operações na região estão no radar, de varejistas menores, dentro da ideia de crescer elevando a alavancagem operacional, ou seja, ampliar a venda e diluir custos.
Desde o início da sua operação em 2021 até o momento, a Plurix fechou 12 aquisições no Brasil – equivale a uma a cada quatro meses. São seis marcas em atividade: Superpão, Boa Supermercados, Supermercados Avenida, Compre Mais, Empório Dom Olívio e Paraná Supermercados.
Ao mercado, a Plurix informa tratar-se de uma associação de negócios, assim como a outras transações já feitas pela companhia.
A movimentação reforça a tese de crescimento, muito em voga nesse mercado hoje, focada em redes regionais de supermercados. Estas empresas têm registrado expansão acima da média do mercado, apostando em lojas com grande metragem _ mas menor que a de hipermercados _, com relevante oferta de serviços e tentativa de oferecer melhor atendimento do que as grandes cadeias nacionais.
Dados obtidos pelo Valor, coletados pela NielsenIQ, mostram que, depois dos atacarejos e das farmácias, os supermercados foram os que mais cresceram no país entre abril e maio. Os hipermercados ainda aparecem na lanterna.
O foco do potencial de expansão da Plurix está em cidades do interior, atuando em redes em que a gestão do antigo dono seja mantida e preservada. E não há relevância no tamanho do negócio na decisão de investimento. “O que faz sentido para nós é uma operação com potencial de crescimento e qualidade na gestão”, diz Marcos Ambrosano, presidente do conselho de administração da Plurix.
Um dos aspectos de atenção do mercado está no modelo de gestão desse tipo de investimento.
No passado, empresas como a BR Pharma, do setor de drogarias, quebrou depois de comprar negócios locais e mantê-los autônomos. Conflitos entre acionistas das empresas compradas aceleraram a crise interna. O Walmart fez o mesmo no país, comprando operações que, sem integração de estruturas e sistemas, acabou criando um grande grupo de negócios isolados, que não se conversavam até a saída dos americanos do país.
Pedro Faria, sócio e líder de investimentos do Pátria, disse que, ao manter na linha de frente dos negócios os sócios das empresas, na maioria das vezes fundadores ou das gerações posteriores, a empresa reduz eventuais riscos porque eles conhecem o consumidor local. Além disso, Faria entende que o fato de ter um time principal “tarimbado”, liderado na Plurix por Jorge Faiçal (ex-GPA e ex-Carrefour) faz a diferença nesse tipo de modelo de investimento.
No passado, entre os erros admitidos por fundos e investidores – não só em farmácia, mas também no varejo de moda – foi colocar na linha de frente executivos fora do comércio varejista.
A Plurix diz que mantém a autonomia das decisões de cada gestor, mas gera ganhos de escala com as compras integradas junto à indústria. “O problema é que, muitas vezes, os fundos entram como minoritários, e aí não funciona. Ou então a governança não é bem alinhada internamente”, diz Faiçal.
“Nós damos aos gestores autonomia tática. Temos cinco diretores comerciais regionais, mas as negociações estratégicas são centralizadas, como, por exemplo, as compras sazonais do comércio.”
Fonte: Valor Econômico