Por Catherine de Beaurepaire, Nikkei — Bruxelas
20/06/2023 10h00 Atualizado há um dia
A Comissão Europeia (CE) expôs nesta terça-feira (20) uma estratégia “de eliminação de risco” que visa desenvolver uma economia resiliente, menos dependente da China em tecnologias essenciais. A formulação do plano ocorre num momento em que os países-membros da União Europeia (UE) continuam divididos em torno da melhor forma de abordar as relações com Pequim.
A proposta da CE — o braço executivo da UE — visa aumentar o monitoramento dos investimentos externos diretos, controlar as exportações para rechaçar a “coerção econômica” e enfrentar os riscos apresentados por setores dotados de aplicações militares, como computação quântica, semicondutores avançados e inteligência artificial (IA). Embora a estratégia não mencione nominalmente a China, seu linguajar reflete críticas frequentemente dirigidas a Pequim por Europa, EUA e outros.
A proposta acrescenta novos detalhes a uma estratégia originalmente traçada pela presidente da CE, Ursula von der Leyen, no dia 30 de março. A Europa tem de ser “perspicaz diante de um mundo que se tornou mais concorrido e geopolítico”, disse Von der Leyen ontem. “A questão da segurança econômica se tornou uma prioridade para nós e para muitos dos nossos parceiros. E hoje a Europa se torna a primeira economia relevante a preparar uma estratégia de segurança econômica.”
Mas há sinais de que os países-membros da UE não estão unidos em suas visões sobre a China.
Berlim está recebendo atualmente o premiê da China, Li Qiang, que manteve negociações ontem com o chanceler alemão Olaf Scholz. O líder alemão teria dito, segundo a Reuters, que “o diálogo direto, as conversas pessoais, a discussão verdadeira” com a China é importante, enquanto Li disse que Pequim espera conduzir os laços bilaterais “a um novo nível”.
A China é a maior parceira comercial da Alemanha. Berlim computou um déficit comercial de 80 bilhões com o país, o maior valor desde 1990. Sabe-se que ambos os países assinaram mais de 10 acordos durante a visita de Li, em campos como produção industrial avançada e proteção ambiental.
Além disso, Li participará de uma cúpula de financiamento climático em Paris quinta e sexta-feira, e deverá se reunir com o presidente da França, Emmanuel Macron, que deu indícios de querer que França e Europa aprofundem os laços com a China.
Após a visita de três dias à China em abril, ele disse que a França não deveria seguir o exemplo dos EUA de reagir às políticas de Pequim no Estreito de Taiwan e não é do interesse da Europa se “envolver em crises que não são nossas”.
A Itália, porém, adota um enfoque mais cauteloso. Na segunda-feira, o governo italiano proibiu que a maior acionista da Pirelli, a chinesa Sinochem, nomeie o CEO ou fixe a estratégia da fabricante de pneus, com base em preocupações com a influência chinesa.
A nova estratégia da CE prevê que os países-membros da UE estudem novos controles sobre as exportações de equipamentos que possam ter usos civis e militares e enrijeçam o monitoramento dos investimentos. Mas Alicia García Herrero, pesquisadora-visitante-sênior do instituto de análise e pesquisa Bruegel, de Bruxelas, disse à Nikkei Asia que “não há consenso” em torno desses planos.
A estratégia será discutida pelos 27 chefes de Estado da UE, e pelos parlamentares, nos dias 29 e 30 deste mês. Prevê-se que eles farão uma análise de risco sobre os principais desafios com que a UE se defronta, entre os quais a resiliência das cadeias de suprimentos e os riscos à infraestrutura essencial.
Fonte: Valor Econômico

