12/10/2022
A persistência da Guerra da Ucrânia e suas consequências diretas, como a crise energética, o aumento no custo de vida e a desaceleração das maiores economias do mundo, devem segurar o crescimento global até o ano que vem, segundo relatório do FMI publicado nesta terça (11).
A previsão do FMI é que o mundo cresça em média 3,2% neste ano e 2,7% no ano que vem ?um corte de 0,2 ponto em relação à previsão anterior feita pelo órgão, com chance de o crescimento ficar abaixo de 2% em 2023. O economista francês Pierre-Olivier Gourinchas, economista-chefe do FMI, sintetiza: ?Em resumo, o pior ainda está por vir, e, para muita gente, 2023 parecerá uma recessão?.
Segundo o relatório, um terço dos países deve ver sua economia contrair neste ano ou no próximo, em meio ao aumento constante dos preços e ao encolhimento da renda das famílias. Entre as principais causas da desaceleração global, estão as vacilantes economias dos Estados Unidos, China e União Europeia, aponta o Fundo.
Nos EUA, a alta de juros para conter a inflação acelerada (que deve fechar 2022 a 8,1% no índice anual, prevê o Funmercados do) deve segurar o crescimento do PIB a 1% no ano que vem, segundo o relatório. Já a China deve crescer 3,2% neste ano e 4,4% em 2023, muito abaixo dos níveis vistos pré-pandemia, antes de 2020, em meio ao enfraquecimento do setor imobiliário, que representa um quinto da atividade econômica chinesa, e à continuidade da política de lockdown para conter o vírus, aponta o Fundo.
Os países da zona do euro, por sua vez, devem ter o menor crescimento entre nações desenvolvidas, com apenas 0,5% de crescimento do PIB do bloco em 2023, segundo o FMI, e tem como principal causa a crise energética ?a Guerra na Ucrânia fez o preço do gás quadruplicar na Europa, com a redução da oferta pela Rússia. ?A invasão Russa à Ucrânia continua a desestabilizar de forma poderosa a economia global.
Além da escalada e da destruição sem sentido de vidas e de comunidades, levou a uma crise severa de energia na Europa e está aumentando drasticamente os custos de vida e dificultando a atividade econômica?, segundo Gourinchas. A guerra também tem pressionado o aumento no preço dos alimentos no mundo todo, com a dificuldade de exportação de grãos, afetando sobretudo países de baixa renda.
A inflação está mais disseminada que as projeções anteriores, afirma o órgão, mas a boa notícia é que deve atingir um pico neste ano, com 9,5% no acumulado anual, antes de começar a desacelerar até um patamar de 4,1% em 2024, projeta o FMI. O aumento desenfreado de preços é a ameaça mais imediata à economia global, ao espremer a renda e minar a estabilidade macroeconômica, mas a ação dos bancos centrais deve ser bem calculada, aponta o relatório.
Uma ação mais branda pode fazer a inflação avançar mais, erodindo a credibilidade dos bancos centrais e aumentando a expectativa de inflação. Já uma ação mais agressiva do que o necessário, com aumento exagerado das taxas de juros, por exemplo, empurra as economias para uma recessão desnecessariamente severa, segundo o FMI, o que acaba por afetar também os financeiros.
O relatório foi divulgado em meio às reuniões anuais do FMI e do Banco Mundial, que ocorrem durante toda a semana na capital dos Estados Unidos, Washington, com políticos e economistas de todo o mundo. É a primeira vez que as reuniões acontecem de forma completamente presencial desde 2020, com a eclosão da pandemia da Covid-19. País deve apresentar nome para a presidência do BID.
O Brasil deve apresentar um nome para ocupar a presidência do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) dentro das próximas duas semanas, disse nesta terça (11) o ministro da economia, Paulo Guedes. Se aprovado, o indicado será o primeiro brasileiro no cargo e ficará no lugar de Mauricio Claver-Carone, presidente que foi destituído por unanimidade no fim de setembro, acusado de manter um relacionamento íntimo com um membro de sua equipe.
Após o afastamento, Claver-Carone acusou nominalmente Guedes de ter ameaçado colocar o Brasil contra ele caso não cedesse cargos na instituição. ?O Brasil queria posições na vice-presidência. Se eu não nomeasse pessoas específicas, seriam contra. Votei contra, porque francamente não eram pessoas qualificadas para essas posições, e me declararam guerra?, disse em entrevista no mês passado.
Guedes rebateu as acusações. Negou ter pedido cargos e afirmou que ?qualquer nome que tenha indicado seria mais qualificado que ele?. Claver-Carone era diretor sênior do Conselho de Segurança Nacional dos EUA quando foi indicado ao cargo de chefe do BID pelo então presidente Donald Trump, em 2020.
Na ocasião, o Brasil tinha o incentivo de outros países do continente para apresentar uma candidatura, e levantouse o nome de Marcos Troyjo (hoje presidente do Novo Banco de Desenvolvimento) e do banqueiro Rodrigo Xavier, apoiados por Paulo Guedes.
O governo brasileiro, no entanto, desistiu de indicar alguém ao posto após Trump pedir diretamente ao presidente Jair Bolsonaro apoio ao americano ?no que foi visto à época como uma derrota de Guedes pelo Itamaraty, então comandado por Ernesto Araújo.
A Colômbia também apoiou a indicação de Trump, em um bloco de presidentes alinhados à direita. A chegada de Claver-Carona ao poder, que tinha oposição de Argentina e México, quebrou uma tradição de seis décadas em que a instituição foi chefiada por um latinoamericano.
Fonte: Folha de S.Paulo

