Por Gabriel Shinohara, Valor — Brasília
08/04/2024 15h44 Atualizado há 12 horas
O diretor de Assuntos Internacionais e de Gestão de Riscos Corporativos do Banco Central (BC), Paulo Picchetti, afirmou hoje que a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 65/23, que trata da autonomia orçamentária e financeira da instituição, alinharia o Brasil às melhores práticas internacionais.
Segundo Picchetti, existe evidência teórica de que os bancos centrais que melhor cumprem seus mandatos de garantir poder de compra da moeda e estabilidade financeira têm autonomia operacional, “como é o caso do Brasil”. O diretor destaca que dentre estes, “mais de 90% têm autonomia de gestão financeira também”.
O diretor afirmou que esse é um projeto de Estado e não de governo, “colocar o Banco Central para cumprir sua função da melhor forma possível”. Picchetti também afirmou que isso não significa que, uma vez com essa autonomia, o BC “possa fazer o que quiser” já que, pela proposta, continuaria vinculado ao Conselho Monetário Nacional (CMN) para definição de “vários objetivos estratégicos”.
“Não é uma carta em branco para o Banco Central fazer o que quiser. É uma coisa que só possibilita ele fazer o que tem que fazer da melhor forma possível”, disse.
Picchetti foi indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e tomou posse no início deste ano. Ele falou sobre o tema ao ser perguntado durante a LiveBC sobre gestão de reservas internacionais. Sobre reservas, o diretor ressaltou que a gestão é feita por um corpo técnico especializado e dedicado e que o aprimoramento dessa formação “junto a vários outros projetos do banco” tem sido impactado pelas restrições de Orçamento da União.
Reservas internacionais
Durante a live, Picchetti também afirmou que a rentabilidade das reservas internacionais do país está em linha com outros países que tem uma política semelhante. A rentabilidade em 2023 foi de 5,11%.
Picchetti comentava os resultados do Relatório de Gestão das Reservas Internacionais publicado pelo BC no fim de março. O diretor explicou que o retorno das reservas vem da variação das moedas em relação ao real e da rentabilidade que elas têm no exterior pelas aplicações feitas pelo BC. “O que a gente olha é o resultado conjunto desses dois fatores em diferentes momentos do tempo”, disse.
O diretor comentou a composição das reservas, que em 2023 estava em: 79,99% em dólar norte-americano, 5,24% em euro, 4,80% em renminbi, 3,58% em libra esterlina, 2,60% em ouro, 1,80% em iene, 1,01% em dólar canadense e 0,9% em dólar australiano.
Segundo Picchetti, as barras de ouro do BC estão guardadas fora do país. “O Brasil não compra ouro aqui dentro, não compra ouro de procedências duvidosas, garimpos ilegais. Ele transaciona essa quantidade de ouro físico que está fora em um lugar seguro junto com ouro de diversos países”, disse.
O diretor ressaltou que os critérios para a gestão de reservas são a segurança, liquidez e rentabilidade, “nessa ordem hierárquica”. Picchetti ainda comentou que os títulos verdes estão dentro do portfólio de aplicações que são considerados.
Segundo o diretor, são os títulos verdes interessantes porque podem ter incentivos que podem dar uma rentabilidade e porque são lastreados em recursos soberanos de países. “Também cumprem um papel no que é hoje essa agenda mais ampla do Banco Central do Brasil de olhar para outras dimensões complementares de estabilidade financeira que envolve também agenda verde”, disse.
Durante a live, o diretor foi questionado se haveria previsão de investimento em Bitcoin na gestão das reservas. Picchetti negou e explicou não caberia dentro da política de risco e retorno que coloca o BC como um investidor conservador. “Certamente o Bitcoin não entra na cesta de aplicações pelo desempenho histórico de volatilidade que a gente sabe que ele tem”, disse.
“Essa autonomia tem o potencial de melhorar a gestão das reservas do país, à medida em que vai ter condições para os nossos técnicos continuarem se aperfeiçoando e prestarem serviço de alto nível”, disse.
O diretor também ressaltou que não há “risco nenhum” do Banco Central “buscar interesses na administração das reservas que não sejam os melhores interesses do país”.
Fonte: Valor Econômico

