O crescimento nominal abaixo do esperado do Produto Interno Bruto (PIB) de 2024, divulgado na sexta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), deve pressionar a dívida pública para cima em aproximadamente 0,4 ponto percentual, nos cálculos de economistas ouvidos pelo Valor.
“O cenário fiscal já era bastante desafiador antes de conhecermos essa estatística”, diz Fábio Serrano, economista do BTG Pactual. “É apenas mais um fator pressionando as projeções.”
Conforme publicado na sexta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o PIB cresceu, já descontada a inflação, 3,4% no ano passado. Já o deflator, uma espécie de índice de inflação que reajusta os valores do produto, teve alta de 3,8%. Com isso, o PIB nominal encerrou o ano passado em R$ 11,475 trilhões – aproximadamente 0,5% abaixo dos R$ 11,8 trilhões usados pelo Banco Central (BC) para calcular a dívida bruta do governo geral (DGBB) no fim do ano passado. Por causa das diferentes frequências de divulgação da dívida pública (mensal, pelo BC) e do PIB (trimestral, pelo IBGE), a autoridade monetária usa uma espécie de proxy para projetar o PIB nominal. Com isso, o BC calculava que a DBGG, principal indicador do estoque da dívida pública, terminou 2024 em 76,1%, sempre em relação ao PIB. Mas, de acordo com a divulgação oficial do IBGE, a tendência é que a autoridade monetária revise a DBGG para 76,5%.
“O deflator foi a principal surpresa”, diz Serrano, lembrando que os 3,8% do indicador são um número menor do que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) do ano passado, que ficou em 4,83%.
Economista-chefe do Banco Inter, Rafaela Vitoria afirma que “o baixo deflator reflete a inflação média ao produtor mais baixa na maior parte do ano”.
“A desvalorização cambial só acelerou no fim do ano e ainda não fez impacto no deflator”, diz. “Além disso, parte da inflação ao consumidor foi decorrente de aumento de impostos.”
A tendência é que a incorporação dessas informações nos cálculos da DBGG pelo BC seja feita apenas na divulgação de estatísticas fiscais referente a fevereiro. Caso o número se confirme, a DBGG terá subido 4,9 pontos percentuais desde o início do terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). No ano passado, sem levar em conta o impacto do deflator mais baixo do que o esperado, a alta foi de 2,2 pontos percentuais. O principal fator altista, de acordo com a autoridade monetária, foi a incorporação de juros nominais, que pressionou a dívida pública para cima em 7,5 pontos percentuais ao longo de 2024. Desde julho do ano passado, o Comitê de Política Monetária (Copom) elevou a taxa básica de juros de 10,5% para 13,25% sempre em termos anuais.
Fonte: Valor Econômico

