Com a taxa básica de juros no maior patamar em quase 20 anos, a economia brasileira desacelerou. No terceiro trimestre, o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 0,1% na comparação com os três meses anteriores. O número foi divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quinta-feira, 4.
O resultado do PIB ficou dentro do esperado pelos analistas ouvidos pelo Projeções Broadcast, cujo intervalo variava de queda de 0,5% a alta de 0,4%. Mas veio abaixo da mediana das previsões, que era de recuo de 0,2%.
Na comparação com o mesmo trimestre de 2024, o PIB avançou 1,8%.
“Com os dados do terceiro trimestre, vemos sinais claros de que a economia está desacelerando”, afirma Felipe Salles, economista-chefe do C6 Bank.
Como em anos anteriores, a economia brasileira tem mostrado mais força no primeiro semestre, por causa do bom desempenho da agropecuária e por estímulos fiscais, como o aumento real do salário mínimo e a antecipação do pagamento do 13º para aposentados.
Nesta quarta-feira, o IBGE também revisou os números do PIB de leituras anteriores. No primeiro trimestre, o crescimento de 1,3% passou para um avanço de 1,5%, e a alta de 0,4% do segundo trimestre foi reduzida para 0,3%.
Com a inflação acima da meta de 3%, o Comitê de Política Monetária (Copom) promoveu um duro aperto e levou a taxa básica de juros para 15% desde junho. Um dos motivos que ajuda a explicar a Selic elevada no Brasil tem a ver com a incerteza com o rumo da política fiscal, o que amplia a percepção de risco dos investidores com o País e faz com que eles exijam um retorno maior para aplicar seus recursos na economia brasileira.
“É uma economia que ainda está em lenta desaceleração, mas com múltiplos pontos de resiliência”, diz Natalie Victal, economista-chefe da SulAmérica Investimentos.
Do lado da oferta, houve um crescimento generalizado na comparação com o segundo trimestre. A alta no setor de serviços e indústria foi de 0,1% e 0,8%, respectivamente. A agropecuária subiu 0,4%
Pelo lado da demanda, o consumo das famílias e do governo avançaram 0,1% e 1,3%, respectivamente. Os investimentos cresceram (0,9%), assim como as exportações (3,3%) e importações (0,3%).
O que esperar daqui em diante?
No último relatório Focus, divulgado na segunda-feira, 1º, pelo Banco Central, os analistas projetam que o PIB deste ano deve crescer 1,78%. Para 2026, a expectativa é de um crescimento parecido, por ora, com um crescimento um pouco abaixo de 2%.
“O resultado do terceiro trimestre não significa que a economia esteja estagnando”, afirma Salles, do C6 Bank. “Temos de filtra para ver a tendência e o que ela mostra é uma economia que crescia acima de 3% e deve passar a crescer entre 1,5% e 2%.”
Nos próximos meses, a economia deve ser ajudada por uma séries de estímulos adotados pelo governo. São várias as medidas, como o Programa Reforma Casa Brasil, voltado para a classe média, com crédito habitacional destinado à solução de problemas estruturais e ampliações de residências; o Gás do Povo; e a isenção do Imposto de Renda para os trabalhadores que ganham até R$ 5 mil, que vai começar a valer no ano que vem.
“O primeiro semestre foi forte fiscalmente. Não vimos uma aceleração desse impulso fiscal no terceiro trimestre, mas ele deve começar a acontecer no quarto trimestre”, afirma Natalie.
Fonte: Estadão

