O Produto Interno Bruto (PIB) da Argentina recuou no segundo trimestre em relação aos três primeiros meses do ano, confirmando uma desaceleração já prevista da economia em meio ao baixo consumo. O resultado aumenta a pressão sobre o presidente Javier Milei, que tenta conter o descontentamento com sua agenda econômica às vésperas das eleições para o Congresso em outubro.
A economia argentina encolheu 0,1% entre abril e junho, a primeira queda trimestral em um ano, segundo dados divulgados nesta quarta-feira (17) pelo Instituto Nacional de Estatística e Censos (Indec). Em relação ao segundo trimestre de 2024, o PIB avançou 6,3%, em parte devido a um efeito estatístico causado por uma baixa base de comparação, já que a economia havia recuado 1,1% no período.
O dado do PIB representa mais um revés para Milei, que recentemente viu seu partido sofrer uma derrota expressiva na eleição provincial em Buenos Aires, ampliando as dificuldades para a votação nacional de 26 de outubro. O pleito é considerado crucial para que o presidente consiga ampliar sua base no Congresso, atualmente dominado pela oposição.
A queda de popularidade do governo, refletida nas urnas, decorre da percepção de que, embora a inflação tenha desacelerado, as políticas econômicas de Milei ainda não trouxeram benefícios concretos para a população, como recuperação dos salários, redução do desemprego e aumento do consumo.
Esse quadro ficou evidente nos dados do último trimestre, marcado pela retração de 1,1% no consumo em relação ao período anterior, reflexo da perda do poder de compra dos salários ajustados pela inflação, que voltaram ao território negativo no início do ano. O desemprego, por sua vez, já havia alcançado no primeiro trimestre o maior patamar em quase quatro anos.
“A premissa do governo de conter a inflação, garantir o equilíbrio fiscal e segurar o dólar parece cada vez mais difícil de cumprir”, afirmou Alejandro Stivaktas, gerente de assuntos públicos na LLYC Argentina.
“Desde o início de julho, vêm se evidenciando alguns tropeços na política econômica, com vencimentos de dívida em pesos que não puderam ser totalmente refinanciados e geraram um excesso de pesos na economia, que o Banco Central buscou cobrir aumentando os depósitos compulsórios e as taxas de juros, o que, por sua vez, gerou um resfriamento ainda maior da economia”, acrescentou.
Enquanto isso, as exportações também recuaram 2,2% e o investimento caiu 0,5% no segundo trimestre. Paralelamente, os gastos públicos cresceram 1,1%, segundo os dados do Indec.
O resultado econômico veio em linha com o esperado pelos analistas, tendo em vista que a economia deixou de crescer há alguns meses, em meio a altas taxas de juros, apreciação real do peso e crescente incerteza política no contexto eleitoral — agravada ainda por um escândalo de corrupção envolvendo Karina Milei, irmã do presidente.
Segundo Nicolás Alonzo, analista da consultoria Orlando J. Ferreres & Asociados, o cenário deve seguir negativo nos próximos meses, o que torna pouco crível a meta do governo de encerrar o ano com expansão de 5,4% do PIB, conforme previsto no projeto de orçamento para 2026.
“Seria preciso crescer 0,8% ao mês para chegar nesta meta no final do ano, um ritmo bastante difícil”, afirma Alonzo.
A deterioração econômica se soma a um ambiente político cada vez mais desafiador para Milei. Nesta quarta-feira, milhares de argentinos foram às ruas protestar contra cortes de recursos para universidades públicas e hospitais pediátricos. Sob pressão das manifestações, a Câmara dos Deputados derrubou vetos presidenciais a leis que ampliavam o financiamento nessas áreas, em mais um revés para o governo.
A incerteza sobre a capacidade de Milei sustentar seu programa econômico após as eleições tem alimentado a volatilidade nos mercados nas últimas semanas. Nesta quarta-fera, o dólar fechou a 1474,50 pesos, acima do teto da banda cambial, fixada em 1474,40 pesos hoje, o que levou o Banco Central a intervir com a venda de US$ 53 milhões.
Esta foi a primeira intervenção direta da autoridade monetária desde abril, quando Milei fechou um acordo de US$ 20 bilhões com o Fundo Monetário Internacional (FMI) e concordou com um esquema para permitir a flutuação do peso dentro de uma faixa estabelecida, com interferências autorizadas apenas se a moeda ultrapassar os limites da banda.
Fonte: Valor Econômico

