Por David Uberti e Bob Henderson — Dow Jones Newswires
27/02/2023 05h02 Atualizado há 4 horas
A guerra na Ucrânia ressalta a volta do petróleo como fonte de influência financeira e poder geopolítico dos Estados Unidos.
À medida que o Ocidente passou a rejeitar a maior parte da energia russa e começou uma campanha de pressão contra as receitas do petróleo do Kremlin, as exportações recordes do produto dos EUA ajudaram a suprir a demanda europeia para produzir gasolina, diesel e para a aviação.
Desde fevereiro de 2022, quando a Rússia invadiu a Ucrânia, a média mensal de cargas enviadas para o continente por via marítima saltou 38%, em comparação com o período anterior de 12 meses, de acordo com a empresa de monitoramento de navios Kpler. Uma frota de petroleiros do tamanho de arranha-céus transportou mais petróleo para a Alemanha, a França e a Itália – maiores economias da União Europeia -, assim como para a Espanha, que sozinha elevou suas compras em cerca de 88% no período.
O aumento dos carregamentos de petróleo do Golfo do México para a Europa, que a Kpler estimou em 1,53 milhão de barris por dia em janeiro, levou o continente a superar a Ásia como destino do petróleo dos EUA nos últimos meses.
O comércio é um reflexo de como os EUA recuperaram a influência na área energética no cenário mundial. Suas exportações de petróleo sustentaram os países aliados durante as duas guerras mundiais, mas depois disso o declínio na produção reduziu essa influência sobre os mercados mundiais.
Hoje, as consequências da guerra sublinham como o boom do xisto reconstruiu a alavancagem energética dos EUA nos últimos 15 anos. Inovações nas técnicas de fraturamento hidráulico e perfuração horizontal de poços que extraíram grandes volumes de combustíveis fósseis reformularam o comércio de energia e os preços à imagem dos campos de xisto do oeste do Texas e de outras regiões.
As remessas de gás natural dos EUA para a Europa mais do que dobraram no ano passado, segundo a Casa Branca, e protegeram as famílias e os fabricantes do continente do impacto do corte de fornecimento pela Rússia. Para analistas, o aumento da produção de petróleo dos EUA ajudou a acalmar os mercados nos últimos meses, à medida que o Ocidente restringia a maioria das exportações russas com a imposição de embargos e tetos de preços inéditos.
“Os EUA estão de volta e na posição mais predominante que já tiveram na energia mundial desde os anos 1950”, disse Daniel Yergin, historiador da área de energia e vice-presidente da S&P Global. “Hoje a energia dos EUA se tornou um dos alicerces da segurança energética europeia.”
No caso do petróleo, a diferença de preço crescente entre o petróleo europeu e o americano transformou os embarques transatlânticos em uma opção lucrativa para os comerciantes do setor e, cada vez mais, para os especuladores.
A produção dos campos de petróleo do Mar do Norte, entre o Reino Unido e a Noruega, está em queda há tempos, o que sustenta o preço do petróleo tipo Brent, a referência usada na Europa. Ao mesmo tempo, as petrolíferas dos EUA produziram quase um recorde em 2022, 11,9 milhões de barris/dia, de acordo com a Energy Information Administration, que prevê altas históricas para 2023 e 2024.
Isso tem enfraquecido o preço do petróleo tipo West Texas Intermediate (WTI), o padrão dos EUA, e ampliado a diferença entre ele e o Brent, segundo Gus Vasquez, chefe da área de preços do petróleo na América da empresa de relatórios de preços Argus Media.
Antes da guerra na Ucrânia, os comerciantes de petróleo costumavam considerar um desconto de US$ 3 ou US$ 4 no WTI com relação ao Brent como suficiente para cobrir os custos do transporte para a Europa e outros. Esse spread disparou depois da invasão russa e em alguns momentos superou os US$ 10 por barril.
Na sexta-feira, os contratos do petróleo Brent a serem entregues em abril estavam acima dos do WTI em US$ 6,84 por barril.
“No transporte marítimo, quanto maior a carga, melhor”, disse Sean Strawbridge, executivo-chefe do Porto de Corpus Christi, ressaltando a conjuntura favorável ao petróleo produzido nos EUA.
“Os EUA continuarão a produzir petróleo em grandes quantidades daqui para a frente”, disse Gregory Brew, analista de energia do Eurasia Group. “A grande questão é: o que a Europa vai decidir?”
Fonte: Valor Econômico

