A disparada de mais de 5% nos preços de petróleo no mercado internacional ontem elevou os ganhos de ações de energia, com destaque para óleo e gás, o que ajudou a puxar a alta do Ibovespa e dos principais índices em Wall Street. Moedas mais sensíveis aos preços do óleo bruto, como o real, também se destacaram em relação ao dólar.
Em uma tentativa de pressionar a Rússia para um cessar-fogo na Ucrânia, os EUA anunciaram sanções às duas maiores empresas de petróleo russas, Rosneft e Lukoil. A notícia teve reflexo também sobre o mercado de Treasuries, com os rendimentos dos títulos interrompendo a trajetória de queda dos últimos dias. No fim do dia, as taxas do título de dois anos subiam a 3,499%, de 3,451% na véspera, e as do papel de dez anos iam a 4,006%, ante 3,951% na última sessão.
Medidas semelhantes foram anunciadas pela União Europeia (UE) e pelo Reino Unido, o que ajudou a ampliar os ganhos da commodity no pregão. No fechamento, o petróleo tipo Brent (referência mundial) com vencimento em dezembro subiu 5,43%, para US$ 65,99 por barril. Já o WTI (referência americana) com entrega para o mesmo mês avançou 5,62%, para US$ 61,79 por barril.
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O movimento na commodity foi intenso porque as empresas Rosneft e Lukoil correspondem a quase 50% das exportações russas de petróleo, totalizando mais de 5 milhões de barris de óleo por dia (bpd). Apesar da importância de ambas para a cadeia, analistas do Citi acreditam que o prêmio de risco geopolítico nos preços da commodity tende a se dissipar, com a perspectiva de um excedente de oferta se sobrepondo às tensões.
“Uma nova produção de petróleo deve entrar em operação. Além disso, projetos existentes estão sendo revisados para cima. A estimativa preliminar da oferta global aponta para mais de 10,2 bilhões de barris, cerca de 300 milhões de barris acima do nível de um ano atrás”, estima a equipe do Citi.
Por outro lado, James Reilly, economista sênior da Capital Markets, acredita que as sanções americanas podem ser suficientes para levar o mercado global de petróleo a um déficit. Ainda assim, ele afirma que isso vai depender de quanto tempo as restrições vão permanecer em vigor, e de qual será o grau de eficácia da medida com os países do Oriente Médio aumentando a produção da commodity.
O avanço significativo nos preços de petróleo teve efeito direto sobre as ações da PetrobrasCotação de Petrobras. As PN da petroleira subiram 1,14%, ao passo que as ON da estatal ganharam 0,72%, ampliando o avanço registrado na sessão anterior.
Embora os dois últimos dias tenham sido positivos para os papéis da PetrobrasCotação de Petrobras, a redução recente no preço da gasolina diminuiu ainda mais o prêmio de risco da ação, observa o líder da mesa de operações de renda variável da Warren Investimentos, Ricardo Maluf.
“A defasagem no preço da gasolina, que estava em torno de 10% antes do ajuste da PetrobrasCotação de Petrobras, caiu para perto de zero, segundo nossos cálculos. A empresa aproveitou um momento em que vendeu petróleo acima do preço de mercado, no trimestre, e agora boa parte desse ‘gap’ [espaço] está sendo fechado com a alta de cerca de 5% do petróleo”, avalia Maluf.
Para o profissional, o efeito positivo da alta do petróleo sobre a estatal tende a se dissipar, o que deve reduzir o potencial de pagamento de dividendos extraordinários. Por isso, a perspectiva para o papel não é favorável, na visão da casa.
O avanço das ações da PetrobrasCotação de Petrobras ajudou a impulsionar o Ibovespa, que encerrou com alta de 0,59%, aos 145.721 pontos. O desempenho do índice também foi ajudado pelo dia mais favorável no exterior. Em Nova York, o Nasdaq subiu 0,89%; o S&P 500 avançou 0,58%; e o Dow Jones teve ganho de 0,31%.
Já o dólar no exterior rondou a estabilidade. No fim da sessão, o índice DXY, que mede o desempenho da moeda americana frente a uma cesta de outras divisas fortes, operava estável, aos 98,93 pontos.
Enquanto isso, no Brasil, o dólar à vista cedeu 0,20%, a R$ 5,3860. Luis Ferreira, chefe de investimentos (CIO) do EFG International para Américas, avalia que a moeda americana está passando por um ciclo de desvalorização global que pode se estender por anos, mas pondera que o real pode não se beneficiar tanto dessa onda positiva.
Ferreira avalia que o fluxo de dólares proveniente das commodities deve perder robustez. “Dos índices de commodities, os de agricultura e de energia perderam força neste ano, enquanto o índice de commodities industriais avançou, ainda que puxado pelo ouro. Isso quer dizer que, de três fatores importantes para a balança comercial, dois deles estão perdendo valor”, diz. “Por isso, vemos o dólar mais perto de R$ 5,60 e R$ 5,50 até o início das eleições em 2026.”
Já os juros futuros cederam. A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2027 caiu de 13,885%, do ajuste anterior, a 13,865%; a do DI de janeiro de 2029 recuou de 13,15% a 13,12%; e a do DI de janeiro de 2031, de 13,43% para 13,405%.
Fonte: Valor Econômico

