Por Rodrigo Carro e Mariana Ribeiro — Do Rio e São Paulo
15/05/2023 05h00 Atualizado há 4 horas
A Petrobras confirmou ontem, em comunicado ao mercado, que discute internamente alterações nas políticas de preços para o diesel e a gasolina. Sem dar detalhes sobre a nova fórmula a ser aplicada, a petroleira afirmou que as mudanças serão analisadas pela diretoria-executiva da companhia no começo da semana e poderão resultar em uma nova estratégia comercial para a definição de preços dos combustíveis.
“Nesse sentido, a companhia esclarece que eventuais mudanças estarão pautadas em estudos técnicos, em observância às práticas de governança e os procedimentos internos aplicáveis. Fatos julgados relevantes sobre o tema serão tempestivamente divulgados ao mercado”, afirmou ainda a empresa no comunicado.
A discussão é acompanhada de perto por agentes do mercado, em meio à pressão do governo para que a estatal altere a atual política baseada nas cotações internacionais. Na sexta-feira (12), o presidente da empresa, Jean Paul Prates, disse que a companhia faria anúncios sobre a política de preços de combustíveis na próxima semana, mas sem especificar uma data.
Segundo Prates, havia a possibilidade de anunciar também reajustes nos preços. “Se eu der spoiler agora, ninguém terá interesse em saber depois. Critério a ser usado será o de estabilidade versus volatilidade”, disse na ocasião.
Em coletiva de imprensa sobre os resultados do primeiro trimestre, Prates afirmou que não voltará ao tempo que não havia reajustes o ano inteiro e nem fará 118 reajustes em um ano só, como feito em 2017.
“Paridade internacional não existe. O que existe é paridade de importação. Não vamos perder venda, teremos preço atrativo para clientes”, afirmou o executivo ao comentar os resultados do 1º trimestre. Desde 2016, a Petrobras adota o preço de paridade de importação (PPI). Essa fórmula considera a oscilação dos preços dos derivados de petróleo no mercado internacional e também as variações da taxa de câmbio. Mais de uma vez Prates afirmou, desde que assumiu a empresa, que o PPI não pode ser um “dogma” e que a companhia busca alternativas.
Professor do Instituto de Energia da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), Edmar de Almeida afirma que as declarações do comando da empresa até o momento apontam para ajustes no modelo de preços a partir de critérios técnicos, sem um rompimento com a política de paridade de importação (PPI). “Tanto as falas do Jean Paul Prates quanto o comunicado enfatizam isso”, diz.
Na visão dele, há espaço para aprimoramentos pontuais relativos, por exemplo, a prazos para reajustes e diferenciação de preços por região. “Sempre tem espaço para ajuste técnico, não necessariamente isso precisa significar prejuízo para a empresa, tipo de problema que aconteceu entre 2010 e 2014.” O pesquisador diz ainda que as falas iniciais do governo sinalizavam que os preços não seguiriam mais o mercado internacional, o que, na sua visão, não é possível de ser executado. “Não é só porque causaria prejuízos à Petrobras, mas porque desestruturaria toda a cadeia de valor de mercado de combustíveis, incluindo o etanol.”
Entre analistas de bancos e especialistas do setor ainda, porém, muitas há dúvidas sobre a viabilidade de uma nova política de preços que, sem deixar de lado as cotações internacionais do petróleo, possa baratear os combustíveis no país. Também há incertezas sobre a viabilidade de se praticar preços regionais, por Estados, e por clientes, como adiantou Prates. A Petrobras precisa explicar melhor o que pretende fazer, dizem especialistas.
Fonte: Valor Econômico

