Por Martin Arnold, Financial Times — Frankfurt
16/08/2022 21h08 Atualizado há 11 horas
Os investidores estão mais pessimistas com a economia da Alemanha do que em qualquer outro momento desde a crise da dívida da zona do euro há mais de dez anos. Eles temem que a queda no fornecimento de gás russo e a disparada dos preços da energia joguem o país em uma recessão.
Uma medida do Instituto ZEW sobre as expectativas dos investidores com a maior economia da Europa recuou ao seu nível mais baixo desde 2011, caindo de menos 53,8 pontos para menos 55,3, destacando o crescente pessimismo com as consequências da invasão da Ucrânia pela Rússia.
A pesquisa com participantes do mercado financeiro fornece uma indicação do sentimento econômico depois que a Rússia retomou o fluxo do gasoduto Nord Stream 1 — após pausa para manutenção em julho —, mas com apenas um quinto de sua capacidade.
Economistas reduziram suas estimativas de crescimento para a Alemanha e a zona do euro neste ano e, ao mesmo tempo, aumentaram suas previsões de inflação, alertando que o fim do fornecimento de energia pela Rússia forçaria Berlim a racionar o fornecimento de gás para a indústria.
Ontem, a carga de base de energia elétrica da Alemanha para fornecimento no próximo ano, um referencial dos preços europeus, subiu mais de 5% para o recorde de 503 por Mwh, segundo a European Energy Exchange. Isso é seis vezes mais que o preço de um ano atrás — impulsionado pela escalada no custo do gás e pela onda de calor na Europa que prejudicou a capacidade de geração.
Os preços nos mercados de gás na Europa deram um salto de até 10% ontem, chegando a 251 por Mwh, o equivalente em termos de energia a mais de US$ 400 por barril de petróleo. O preço do gás natural é o maior em 14 anos e ameaça não só a economia alemã, como a de todo o resto do continente.
O aumento dos preços da energia elevou os custos das importações para a Alemanha e outros países da zona do euro, levando o déficit comercial do bloco para 24,6 bilhões em junho, comparado a um superávit de 17,2 bilhões no mesmo mês do ano passado, segundo dados da Eurostat, a agência europeia de estatística. O valor das exportações do bloco aumentou 20,1% ao ano em junho, mas o das importações disparou 43,5%.
“O aumento ainda alto dos preços ao consumidor e os esperados custos adicionais com aquecimento e eletricidade têm no momento um impacto particularmente negativo sobre as perspectivas para os setores da economia relacionadas ao consumo”, diz Michael Schröder, pesquisador do ZEW.
Ele afirma que o sentimento dos investidores também piorou com a expectativa de aperto das condições de financiamento depois que o Banco Central Europeu (BCE) elevou sua taxa de juro em 0,5 ponto porcentual, para zero, em resposta aos níveis recorde de inflação na zona do euro.
Carsten Brzeski, do banco holandês ING, diz que a economia da Alemanha “se aproxima rapidamente da tempestade perfeita” causada pela “alta inflação, possíveis interrupções no fornecimento de energia e os problemas atuais nas cadeias de suprimentos”.
Uma onda de calor e um período de seca reduziram o nível do rio Reno abaixo daquele em que as barcas podem ser totalmente carregadas, limitando o abastecimento para as fábricas, o que segundo estima Brzeski deverá reduzir em até 0,5 ponto porcentual o crescimento da Alemanha neste ano.
Contribuindo para o desânimo está o fato de que as famílias alemãs terão de pagar centenas de euros mais em contas de combustíveis neste inverno, depois que o governo anunciou um imposto extra sobre o gás de 2,419 centavos por Kwh a partir de outubro. isso deverá elevar os custos para uma família de quatro pessoas em 240 nos três meses finais do ano.
A principal autoridade reguladora das redes de energia da Alemanha disse ao “Financial Times” neste mês que o país precisa reduzir o uso de gás em 20% para evitar um racionamento no próximo inverno. O Ministério da Economia também ordenou a todas as empresas e autoridades locais que reduzam a temperatura ambiente mínima em seus espaços de trabalho para 19º C no inverno.
O país alcançou sua meta de encher suas instalações de armazenagem de gás a três quartos da capacidade duas semanas antes do prazo, depois que o aumento dos preços e as medidas de economia de combustíveis levaram a uma redução do uso. Mas há temores de que seu objetivo de elevar a armazenagem de gás para 95% da capacidade até novembro seja mais difícil se a Rússia continuar limitando o fornecimento.
A economia alemã ficou estagnada no segundo trimestre, apresentando o pior desempenho entre as grandes economias da zona do euro. No mês passado, o FMI reduziu sua previsão de crescimento para a Alemanha no ano que vem em 1,9 ponto porcentual para 0,8%, o maior rebaixamento entre todos os países.
Fonte: FT / Valor Econômico
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