O câmbio doméstico sustentou forte apreciação ao longo da sessão, mas perdeu força na reta final e, assim, o dólar terminou o pregão no mercado à vista em queda de apenas 0,07%, cotado a R$ 4,9144. A moeda americana encerrou bastante afastada da mínima de R$ 4,8752 e o real mostrou um desempenho pior que o de alguns pares emergentes. A derrubada do veto à desoneração da folha de pagamento ajudou a influenciar o humor dos agentes, que acompanharam com lupa as votações no Congresso Nacional e a busca do governo por medidas para aumentar a receita em 2024.
Antes do mau humor interno praticamente zerar os ganhos do real, o câmbio doméstico conseguiu anotar movimento relevante de apreciação. A sinalização mais suave do Federal Reserve (Fed) ontem deu apoio à procura por ativos de risco e derrubou a cotação do dólar, em movimento observado, ainda, nas taxas dos Treasuries. Além disso, o tom mais cauteloso adotado pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central reduziu o temor dos agentes em torno de um estreitamento acelerado do diferencial de juros, o que manteve o câmbio bem comportado.
Enquanto o índice DXY sustentava, no fim da tarde, uma queda de 0,94%, aos 101,905 pontos, o dólar no mercado doméstico se afastou das mínimas, com o mercado atento ao andamento da agenda econômica no Congresso Nacional. Na medida em que o real mostrou um bom desempenho nos últimos dias, em linha com o exterior, a derrubada do veto presidencial à desoneração da folha de pagamentos pelo Congresso disparou um movimento de correção e fez o real perder fôlego.
Mais cedo, a dinâmica de fortalecimento da moeda brasileira foi resultado de um Fed mais dovish do que o esperado e de um Copom ainda cauteloso. O estrategista-chefe do Mizuho para América Latina, Luciano Rostagno, nota que alguns analistas esperavam que o Copom pudesse acompanhar o discurso mais suave do Fed e deixar uma margem para cortes maiores da Selic. “Mas não foi o que aconteceu e o BC manteve uma postura mais cautelosa. O fato de o nosso banco central não sinalizar uma aceleração de corte aqui, mas o Fed começar a discutir o ‘timing’ para cortar juros, acaba dando suporte para o real.”
“Se você pegar os dados mais fracos do varejo brasileiro, divulgados hoje, e a postura do Fed, você tem dois fatores que jogam para um corte mais rápido de juros por aqui, mas, na outra direção, há o Copom mantendo o discurso mais conservador”, diz Rostagno.
O operador de câmbio de uma gestora afirma ter visto mais relevância no efeito externo do Fed, mas reconhece que “se o BC tivesse tirado o plural [dos cortes de juros de 0,50 ponto nas próximas reuniões], o câmbio estaria melhorando menos, assim como o pré-fixado estaria fechando [caindo] mais, principalmente o curto”.
Na mesma direção, o estrategista Mario Castro do BNP Paribas informa em nota que o BC mais cauteloso é benéfico para o câmbio brasileiro e que é provável que a mudança de política do Fed reforce a tendência de enfraquecimento do dólar e estenda a busca pela estratégia do “carry trade” (do diferencial de juros), o que pode beneficiar a moeda brasileira. “Mantemos posição vendida em euro contra real e posição comprada em real em nossa cesta de posições vendidas em dólar”.
A sessão também foi marcada pela apresentação dos dados de fluxo cambial no Brasil. Apesar de dezembro ser um mês marcado pela saída forte de capital do país, na primeira semana do mês, de 4 a 8 de dezembro, o fluxo ficou negativo em “apenas” US$ 775 milhões, resultado de uma vazão de US$ 1,265 bilhão via conta financeira e no sentido oposto, de entrada de US$ 490 milhões via conta comercial.
Fonte: Valor Econômico
