Por Mônica Scaramuzzo e Taís Hirata — De São Paulo
23/06/2023 05h02 Atualizado há 5 horas
Ricardo Scavazza, sócio e CEO de private equity, conta que o Pátria já levantou, desde sua fundação, cerca de R$ 30 bilhões com venda de ativos — Foto: Keiny Andrade/Valor
1 de 1 Ricardo Scavazza, sócio e CEO de private equity, conta que o Pátria já levantou, desde sua fundação, cerca de R$ 30 bilhões com venda de ativos — Foto: Keiny Andrade/Valor
Ricardo Scavazza, sócio e CEO de private equity, conta que o Pátria já levantou, desde sua fundação, cerca de R$ 30 bilhões com venda de ativos — Foto: Keiny Andrade/Valor
A gestora Pátria Investimentos levantou R$ 11 bilhões nos últimos 12 meses com a venda de sete negócios em seu portfólio de infraestrutura e de empresas de seu fundo de private equity. Os recursos, que foram distribuídos aos investidores, vieram de importantes ativos da casa – como a rede de academias Smart Fit, a empresa de foodservice Delly’s, a empresa de data centers Odata e a da rodovia Entrevias.
Em entrevista ao Valor, Andre Salles, sócio CEO e CIO de infraestrutura, e Ricardo Scavazza, sócio CEO e CIO de private equity (que compra participação de empresas), contam que a gestora tem cerca de R$ 80 bilhões em seu portfólio, em cerca de 40 investidas. Desde a fundação da casa, em 1997, foram desinvestidos cerca de R$ 30 bilhões, dos quais quase um terço nos últimos 12 meses.
Na terça-feira, a gestora fechou acordo com a gigante CVC Capital Partners, que passará a controlar junto com o Pátria a Delly’s, uma empresa que fatura cerca de R$ 5 bilhões e tem crescido desde sua fundação, em 2015, por meio de aquisições. No mês passado, embolsou R$ 590 milhões com a venda de 32,6 milhões de ações da Smart Fit, na qual ainda mantém o controle. Em dezembro do ano passado, saiu do setor de data centers ao vender a empresa Odata para a americana Aligned.
De acordo com Scavazza, o total de desinvestimentos feito pela gestora nos últimos 12 meses originou uma taxa interna de retorno (TIR) de 34% e um retorno de 3,2 vezes, ambos em reais, sobre o capital investido (Múltiplo de Capital Investido). Além de Delly’s, Odata, Entrevias e Smart Fit, estão nessa conta ParaBem e Atis, além da recapitalização da Arke. Em relação à média dos R$ 30 bilhões vendidos, o TIR fica em 23% e o MCI em 2,9 vezes, também em reais.
Em “roadshows” globais, o Pátria tem se posicionado como uma empresa internacional de investimentos alternativos, com capital aberto na Nasdaq, especializada em captar recursos no mundo para buscar oportunidades de negócios na América Latina, sobretudo em setores de infraestrutura, agronegócio e saúde.
Uma das investidas da gestora, a Lavoro, de revendas agrícolas, foi avaliada em cerca de US$ 1,2 bilhão, com suas ações listadas na Nasdaq. O agronegócio é uma forte aposta da casa, que também realizou investimentos em uma distribuidora de insumos para pecuária e em uma empresa de fertilizantes orgânicos, conta Scavazza.
Em infraestrutura, a gestora mantém planos ambiciosos. Segundo Salles, apesar do recente desinvestimento no setor de rodovias – com a venda de 55% da Entrevias ao grupo francês Vinci – o interesse no segmento segue alto. “Estamos olhando com atenção concessões estaduais, principalmente em Estados com regulação madura, como São Paulo, e também as federais, estamos analisando todas elas.”
Em relação às concessões já operadas pelo grupo – a Eixo SP (do corredor Piracicaba-Panorama) e a Cart (trecho da rodovia Raposo Tavares) -, o executivo afirma que a primeira ainda está em uma fase de investimentos mais intensos. Já a segunda está mais madura, porém, não há processo de venda neste momento, segundo ele.
Hoje, os principais alvos do Pátria em infraestrutura são energia, logística e telecomunicações. O grupo também estuda outros segmentos nos quais ainda não tem presença, como o setor ambiental como um todo – hoje, a gestora já tem um negócio no Chile dentro desse ramo, em dessalinização de água, mas ainda não no Brasil.
Questionado sobre a visão acerca do setor de saneamento básico no país, Salles afirma que há interesse, mas que as incertezas ainda são um entrave. “Há questões regulatórias que precisam de uma solidificação, para nos dar conforto suficiente, mas é um alvo.”
Na semana passada, um relatório do J.P. Morgan informou que pelo menos seis empresas do Pátria estariam sendo avaliadas a múltiplos consideravelmente superiores aos de empresas comparáveis listadas na bolsa. Entre os exemplos, estariam as empresas de saúde Athena e Elfa Medicamentos. As empresas Superfrio e PareBem também estariam superavaliadas.
Os executivos, porém, avaliam que a análise contém erros e usa informações incompletas.
“O relatório foi feito de forma isolada, sem nos contatar, e contém diversos dados errados, tanto do valor da empresa quanto dos Ebitdas. [O relatório] acaba fazendo cálculos que [o Pátria] não valida e que não estão precisos, porque foi feito com informações que não estão completas”, disse Scavazza.
Ele cita como exemplo o caso da Delly’s. “Os números do valor da empresa e dos múltiplos não estavam corretos.” Scavazza também afirma que, dos seis negócios citados, dois estão na lista de desinvestimentos – a própria Delly’s e o PareBem. “Em ambos, as análises não batem.”
Fonte: Valor Econômico

