O Pátria Investimentos, gestora de ativos alternativos, anunciou o lançamento de uma plataforma de data centers na América Latina. Com atuação prevista no Brasil, México e Chile, a iniciativa contará com investimentos de US$ 1 bilhão (R$ 5,69 bilhões no câmbio atual) e será voltada à construção de infraestrutura para atender à crescente demanda por inteligência artificial, computação em nuvem e aplicações de alta performance.
Batizada de Omnia, a aposta marca o retorno do Pátria ao setor de data centers. Em 2014, a gestora lançou a primeira plataforma com a Odata, que foi vendida para a Aligned Data Centers em 2023, por quase US$ 2 bilhões. Segundo os executivos da empresa, após a venda da Odata, o mercado começou a se transformar mais uma vez, do ponto de vista da demanda, o que justifica esse retorno ao setor.
O projeto não se trata de expansão dos modelos de data centers do passado, já que processar bilhões de dados em microssegundos exige sistemas mais robustos, os chamados “data centers hiperescaláveis”, aqueles projetados para atender às necessidades de grandes cargas de processamento de “big techs”, que demandam alta capacidade de processamento, armazenamento e transmissão de dados.
Se tudo correr como o planejado, o primeiro projeto da Omnia começará a ser construído no segundo semestre de 2025, com previsão de entrada em operação até o fim de 2027. Segundo Felipe Pinto, sócio responsável pelos investimentos em infraestrutura do Pátria na América Latina, a nova plataforma nasce para responder a um gargalo global na área de data centers.
Ele destaca que o Pátria reúne as competências necessárias para viabilizar projetos de grande porte – desde o desenvolvimento e a gestão das obras até o fornecimento de energia em larga escala, setor no qual a gestora tem experiência.
“O Pátria, como principal investidor de infraestrutura, vai liderar este investimento e tem condições, através de seus fundos e de seus investidores, de mobilizar este capital e fazer frente a este investimento”, diz Pinto.
Segundo a gestora, todos os projetos serão 100% abastecidos com energia renovável, uso reduzido de água e menor impacto ambiental. A escolha da América Latina como sede da iniciativa também não é casual: a região conta com uma matriz energética majoritariamente de fontes renováveis.
Apesar do cenário atual de excedente de energia no mercado brasileiro – que tem levado empresas do setor elétrico a enxergar no segmento de tecnologia da informação uma oportunidade para absorver esse volume desperdiçado – o Pátria adota uma abordagem diferente. A gestora pretende utilizar, preferencialmente, energia proveniente de um novo projeto eólico, concebido especificamente para abastecer os data centers da Omnia.
“Temos que adotar um projeto dedicado e desenvolver uma fonte [de geração de energia] dedicadas a este projeto. Por isso, não estamos olhando essas questões de desbalanceamento energético de curto prazo, mas, sim, de projetos muito grandes em que é importante contar com uma solução integrada”, afirma.
Rodrigo Abreu, CEO da Omnia, diz que o foco inicial é em projetos de campus com capacidade superior a 100 megawatts (MW), voltados a aplicações de altíssima densidade energética. “A capacidade de data centers é medida em capacidade energética. A energia é um ativo para desenvolvedores de data centers. No passado, um data center de grande porte tinha 10 MW. Hoje um para atender IA começa na casa de 100 MW”, diz.
Abreu não revela os locais exatos onde essas instalações estarão alocadas. A realidade é que a dificuldade de encontrar locais com acesso direto à rede de transmissão em alta tensão já tem alterado a localização ideal dos empreendimentos. Além disso, os projetos de data centers no Brasil deverão disputar espaço com outras demandas futuras por grandes blocos de energia, como os projetos de hidrogênio verde, que também estão em busca por infraestrutura elétrica robusta.
O eixo São Paulo-Campinas (interior de São Paulo) é a principal concentração de data centers no Brasil, mas também sofre com problemas de transmissão, assim como a região do Pecém (CE), que tem grandes projetos na área, mas também vive um dilema para escoar energia em larga escala. Ele avalia que, em breve, esses gargalos na transmissão podem ser superados.
O executivo avalia que a lógica de localização dos data centers está mudando com o avanço da inteligência artificial. Enquanto os centros de dados tradicionalmente se concentram próximos aos grandes centros urbanos – por questões de latência e proximidade com o usuário final -, o treinamento de modelos de IA permite maior flexibilidade geográfica. “Para treinar modelos de IA, não precisamos ter um data center localizado junto dos usuários”, afirma Abreu.
“As condições regulatórias e neutralidade geopolítica que esta região tem, dá condição de recebermos investimentos americano, asiático ou europeu. A gente espera que a América Latina vá receber um volume de investimentos para essa nova categoria de data centers”, prevê.
Fonte: Valor Econômico

