Indicadores de endividamento e de inadimplência tiveram piora no mês passsado na Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC), da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).
Na edição do mês passado, divulgada nesta quinta-feira (7), a fatia de endividados no país subiu pelo sexto mês consecutivo, para 78,5% em julho, ante 78,4% em junho, idêntica à de julho de 2024. Além disso, a proporção de endividados que declararam dívidas em atraso ficou em 30% no mês passado, superior à de junho (29,5%) e à de julho do ano passado (28,8%). Também foi a maior desde setembro de 2023 (30,2%).
Um quadro de piora nas finanças das famílias dos mais pobres ajudou a compor os resultados, informou Fábio Bentes, economista-chefe da CNC.
No estudo, entre famílias com renda até três salários mínimos, a fatia de endividados subiu de 81,1% para 81,2% de junho para julho, sendo superior à de julho de 2024. No caso dos endividados com dívidas em atraso, nessa faixa de renda, ficou em 38% em julho na pesquisa, acima de junho (36,9%) e de julho do ano passado (36,8%).
“É possível perceber que, entre famílias de menor renda, o patamar de endividamento é maior [do que a média nacional]”, afirmou Bentes.
O técnico ponderou que famílias de menor renda têm menor margem de manobra para lidar com custos extras, no orçamento. Além disso, citou contexto macroeconômico atual, com patamar de juros elevados. A combinação desses dois fatores, notou ele, faz com que seja cada vez mais difícil, entre os de menor renda, lidar com endividamento crescente, com passar do tempo.
O quadro atual de endividamento e de inadimplência poderia estar pior, não fossem a inflação menos pressionada e o mercado de trabalho ainda aquecido, acrescentou o especialista. Esses aspectos conferem mais fôlego, aos de menor poder aquisitivo, para lidar com suas obrigações de dívida, comentou economista-chefe da confederação.
O presidente do Sistema CNC-Sesc-Senac, José Roberto Tadros concordou com a análise. Em comunicado sobre pesquisa, afirmou que, em seu entendimento, o aumento do número de famílias que já não conseguem pagar suas dívidas e a estagnação do endividamento indicam que os brasileiros “estão no limite de sua capacidade de contrair novas dívidas”.
“A redução dos prazos mostra um uso cada vez mais defensivo do crédito. Esse comportamento exige atenção das autoridades para que se evite uma estagnação no comércio e nos serviços”, disse Tadros, no comunicado.
Na Peic, o cartão de crédito continuou a manter maior participação de menções, como principal modalidade de dívida, sendo citado por 84,5% dos devedores. A segunda posição é ocupada por carnês (16,8%), seguido por crédito pessoal (10,6%).
Fonte: Valor Econômico

