Por Adriana Cotias, Valor — De São Paulo
30/01/2024 21h35 Atualizado há 11 horasPresentear matéria
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_63b422c2caee4269b8b34177e8876b93/internal_photos/bs/2022/D/v/cEIxPkRHuswVexuk9qQQ/200617verde47.jpg)
O problema fiscal do Brasil é uma conta que deve ser empurrada para 2026, após o país ter fechado 2023 com déficit fiscal perto do que teve em 2019, segundo Luis Stuhlberger, executivo-chefe (CEO) e de investimentos da Verde Asset Management.
“O país ‘ganhou’ os anos da covid-19, a foto é razoável, apesar do filme ruim”, disse o gestor ao participar de evento do UBS. Mas com a aproximação da sucessão presidencial, o aumento de gastos projetados chega a um nível que não parece sustentável. O que ajuda é que o governo não tem maioria no Congresso.
“O Brasil elege presidentes de diversas matizes, [Jair] Bolsonaro, Lula, o PSDB, mas é dominado pela centro-direita”, disse Stuhlberger.
“O governo não leva tudo. Isso leva a crer que os três poderes estão funcionando autonomamente, apesar de uma fase mais delicada com o Judiciário. Mas enquanto Lula for chefe de Estado e [o ministro da Fazenda, Fernando] Haddad na prática for o chefe de governo, sem que isso esteja escrito na ‘job description’… é uma pessoa boa, consciente, pode não pensar igual à gente, mas é responsável, tem boas ideias […] é um governo razoável.”
Stuhlberger comentou que a inflação no Brasil tem surpreendido para baixo e a cada mês as previsões para 2024 vêm sendo revisadas para baixo, que o país tem uma oportunidade de ouro se o governo recolocar o imposto sobre os combustíveis (Cide), retirado pelo ex-presidente Bolsonaro na tentativa de se reeleger.
Do lado fiscal, Stuhlberger disse que o orçamento para 2024 prevê gastos da ordem R$ 300 bilhões, R$ 350 bilhões acima do extinto teto de gastos, com a conta de 2023 inflada pelo pagamento dos precatórios. O déficit fiscal para este ano deve ser de R$ 80 bilhões, “não é um número bom, mas o mercado tem projeções semelhantes e já assimilou isso nos preços atuais. Só que para ganhar a eleição de 2026 não será suficiente, mas o problema ficou para frente.”
Sem imaginar nenhum revés motivado pelo próprio Brasil no curto prazo, Stuhlberger disse que o país “parece ser um bom lugar para alocação de ativos”. Ter posições em ações, na moeda brasileira e em Notas do Tesouro Nacional série B (NTN-B), atreladas à inflação, parece ser um bom mix para o cenário atual. Não significa ficar totalmente exposto, afirmou o gestor, porque os ativos não estão baratos.
“Neste ano de queda de juros, longe de dizer que nada está nos preços, em novembro e dezembro tudo andou muito rápido.”
Milagre do emprego nos EUA
Foi com mais competência do que sorte que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) conseguiu controlar a inflação nos Estados Unidos, sem levar a economia a uma recessão. Mas “o milagre do emprego” ainda é um mistério que não se sabe se será temporário ou permanente, é algo difícil de entender, segundo Stuhlberger.
“O Fed fez um bom trabalho. Com a inflação a 2%, se tiver as ‘fed funds’ a 4% é uma redução significativa e, no fim do ano, a percepção de juro real ainda será alta. Mas isso, para o resto do mundo, ‘ex US’ será muito bom para os mercados emergentes.”
Na sua leitura, o Fed será o primeiro banco central desenvolvido a cortar os juros. Para Stuhlberger, o soluço dos mercados em janeiro decorreu do fato de não ter havido nenhum dado negativo da economia que corroborasse essa rota, mas a atividade segue desacelerando.
Mesmo com o alerta de integrantes do Fed, de que os mercados teriam exagerado na dose de otimismo, o índice de ações americano S&P 500 nem se mexeu. No Brasil, entretanto, o Ibovespa cedeu cerca de 5%, um ajuste compatível com o movimento de alta das taxas futuras de juros nos EUA, disse o gestor.
Fonte: Valor Econômico

