Por Sérgio Tauhata — De São Paulo
29/09/2023 05h04 Atualizado há 2 horas
As incertezas no cenário internacional tornam o ritmo de corte de juros de 0,50 ponto percentual, adotado pelo Banco Central (BC), como o mais adequado para a autoridade poder acompanhar a evolução das variáveis macroeconômicas, disse o diretor de Política Monetária do BC, Gabriel Galípolo, durante evento da Prospectiva Public Affairs. “[No cenário atual] Boa parte das autoridades monetárias tem se colocado na posição de dependente de dados”, afirmou.
“O ritmo de cortes [de 0,50 ponto] nos permite ajustar a condução da política monetária, que permanece restritiva, e, simultaneamente, nos possibilita analisar, reunião a reunião, como as variáveis estão se comportando”, explicou o dirigente.
Para Galípolo, o cenário exterior representa a maior influência atual sobre a dinâmica dos indicadores brasileiros. “O que está acontecendo com a China, que enfrenta desaceleração de crescimento, e com os EUA tem sido muito significativo para a dinâmica [doméstica]”, afirmou. No caso dos EUA, o diretor avaliou que as taxas de juros podem ficar altas por mais tempo diante da resiliência da atividade econômica. “Isso tenderia a explicar por que vemos juros maiores, mas a bolsa performando bem.”
O diretor do BC disse que as revisões sobre as expectativas de inflação e atividade “constatam crescimento maior que o esperado com uma inflação menor, surpreendendo positivamente, o que é contraintuitivo”. Galípolo afirmou que “um alento dessa vez é que [o cenário] não é uma idiossincrasia brasileira, porque isso está acontecendo no mundo”.
Apesar de os EUA, no momento, estarem com a taxa de juros no nível mais elevado do aperto monetário e o Brasil ter começado a cortar a Selic, “ainda existe percepção de um ‘carry’ [possibilidade de investir no diferencial de juros] atrativo para o Brasil, o que está permitindo a gente seguir nesse ajuste”.
Outra questão importante para o mercado, que tem sido acompanhada de perto pelo BC, são as expectativas sobre o cumprimento das metas fiscais estabelecidas no arcabouço. “As discussões sobre como vão avançar as medidas para arrecadação [que serão votadas no Congresso] e a operacionalização das metas do arcabouço são fatores que temos monitorado.”
O diretor do BC citou que o relatório Focus aponta para uma mediana na estimativa de déficit público no fim do próximo ano de 0,8%, ou seja, acima da meta definida pela equipe econômica de déficit zero em 2024. “Seria justo dizer que está no preço das expectativas [de mercado] um déficit de 0,8%, que é diferente da meta colocada pelo governo para 2024”, afirmou.
Galípolo defendeu a visão de que o arcabouço fiscal ajuda a dar previsibilidade aos investidores. “Acho que o arcabouço fiscal é um ponto relevante para dar esse tipo de previsibilidade”, afirmou. “Do ponto de vista doméstico, no conjuntural, temos um cenário [econômico] mais benigno”, completou.
Na sua visão, “as medidas do arcabouço ajudaram a reancorar, ainda que parcialmente, expectativas de inflação, o que permitiu [ao BC] iniciar o ciclo de corte de juros”. A manutenção da meta de inflação pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) “foi importante para ajudar na reancoragem das expectativas”. O diretor citou também a reforma tributária, que pode trazer maior eficiência ao país e “será um legado para as próximas gerações”.
Fonte: Valor Econômico

