10 Oct 2023 ALINE BRONZATI
O conflito entre o grupo o Hamas e Israel preocupa os bancos centrais, já que podem dificultar ainda mais o processo de combate à inflação. Com os índices de custo de vida ainda distantes das metas nos Estados Unidos e na Europa, a percepção de que os juros podem ter de ser mantidos em patamares elevados por mais tempo foi reforçada após os acontecimentos no fim de semana, que tornam mais complexo o cenário internacional.
A preocupação com os efeitos do conflito na condução da política monetária global foi destacada durante o encontro dos bancos centrais dos países de língua portuguesa, realizado ontem em Lisboa. O evento serve de prévia para as reuniões anuais do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial, que acontecem ao longo deste semana, em Marrakesh, no Marrocos.
O tema foi abordado pelo representante do Banco Central Europeu (BCE) Mário Centeno. Em seu discurso na abertura do encontro, ele disse que os acontecimentos em curso no Oriente Médio são “dramáticos” e “assolam” os povos israelense e palestino.
“Estes acontecimentos dramáticos, e que assolam os povos israelense e palestino, convocam todos, enquanto nos preparamos para os debates a cerca de desafios globais, à necessidade de darmos oportunidade à paz”, disse Centeno.
ALVO. Ele, que também é presidente do Banco de Portugal, afirmou ainda que o conflito é mais um desafio no contexto externo e reforçou o coro para que a política monetária na Zona do Euro siga focada no combate à inflação. “As políticas monetárias na Zona do Euro deveriam continuar a perseguir a estabilidade de preços”, reforçou.
Política monetária Desafios das autoridades dos EUA e da Zona do Euro crescem com o aumento das tensões
O presidente do Banco Central de Cabo Verde, Oscar Santos, alertou para possíveis impactos nos preços de diferentes produtos na esteira do que aconteceu após a pandemia e a guerra na Ucrânia. “Impacta em praticamente tudo. A inflação é muito importante.”
Expectativas de que as taxas de juros já teriam de ser mantidas em patamares elevados por mais tempo já vinham impactando os mercados nas últimas semanas, levando os rendimentos dos Treasuries, os títulos do Tesouro norte-americano, a níveis recordes de alta. O conflito iniciado no fim de semana trouxe nova onda de incertezas.
MINUTO DE SILÊNCIO. Na abertura, ontem, a Bolsa de Nova York (Nyse) fez um minuto de silêncio em respeito às vítimas e às pessoas impactadas pelos conflitos na Faixa de Gaza e em Israel.
No evento, o presidente do Banco Central brasileiro, Roberto Campos Neto, concentrou sua apresentação na agenda de inovação e inclusão financeira da instituição. Ele mencionou o Pix, que acaba de bater recorde (veja texto nesta página), o open finance, e o Drex, projeto do real digital e de internacionalização da moeda. •
Fonte: O Estado de S. Paulo