Os recentes problemas envolvendo a liquidez de grandes empresas no país estão levando a um aumento nos prêmios de risco de emissores mais alavancados, com histórico de crédito com Selic a 15% que começa a pesar no balanço, e de papéis de bancos, segundo Caio Crepaldi, responsável pelos fundos de crédito privado do ASA, grupo de Alberto Safra. Segundo ele, que chama o movimento de “minichacoalhada” no mercado de crédito privado, o movimento está restrito aos papéis corrigidos pelo CDI e não chegou às debêntures de infraestrutura, o que é motivo de cautela.
“Ainda não vemos movimento generalizado, mas, como estamos com os spreads muito reduzidos, isso talvez seja num primeiro momento uma espécie de realização saudável, para começar a normalizar o mercado”, avalia ele, em conversa com o Valor durante o 46º Congresso Brasileiro de Previdência Privada, promovido pela associação em São Paulo.
Em infraestrutura, pontua, as emissões primárias continuam saindo com prêmios muito apertados e prazos muito longos, acima de dez anos. “É raro sair alguma coisa com menos de sete anos e os spreads para as empresas triplo A [a mais alta avaliação de crédito] estão de 100 a 120 pontos-base abaixo da NTN-B, um nível muito apertado.”
Os casos de empresas com problemas de liquidez que mais chamaram a atenção nas últimas semanas foram os de Ambipar, que pediu recuperação judicial nesta semana, e Braskem.
De acordo com Crepaldi, a gestora está mais defensiva no posicionamento dos fundos, na expectativa de piora de cenário no médio prazo, dando preferência a papéis de crédito “o mais óbvio possível, com menor prazo possível”. A ideia, explica, é ter espaço para aproveitar oportunidades de forma mais assertiva numa eventual mudança de cenário.
O executivo do ASA não acredita, porém, em uma mudança radical como aconteceu em 2023, depois da descoberta da fraude em Americanas e do pedido de recuperação judicial da Light. “Se tivermos um evento de ‘sell off’ [venda em larga escala e rápida] seria mais direcionado a alguns nomes específicos ou empresas mais alavancadas, com pior perfil de crédito. As com melhor avaliação tenderiam a sofrer menos.”
As eleições do ano que vem devem gerar volatilidade, mas também em níveis administráveis pelos gestores, avalia Crepaldi. “Acho pouco provável que gere um ‘sell off’ na classe de ativos porque os outros gestores, assim como a gente, estão com uma parcela de caixa muito grande, então são capazes de honrar se houver um aumento nos pedidos de resgate.”
A ameaça de tributação das debêntures incentivadas, proposta em medida provisória que caducou sem ser apreciada pelo Congresso, lembra ele, levou a um aumento do fluxo para fundos de infraestrutura. A previsão era de que, por conta do Imposto de Renda, o mercado desacelerasse no ano que vem, mas, agora que a tributação não se concretizou, ele espera que o nível de emissões no primário e de negociações no secundário permaneça no patamar deste ano. “Se a gente não crescer e continuar como está já é muito bom.”
Fonte: Valor Econômico
