Levantamento mostra que região Sul tem a maior queda, com 26%
Por Rafael Vazquez — De São Paulo
09/11/2022 05h00 Atualizado
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O número de diagnósticos de câncer de próstata caiu 21% no Sistema Único de Saúde (SUS) brasileiro entre 2019 e 2021, segundo dados oficiais organizados pela Lifeshub, empresa especializada em inteligência para o setor da saúde. A queda se deve ao menor número de exames realizados no período, o que preocupa os especialistas.
“Houve um comportamento natural de resguardo durante a pandemia que provocou um descontinuamento de muitos exames preventivos, entre eles os de câncer de próstata, a exemplo do que aconteceu com as mamografias e o câncer de mama”, explica o médico Ademar Paes Júnior, sócio-fundador da LifesHub. “Agora, com a sociedade preparada para conviver com a existência da covid, é importante utilizar o Novembro Azul [mês dedicado ao combate do câncer de próstata] para lembrar a todos que é importante retomar a rotina de exames.”
Segundo os dados levantados pela Lifeshub junto aos sistemas públicos de informação ambulatorial e de câncer, o número de diagnósticos de neoplasia maligna da próstata no SUS caiu 21% em todo o Brasil entre 2019 e 2021. A maior queda foi registrada na região Sul, onde recuou 26%. No Centro-Oeste, a identificação de casos no sistema de saúde público caiu 25%, enquanto no Nordeste a queda foi de 22%, e no Norte, de 21%. No Sudeste, o declínio foi de 18%.
Entre os Estados, a maior queda foi registrada no Amazonas, onde os diagnósticos caíram 51% durante a pandemia, de 374 em 2019 para 183 em 2021 – neste ano, até outubro, foram somente 53. Há Estados em que os números da base pública de dados são estranhamente baixos. É o caso do Amapá, por exemplo, onde neste ano foram identificados somente cinco casos. “Às vezes o governo tem problemas de registro. Infelizmente tem muito isso no Brasil. E isso traz agravantes, pois se os casos não são devidamente registrados o governo não envia recursos e equipamentos. Há muitos gargalos que acabam afetando a política pública. Não é só falta de médico”, observa Paes.
O complicador dos números de diagnósticos terem caído é que, segundo explicam os médicos, não houve uma mudança na realidade da doença que faça a queda ser comemorada. Pelo contrário. Segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), ligado ao Ministério da Saúde, um homem morre a cada 38 minutos, no Brasil, devido ao câncer de próstata. E, na maioria das vezes, a morte acontece por falta de um diagnóstico feito a tempo de tratar a doença.
Conforme explica o urologista e presidente da Sociedade Brasileira de Urologia de São Paulo (SBU-SP), Marcelo Wroclawski, a redução das consultas de homens durante a pandemia é menos grave em relação a neoplasia de próstata do que quando se fala de outros tipos de câncer. Isso porque a evolução do câncer na próstata costuma ser mais lenta que em outras partes do corpo. Contudo, se o acompanhamento deixar de ser feito durante mais tempo, pode ser perigoso.
“A gente vivencia nos consultórios casos de homens que passaram dois, três anos sem fazer o seu acompanhamento e que estão voltando a procurar os urologistas agora”, conta Wroclawski. “Existem estudos mostrando que esse atraso no tratamento, no primeiro momento, não apresenta uma piora nos resultados de sobrevida, falando especificamente do câncer de próstata. Mas não quer dizer que essa falta de acompanhamento pode se perdurar por muitos anos.”
O urologista explica que o acompanhamento anual de homens a partir de 45 anos com um especialista é importante porque o câncer de próstata é identificado por etapas. O toque retal é o exame que identifica se há alguma anormalidade. Outro teste frequente é o exame de sangue chamado pelos médicos de PSA. Se os dois indicaram algo, a confirmação é feita por biópsia, que será requisitada em caso de a luz amarela ter surgido nos dois primeiros. Para homens negros, a recomendação é que o acompanhamento comece aos 40 anos devido a maior incidência de casos nessa população mais cedo do que nos demais grupos.
Fonte: Valor Econômico