O otimismo dos gestores de fundos multimercados com a redução da Selic, a taxa referência para os juros da economia, alcançou o maior nível em 18 meses, agora em agosto, aponta um estudo feito pela casa de análises Empiricus. Na contramão, piorou o sentimento em relação à bolsa brasileira em comparação ao mês anterior, diferentemente do que geralmente ocorre quando a perspectiva é de recuo da Selic.
A casa mediu o sentimento de 30 gestoras de fundos multimercados, que somam R$ 160 bilhões de patrimônio líquido em suas estratégias na classe. O levantamento mostrou que as posições aplicadas, ou seja, as apostas de que os juros recuarão mais do que o mercado espera, atingiram o maior nível em 18 meses. Assim, os gestores aumentaram o otimismo com a redução da Selic.
A pesquisa prova que os profissionais em geral continuam expostos ao “Kit Brasil”, o que significa que eles seguem apostando no combo de corte de juros e valorização do real e da bolsa brasileira. Contudo, as posições compradas em ações brasileiras diminuíram em relação ao mês anterior, ou seja, o otimismo recuou em relação à bolsa.

Os gestores melhoraram o sentimento em relação aos juros porque estão mais otimistas com a inflação brasileira e mais pessimistas com a economia, o que ajuda a desacelerar a inflação.
O Banco Central deixou os juros de referência no patamar de 15% ao ano no fim de julho, o maior nível desde 2006. Na sua comunicação, a autoridade monetária reforçou o discurso de cautela e afirmou que os cortes de juros dependem do ambiente externo mais favorável e da melhora das previsões para a inflação.
Contudo, cada vez mais economistas estão esperando que a inflação fique abaixo de 5% em 2025. Ainda é mais que o teto da meta de 4,5%, mas representa pouca ou nenhuma aceleração ante a alta de 4,8% em 2024.
Apesar da boa expectativa para a inflação e para os juros, o tarifaço imposto pelos Estados Unidos ao Brasil aumentou a incerteza em relação ao rumo da economia e das ações brasileiras.
Conforme 60% dos gestores, o tarifaço tende a reduzir o fluxo estrangeiro que estava entrando na bolsa, enquanto para 36% dos profissionais, o tarifaço não tem nenhum impacto esperado no fluxo. Já para somente 4%, isso pode aumentar o fluxo desses investidores.
E nos Estados Unidos?
Nos Estados Unidos, os gestores estão mais otimistas com a redução de juros no curto prazo. As apostas em cortes de juros maiores do que o mercado prevê saltaram, após a apresentação de dados fracos do mercado de trabalho, o que ajuda a inflação a perder tração. Os dados levaram o mercado a prever uma antecipação no corte de juros lá por setembro. Porém, o otimismo com a bolsa americana diminuiu levemente também.

O estudo mostrou também que a incerteza sobre os Estados Unidos diminuiu a percepção de uso do dólar como uma reserva de valor entre os gestores e que o fluxo do dólar foi para o ouro nos portfólios dos fundos.
Nos Estados Unidos, o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) manteve as taxas de juros entre 4,25% e 4,50%, enquanto aguarda para saber como as tarifas do governo de Donald Trump impactarão a economia. A inflação segue preocupando o Fed, mas os dados apontam uma desaceleração do mercado de trabalho e um menor consumo, o que aumenta as apostas de corte de juros em setembro.
No mundo, a economia mantém sinais de resiliência e os principais bancos centrais estão cautelosos. Na Europa, o Banco Central Europeu interrompeu a sequência de cortes de juros e manteve as taxas inalteradas, após dados indicarem que a inflação da zona do euro alcançou exatamente a meta.
Fonte: Valor Investe

