12 Dec 2022 LUÍZA LANZA
Anunciado oficialmente na sexta-feira, o nome do ex-prefeito Fernando Haddad para comandar o Ministério da Fazenda vinha sendo ventilado desde o fim de outubro, quando o resultado das urnas confirmou o terceiro mandato do petista Luiz Inácio Lula da Silva, mas era considerado “o pior dos cenários” para o mercado financeiro – que esperava um ministro de fora do núcleo do PT. Essa expectativa havia ganhado força depois que economistas de peso como Henrique Meirelles, Armínio Fraga e André Lara Resende declararam apoio público ao petista e até aceitaram participar da equipe econômica da transição do governo (caso de Lara Resende).
A confirmação de Haddad, portanto, joga um balde de água fria na parte que sonhava com um ministro mais “prómercado”. Ainda que, do ponto de vista de formação e trajetória política, o nome do ex-prefeito não deveria assustar tanto assim, na avaliação de Cristina Helena Pinto de Mello, professora de Economia da ESPM.
“Haddad é um excelente gestor. Seu passado na Secretaria de Finanças, na Prefeitura de São Paulo, e no Ministério da Educação revelam sua habilidade na composição de equipes, definição de agenda, comprometimento e entregas estratégicas”, afirma Cristina. Ela destaca ainda o “compromisso com o equilíbrio fiscal e senso de urgência” do ministro recém-indicado – que em 2015 apoiou o ex-ministro Joaquim Levy na tentativa de ajuste fiscal durante o governo de Dilma Rousseff, também do PT.
Mário Lima, analista sênior de política e macroeconomia da Medley Advisors, explica que parte da “má vontade” do mercado tem a ver com divergências de ideologia política. “Ele tem um histórico de responsabilidade fiscal como prefeito, mas é visto com algum ceticismo porque sempre se apresentou como uma pessoa ideologicamente de esquerda, ainda que seja moderado. E isso não é algo que é bemvisto pelo mercado”, afirma.
Lima destaca outros pontos que incomodam na indicação, como a falta de experiência de Haddad em negociações com o Congresso – que serão fundamentais no novo governo – e a impressão de que o PT está priorizando um quadro político que pode vir a ser o sucessor de Lula em 2026.
“Faz sentido para o PT que ele tenha um cargo de destaque, mas isso não necessariamente responde às necessidades que o governo terá”, diz o analista da Medley. “Especialmente um governo que vai começar com bastante incerteza no mercado, seria interessante ter um nome que garantisse um pouco mais de segurança e racionalidade na política econômica, falando inclusive para além da Faria Lima.”
PERFIL POLÍTICO. Esse perfil político, e não técnico de Haddad, é uma das grandes críticas do mercado, que teme que o novo ministro possa ficar “refém” da decisão final do presidente eleito. “O nome de Haddad traz alguns questionamentos sobre a ‘autonomia’ que ele teria frente ao Lula, se seria capaz de encampar um embate caso seja aconselhado tecnicamente a tentar conter alguns ímpetos do presidente”, afirma Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos.
Em entrevista na semana passada, Lula afirmou que a função do novo ministro da Fazenda será “repetir o sucesso” de suas gestões anteriores. Para isso, Haddad terá alguns desafios pela frente. O maior deles? Convencer o mercado de que o novo governo não representa um risco às contas públicas, em um momento em que a discussão da PEC da Transição – e o espaço aberto de R$ 168 bilhões no Orçamento de 2023 para novos gastos – tem afetado os ativos de renda variável, com a expansão dos juros futuros e o aumento do dólar.
Somente em dezembro, o Ibovespa, principal referência da B3, acumula uma queda de 4,42%, fruto principalmente das incertezas políticas e econômicas com o novo governo. “O foco de desconfiança do mercado para a gestão econômica do petista está na área fiscal”, diz Igor Cavaca, head de gestão de investimentos da Warren.
Para conquistar a confiança do mercado, uma aposta é a indicação de equipe de secretários com perfil mais técnico para postos importantes como a Secretaria de Política Econômica e a Secretaria do Tesouro. •
Fonte: O Estado de S. Paulo

