6 Oct 2022
Decisão dos países produtores pressiona os preços dos combustíveis e a inflação, além de prejudicar a ajuda ocidental à Ucrânia.
A coalizão de países produtoras de petróleo, liderada pela Rússia e Arábia Saudita, anunciou ontem um corte na produção de 2 milhões de barris por dia, o que deve pressionar os preços dos combustíveis, a inflação e prejudicar a ajuda ocidental à Ucrânia. A decisão da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) provocou uma reação indignada da Casa Branca, que acusou o grupo de ajudar a Rússia.
Autoridades do governo de Joe Biden lançaram uma forte campanha para pressionar a Arábia Saudita a produzir mais para compensar a escassez global causada pela invasão da Ucrânia. O presidente americano visitou pessoalmente os líderes sauditas em Jeddah. Mas o governo saudita ignorou os apelos, deixando a Casa Branca furiosa.
A Rússia se beneficia do corte, porque a produção mais baixa aumentará o preço do petróleo, ajudando Moscou a financiar seu esforço de guerra na Ucrânia. A decisão da Opep colocará mais pressão sobre a determinação da Europa de apoiar os ucranianos diante da perspectiva de uma forte desaceleração do crescimento econômico no continente.
Os consumidores americanos também sofrerão o impacto da gasolina mais cara às portas das eleições legislativas de meio de mandato, em novembro – o que poderia afetar o desempenho dos candidatos democratas.
INFLUÊNCIA. É a primeira vez que a Opep corta a produção de petróleo desde o início da pandemia. A medida é mais agressiva do que muitos analistas esperavam. O grupo diz que a redução será colocada em prática a partir de novembro. Em comunicado, os produtores alegaram que a medida é necessária para estabilizar a recente queda nos preços globais.
“O presidente Biden está desapontado com a decisão míope da Opep de cortar as cotas de produção enquanto a economia global está lidando com o impacto negativo contínuo da invasão da Ucrânia”, disse o conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, Jake Sullivan.
Segundo ele, o governo americano consultará o Congresso sobre a adoção de novos mecanismos “para reduzir o controle da Opep sobre os preços da energia”, sugerindo que os EUA podem revogar a isenção de uma lei antitruste que favorece a organização. A medida pode provocar uma forte reação da Arábia Saudita e de seus aliados, dizem analistas.
PRESSÃO. A decisão de cortar a produção reflete a atual crise diplomática entre Washington e Riad, que se agravou após o assassinato de Jamal Khashoggi, jornalista saudita do Washington Post, esquartejado dentro do Consulado da Arábia Saudita em Istambul, em 2018. Os americanos responsabilizam o príncipe herdeiro, Mohamed bin Salman, pelo crime.
No início de seu governo, Biden havia prometido tornar o reino saudita um pária internacional, mas voltou atrás diante da necessidade de conter o preço dos combustíveis.
Horas antes, a União Europeia chegou a um acordo para adotar um novo pacote de sanções contra a Rússia, visando limitar a receita do petróleo russo, em resposta à anexação de quatro regiões da Ucrânia.
Entre as medidas está a imposição de um teto ao preço do petróleo russo e um embargo à maioria dos derivados importados da Rússia, o que forçaria Moscou a baixar os preços para encontrar novos clientes. A decisão de ontem da Opep, no entanto, deve anular os efeitos das novas sanções europeias. DIPLOMACIA. A Rússia depende das vendas de gás e petróleo para seu orçamento e pressionou pelo corte de produção, o que permitirá a Moscou vender petróleo a preços mais altos no mercado global, garantindo mais receita para a guerra. O chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, estima que os russos recebam US$ 1 bilhão em receitas por dia com a venda de petróleo. •
Fonte: O Estado de S. Paulo

