Por Assis Moreira, Valor — Genebra
27/09/2022 07h12 Atualizado há 13 horas
A diretora-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Ngozi Okonjo-Iweala, afirmou nesta terça-feira que “estamos entrando numa recessão” e conclamou os países a agirem juntos para pensar “fora da caixa” para superar essa situação. Indagada se seria uma recessão global ou nos países desenvolvidos, ela retrucou: recessão global.
“O mundo está numa situação muito difícil e não pode ser ‘business as usual”’, disse Ngozi em debate no Fórum Público da OMC, que reúne centenas de organizações não governamentais, acadêmicos e governos.
“Temos múltiplas crises, choques simultâneos, como choques de energia, do clima, de preços de alimentos, atingindo os países ao mesmo tempo”, disse ela. “Portanto, não podemos nos dar ao luxo de fazer negócios como de costume.”
A diretora-geral da OMC advertiu que as perspectivas para o comércio parecem sombrias em meio a sinais crescentes de retração econômica global. No começo de outubro, a entidade apresentará suas novas projeções sobre exportações e importações, e os indicadores não são nada bons não só para o restante do ano como também para 2023.
Quando foi indagada se falava de recessão global ou apenas em países desenvolvidos, Ngozi retrucou: “recessão global”. Mas insistiu que os países precisam começar a pensar em como retomar o crescimento.
“Se pudessem parar a guerra, já contribuiria bastante”, disse a diretora-geral da OMC. O posicionamento de Ngozi ocorre um dia depois de a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) projetar enfraquecimento ainda maior para o ano que vem na economia mundial.
A diretora da OMC se declarou especialmente inquieta com a segurança alimentar em diferentes partes do mundo. E voltou a pedir para que os países evitem novas restrições à exportação de alimentos e insumos agrícolas. Muitas restrições já foram derrubadas desde o início da guerra na Ucrânia. Mas recentemente a Índia limitou a exportação de alguns tipos de arroz, incluindo o chamado arroz quebrado, que é mais barato e mais importado por vários países africanos.
No primeiro debate do Fórum Público, a cientista chefe da Organização Mundial da Saúde (OMS), Soumya Swaminathan, advertiu que o mundo ainda não estava “fora da pandemia”, e que o inverno que se aproxima na Europa será “arriscado”, mas que o impacto das futuras variantes da covid-19 pode ser tratado com acesso equitativo às vacinas. “Ainda há dois terços dos africanos que ainda não receberam a cobertura vacinal primária”, disse.
Mariana Mazzucato, professora de Economia na University College London, enfatizou a necessidade de métricas de medição adequadas “que nos responsabilizem pelo bem comum” e “que garantam que a comunidade se beneficie”. Ela também destacou a necessidade de transformar a fabricação em setores altamente poluentes como o cimento e o aço, enquanto promove a energia renovável como parte da transformação verde.
Fonte: Valor Econômico

