O anúncio da aquisição de 58% do capital total do banco Master pelo Banco Regional de Brasília (BRBCotação de BRB), por cerca de R$ 2 bilhões, no fim da tarde da última sexta-feira, se tornou o principal assunto na Faria Lima, tema que esquentou grupos de WhatsApp, especialmente pelas dúvidas que ainda ficaram sobre o negócio.
O acordo em si foi interpretado como uma solução para a instituição de Daniel Vorcaro, o antigo Máxima, que vinha chamando atenção de todo o sistema financeiro há mais de um ano por conta de seu alto custo de funding, com CDBs que chegaram a pagar 140% do CDI, com extrema dependência de plataformas para a captação. Além disso estava nos holofotes por sua atuação na compra de precatórios, que são os títulos de disputas judiciais com governos, e um grande apetite na compra de empresas em dificuldades, tal como Metalfrio, Restoque, Biomm e Oncoclínicas.
Apesar das entrevistas e explicações dadas ao mercado, ainda há pontos a serem explicados e se aguarda, ainda, qual será a leitura do Banco Central (BC) sobre o caso.
Problemas e polêmicas envolvendo o banco Master
Com a família conhecida pela sua atuação no mercado imobiliário, especialmente em Minas Gerais, Vorcaro comprou o controle do banco Máxima em 2017. Em 2021, o banco passou por uma reestruturação e ganhou um aporte de capital, sendo neste momento rebatizado de Master. O nome do banco passou a ser cada vez mais citado, à medida que foi ampliando seus investimentos em empresas, em muitos casos em parceria com o empresário Nelson Tanure.
Cada vez precisando de mais recursos, o custo de capital do banco passou a ser olhado por uma lupa pelo mercado e começou, inclusive, a ser visto com preocupação pelos órgãos fiscalizadores. E não foi à toa: o banco de Vorcaro fechou o ano passado com um volume de depósitos de aproximadamente R$ 50 bilhões, segundo reportagem publicada pelo Valor. Isso significa que a exposição do Master representava, com isso, nada menos do que quase a metade da liquidez do Fundo Garantidor de Crédito (FGC), de R$ 107,8 bilhões no mesmo intervalo
Pagando bem acima do CDI e com a garantia de ressarcimento de investimentos de até R$ 250 mil pelo FGC, os papéis foram amplamente distribuídos pelas plataformas para pessoas físicas. O banco chegou a pagar 140% do CDI em seus CDBs – muito acima da média do mercado. Na tentativa de diversificar suas fontes de captação, o banco tentou recentemente acessar o mercado de dívida em dólar, com uma emissão de “bonds” – e não teve sucesso. Vinha captando por meio de recursos de pensão de estados e municípios, os RPPS.
Os acionistas do banco tiveram que fazer mais aportes. Apenas no primeiro semestre do ano passado injetaram R$ 1,6 bilhão na instituição financeira.
Publicamente, Vorcaro dizia que buscava diversificar a captação do banco. No fim do ano passado, em entrevista ao Valor, o banqueiro disse que olhava outras fontes de captação. Ele disse que havia contratado a agência de classificação de riscos Fitch para avaliar o banco diante de seu planejamento para uma captação internacional. “A agência estudou a fundo nosso balanço, acompanha a evolução do banco. O rating mostra que estamos no caminho correto, diversificando os negócios, dando resultado, aprimorando a governança”, disse na ocasião.
O tema da captação do Master ganhou novo capítulo por conta de medidas do BC. No fim de 2023, o órgão alterou regras envolvendo a exposição dos bancos aos precatórios, que deixaram de ter o mesmo tratamento dados aos títulos públicos nos balanços dos bancos. O regulador também apertou as regras para os CDBs, medidas que foram interpretadas como um direcionamento para o problema do Master.
Ou seja: já existia o sinal de alerta e, nos bastidores, havia comentários de que o banco poderia ser até mesmo alvo de intervenção.
Ao Valor no ano passado, Vorcaro disse que a nova regra do BC, que limitou a garantia do FGC a seis vezes o patrimônio de um banco ou a 80% da captação total, prejudica bancos pequenos e médios, mas frisou que o Master estava enquadrado.
Qual o desenho da transação?
Conforme o anunciado, o BRB ficará com 58% do capital total e 49% das ações ordinárias da instituição financeira de Vorcaro. Segundo informou o banco do Distrito Federal, o preço de aquisição será equivalente a 75% do patrimônio consolidado do Master, conforme demonstrações financeiras auditadas pela PwC.
No balanço mais recente do Master, relativo ao primeiro semestre de 2024, o patrimônio do Master estava em R$ 4,1 bilhões. Por ser da primeira metade do ano passado, esse demonstrativo financeiro não reflete a atual situação do banco.
O BRB informou também que o pagamento será dividido, com metade feita no fechamento da operação. Já uma parcela de 25% a 50% do valor, a ser apurada até o fim da diligência do Master, será depositada em uma conta garantia
O que diz o Banco Central sobre o negócio
Em seu único posicionamento oficial sobre a transação, o BC disse, em nota, que “quando protocolado o pedido pelo Banco Master”, o BC “vai avaliar o pedido tecnicamente quanto ao cumprimento dos requisitos aplicáveis a operações da espécie”. Esses requisitos estão previstos em resolução do Conselho Monetário Nacional (CMN), de número 4.970, publicada em 2021.
No entanto, segundo fontes ouvidas pelo Valor, uma das dúvidas é qual será a saída para o Master caso a operação não seja aprovada pelo Banco Central (BC), com uma expectativa de que a transação seja analisada com muito escrutínio pela autarquia federal.
O que dizem o BRB e Vorcaro
O presidente do BRB, Paulo Henrique Costa, defendeu a transação e disse que ela “faz muito sentido para a instituição”, que as operações são complementares e que ajudará a melhorar o retorno do banco. Com um custo de captação de 89% do CDI do BRB, ele também resolve um dos problemas do Master.
Já Daniel Vorcaro, disse que o negócio será positivo para ambos os lados. “O acordo ainda não está finalizado, precisa ser aprovado pelos reguladores, mas acreditamos que será bom para ambos. São mais de 60 assessores trabalhando, é uma operação bem robusta do ponto de vista técnico”, afirmou em entrevista ao Valor.
O que ainda falta ser respondido
Ainda há diversos questionamentos envolvendo a operação anunciada. Uma delas é o porquê de um banco estatal decidir comprar o Master. Em mensagens que circularam no WhatsApp entre o alto escalão de instituições financeiras a que o Valor teve acesso, um texto questiona por que o BRB, um banco público, ficou com uma instituição que ninguém mais queria. “Banco compra um banco para acessar clientes, sinergia, distribuição e crédito limpo”, dizia uma das mensagens.
Dúvidas também rondam o valuation de R$ 3,5 bilhões para o Master, e há questionamentos sobre o controle do banco ainda ficar com Vorcaro, já que pelo anúncio ele ficará com a maioria das ações votantes e terá cadeira no Conselho de Administração do BRB.
Faltam também explicações sobre o acordo de acionistas que será firmado entre Vorcaro e BRB.
Os negócios que deixaram o Master conhecido, os investimentos ilíquidos, feitos nas empresas, e os precatórios, segundo reportagem do Valor, serão cindidos e não foram incluídos no negócio com o BRB. Ainda não está claro como ficarão esses ativos, em especial investimentos feitos em diversas empresas.
Fonte: Valor Econômico