Estudo aponta oito tendências para o Brasil, incluindo um foco maior na gestão de pessoas
— De São Paulo
Em 2024, o capital humano deve ser um dos temas principais na governança corporativa de companhias brasileiras. Quem diz isso é Jacques Sarfatti, líder da prática de consultoria em CEO e conselhos da Russell Reynolds no Brasil. “Há uma tendência em olhar esse tema como um ponto estratégico”, afirma. “As empresas não vão atingir resultados se não tiverem um capital humano engajado e com as competências necessárias, então o tema subiu para o conselho. Ele sempre esteve lá, mas não com a devida importância.”
O especialista explica que, desde a pandemia, o capital humano tem ganhado relevância nas empresas. “O mercado e os consumidores mudaram, os funcionários têm outras expectativas, então há um foco maior em questões como engajamento, cultura, remuneração e, principalmente, sucessão. Mas tudo isso com um planejamento estruturado e não por meio de achismos.”
Rich Fields, líder da prática de efetividade de conselho da Russell Reynolds nos Estados Unidos, destaca a necessidade de as empresas brasileiras promoverem também maior diversidade em seus conselhos, assim como as companhias americanas e de países europeus já fazem. “O Brasil ainda tem um longo caminho a percorrer. Investidores importantes, incluindo bancos e credores, estão tornando o seu apoio financeiro dependente de metas de diversidade”, destaca.
Um estudo realizado pela Russell Reynolds Associates apontou as principais tendências de governança para 2024 nos Estados Unidos, Canadá, México, Brasil, Reino Unido, Espanha, países nórdicos, Alemanha, França, Emirados Árabes, Índia, Austrália, Singapura e Malásia, segundo investidores institucionais. “São stakeholders com expectativas e que ditam algumas ações que eles gostariam de ver nos conselhos em termos de melhoria da governança. É um elemento que realmente consegue produzir mudanças em função dos trilhões investidos no mundo todo”, relata Sarfatti.
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Tecnologias disruptivas, diversidade, iniciativas ESG e migração nos padrões de governança são tópicos presentes entre as tendências globais reveladas pelo levantamento. “Esses quatro temas são consistentes em todos os mercados e merecem atenção independentemente do tipo de empresa, pública ou privada, familiar ou não, grande ou pequena”, afirma Fields.
O Brasil ainda tem um longo caminho a percorrer quando se fala em diversidade em conselhos”
— Rich Fields
No Brasil especificamente, oito temas principais foram identificados: sustentabilidade, recuperação do mercado de capitais, ativismo de acionistas, capital humano, risco de retrocesso na governança em empresas estatais, avaliação dos conselhos, diversidade nos conselhos e digitalização e tecnologia.
O estudo, que está na sua nona edição, já costumava trazer alguns desses tópicos em anos anteriores. “Esses têm sido temas para as empresas desde que elas existem. O que difere é quantas estão falando sobre isso ou quão seriamente estão olhando essas preocupações da maneira certa”, explica Fields.
No quesito sustentabilidade, Sarfatti revela que o Brasil está alinhado com padrões internacionais. “A gente está sendo inovador e líder na implantação de iniciativas sustentáveis. Não adianta só falar de financeiro, a gente tem que entender também quais são os impactos na sustentabilidade, e o Brasil está na vanguarda”, diz.
Já a avaliação dos conselhos tem sido uma demanda não só dos investidores como dos próprios conselheiros, diz Fields. Segundo ele, os conselhos têm feito perguntas com mais rigor sobre como está seu desempenho, eficiência, ações e comitês. “Também é importante que discutam se estão fazendo o suficiente para fornecer um bom feedback aos diretores sobre seu desempenho.”
Segundo Sarfatti, a cada ano, mais e mais empresas realizam avaliações de seus conselhos, que são feitas a cada dois anos por agente externo. “Ele ‘tira uma foto’ e avalia o conselho. Não só sua dinâmica, mas uma avaliação individual de cada conselheiro. Com isso é possível identificar oportunidades, comparar com outros conselhos e montar um plano de ação.”
Em relação ao tema da diversidade nos conselhos, Sarfatti detalha que, para além do gênero, os investidores têm buscado outros tipos de diversidade, como a étnica, para compor os quadros de companhias brasileiras. “É preciso ampliar a perspectiva, pessoas diferentes para enriquecer os debates e as decisões”, diz.
Ao mesmo tempo, as iniciativas ESG relacionadas às melhores práticas ambientais, sociais e de governança, aparecem como uma forte tendência no cenário global. No entanto, Fields explica que nos EUA foi atribuída uma conotação política ao termo ESG, o que fez com que a sigla passasse a ser evitada por muitas companhias. “A maioria das empresas americanas fala sobre o tema mas sem usar o termo ESG, pois ele foi politizado por políticos conservadores. Empresas e investidores estão cada vez mais preparados para evitar o seu uso, pois isso leva à má publicidade”, conta.
Pelo menos por enquanto, Sarfatti não vê o risco de o mesmo movimento acontecer no Brasil. “Aqui, há uma grande consciência da sociedade em termos de sustentabilidade e uma vontade maior de estar alinhado a práticas sustentáveis. Isso faz parte da nossa cultura”, observa.
Fonte: Valor Econômico