Por Gabriel Caldeira e Eduardo Magossi — De São Paulo
04/01/2024 05h02 Atualizado há 5 horas
A ata da reunião de dezembro do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) afastou os temores de parte do mercado de que adotaria um tom mais conservador para se opor à precificação agressiva de cortes de juros. Em vez disso, o documento mostrou uma postura mais neutra do colegiado e apenas confirmou a expectativa de que o ciclo de aperto monetário nos Estados Unidos chegou ao fim.
Mesmo assim, os principais mercados em Nova York não encontraram suporte para encerrar o dia em território positivo, em meio a um processo de correção dos fortes ganhos no fim de 2023. Com isso, o índice S&P 500, referência da bolsa de Nova York, terminou o pregão em queda de 0,80%, a 4.704,81 pontos. Já o Dow Jones recuou 0,76%, a 37.430,19 pontos, e o Nasdaq caiu 1,18%, a 14.592,21 pontos.
Na renda fixa, as taxas dos Treasuries, títulos do Tesouro americano, até se firmaram em queda pouco tempo depois da divulgação da ata, mas o movimento positivo perdeu fôlego. Assim, a taxa da T-note de dois anos subiu para 4,341%, de 4,333% no ajuste da véspera; a da T-note de 10 anos recuou de 3,936% a 3,920%; e a do T-bond de 30 anos teve leve queda de 4,077% para 4,071%.
Sem sinalizações claras sobre os próximos passos do Fed, a ata mostrou os dirigentes otimistas com o progresso da inflação americana e, por isso, eles veem os juros nos Estados Unidos no pico ou próximo dele. Quanto aos cortes, o documento se limitou a corroborar as projeções divulgadas em 13 de dezembro ao afirmar que os membros do banco central esperam juros menores até o fim de 2024.
“Política monetária deve continuar diligente sem adotar um ‘piloto automático’” — Thomas Barkin
Para o economista-chefe da Azimut Brasil Wealth Management, Gino Olivares, a ata foi uma tentativa de “esclarecer o mal-entendido” provocado pela comunicação excessivamente dovish (propensa à flexibilização monetária) do presidente do Fed, Jerome Powell, na entrevista à imprensa após a reunião do banco central no mês passado.
O profissional lembra que tentativas feitas por outros dirigentes do Fed nesse sentido surtiram pouco efeito nos preços. Nesta quarta-feira, foi a vez de Thomas Barkin, presidente do Fed de Richmond, alertar contra o otimismo exacerbado dos investidores. Em discurso durante evento da Câmara do Comércio de Raleigh, o banqueiro central disse que o cenário de pouso suave não é “inevitável” e, por isso, a política monetária deve continuar diligente aos dados, sem adotar um “piloto automático”.
“O que interessa é a mensagem que se quis passar, que foi a seguinte: muito provavelmente haverá cortes de juros em 2024; mas eles não são iminentes. Os mercados, que ficaram nervosos nos últimos dias pela expectativa de uma mensagem mais dura, aparentemente reagiram bem. Segue o jogo”, diz Olivares.
Fonte: Valor Econômico