Por Dinesh Nair e Nicolas Parasie, Bloomberg
01/09/2023 12h54 Atualizado há 2 dias
Monarquias do Golfo ricas em petróleo têm fechado cada vez mais negócios internacionais por meio de empresas estatais, em vez de fundos soberanos da região, à medida que procuram diversificar suas economias e aumentar sua influência global.
Juntamente com bilhões de dólares de investimentos soberanos, estatais nos Emirados Árabes Unidos e na Arábia Saudita – muitas das quais também são apoiadas por fundos soberanos – estiveram presentes em pelo menos US$ 50 bilhões em acordos neste ano em diversos setores, como telecomunicações, energias renováveis e jogos.
Embora seja provável que a onda de investimento global de fundos soberanos continue, mais negócios estratégicos devem ser fechados por meio das maiores empresas da região, como a Masdar, produtora de energia limpa de Abu Dhabi, o Emirates Telecommunications Group e a Saudi Arabian Mining Co.
Nesta semana, a Pure Health – controlada pela ADQ de Abu Dhabi – comprou uma das maiores operadoras hospitalares independentes do Reino Unido, em um acordo de US$ 1,2 bilhão. A AviLease, uma companhia de leasing de jatos de propriedade do Fundo de Investimento Público (PIF) da Arábia Saudita, decidiu adquirir a divisão de financiamento para aviação do Standard Chartered por US$ 3,6 bilhões.
“Empresas no Médio Oriente, especialmente na Arábia Saudita e nos Emirados Árabes Unidos, estão sendo empoderadas por seus investidores soberanos para buscar transações transformadoras”, disse Hamza Girach, codiretor do Citigroup para os segmentos bancário, de mercado de capitais e consultoria no Oriente Médio e África. “Esta é a maior mudança que temos observado quando se trata de acordos no Oriente Médio, que é o surgimento destas empresas que buscam crescimento no exterior e desejam se expandir por meio de aquisições.”
Ao longo do último ano, muitos dos banqueiros globais recorreram aos fundos soberanos do Golfo – que controlam juntos pelo menos US$ 3 trilhões em ativos – para serem uma fonte líder de financiamento à medida que outros recuavam. Os acordos no Oriente Médio aumentaram 39% no ano passado, impulsionadas por fundos soberanos e empresas da região, de acordo com relatório da Bain & Co. O ganho se compara a uma queda de 12% na atividade global de fusões e aquisições.
Banqueiros de Wall Street agora dedicam mais tempo cultivando relacionamentos com algumas das principais empresas da região do Golfo, em vez de concentrarem todos seus esforços em fundos soberanos. Muitas dessas companhias nomearam recentemente novas equipes de gestão com experiência em negociações, relações com investidores e finanças para realizar aquisições.
Muitas estatais têm gastado amplas reservas de capital para concretizar negócios. A Adnoc se prepara para aumentar sua oferta informal ao grupo químico alemão Covestro para cerca de 11,6 bilhões de euros (US$ 12,7 bilhões), contra uma oferta anterior de 11 bilhões de euros, segundo apurado pela Bloomberg.
Acordos frustrados
Outras tentativas de expansão internacional tiveram menos sucesso. O Saudi National Bank, no qual o fundo soberano do reino tem uma fatia de 37%, planejava utilizar seu investimento no Credit Suisse para expandir os negócios de gestão de patrimônio e de banco de investimento dentro do reino e a nível mundial, mas comentários do presidente do conselho da instituição saudita desencadearem uma série de eventos que acabaram por levar ao colapso do banco suíço.
Em Abu Dhabi, a estatal Emirates Steel Arkan desistiu em julho de um possível investimento no braço siderúrgico da Thyssenkrupp, apesar de buscar formas de expandir seus negócios com vários parceiros como parte do que chamou de “estratégia de crescimento ambiciosa”.
Ainda assim, tais experiências não minam as ambições das maiores companhias da região. A Masdar, maior empresa de energia renovável dos Emirados, está à procura de provedoras de energia em mercados como EUA e Europa e de projetos eólicos offshore na Ásia, com o objetivo de mais do que duplicar suas operações nesta década. E com o plano da Adnoc de comprar a Braskem em parceria com a Apollo Global Management por cerca de US$ 7,6 bilhões e um acordo de US$ 2 bilhões com a BP para adquirir a Newmed de Israel, mais negócios gigantescos estão a caminho.
“As equipes de negociação tornaram-se muito mais sofisticadas, com pedigrees corporativos impressionantes e um ‘dedo no pulso’ em termos de serem capazes de identificar oportunidades de mercado lucrativas em vários setores e geografias”, disse Melissa Forbes-Miranda, advogada e sócia de fusões e aquisições da Stephenson Harwood, em Dubai. “A influência de empresas apoiadas por fundos soberanos nas negociações globais deve aumentar ainda mais ao longo da próxima década e depois.”
Fonte: Valor Econômico