Por Estevão Taiar e Lu Aiko Otta — De Brasília
12/04/2022 05h03 Atualizado há 4 horas
O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de março foi uma “surpresa” e o Banco Central (BC) avaliará se o indicador pode influenciar a “tendência” da inflação, afirmou ontem o presidente da autoridade monetária, Roberto Campos Neto.
O executivo reconheceu que a trajetória de preços já “está muito alta”, assim como os núcleos de inflação, que são mais sensíveis à atividade econômica e à taxa básica de juros. Por isso, a surpresa inflacionária do mês passado será “bastante” debatida, segundo ele. As declarações tiveram repercussão imediata no mercado, com os juros futuros passando a precificar maior probabilidade de o ciclo de alta da Selic continuar depois de maio.
“Nossa inflação está muito alta, os núcleos estão muito altos”, disse Campos ontem, em evento virtual promovido por Arko Advice e Traders Club. “Temos comunicado com a maior transparência possível o nosso processo de enfrentamento contra essa inflação mais alta e persistente. Acho que é um tema que a gente discutirá bastante nos próximos dias.”
Divulgado na sexta-feira pelo IBGE, o IPCA de março ficou em 1,62%, o maior valor para o mês desde 1994. Em 12 meses, o indicador subiu de 10,54% em fevereiro para 11,3% em março. A projeção mediana e a mais alta do Valor Data eram, respectivamente, de 10,97% e 11,09%. Para conduzir a taxa básica de juros, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC mira 2023, ano para o qual a meta de inflação é 3,25%, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos.
Segundo Campos, uma parcela da surpresa de março pode ser explicada por um repasse mais rápido da elevação dos preços de combustíveis à bomba. A tendência, de acordo com ele, é que esse movimento seja pelo menos parcialmente compensado em abril.
“Em parte foi isso, mas houve outros elementos [de surpresa em março], como vestuário, alimentação fora do domicílio”, disse. “Estamos analisando essas surpresas, vendo se mudam alguma coisa na tendência. Essa surpresa também se fez presente em vários outros países [recentemente].”
Atualmente, a Selic está em 11,75% ao ano. No comunicado divulgado após a última reunião, em março, o Copom afirmou que antevia alta de 1 ponto percentual, para 12,75% ao ano, no encontro de maio. Já na entrevista coletiva do Relatório Trimestral de Inflação, no fim do mês passado, Campos indicou que a elevação para 12,75% poderia ser a última do ciclo.
No evento de ontem, Campos também chamou a atenção para um novo “choque de energia” sobre os preços, decorrente da guerra na Ucrânia, e para a proporção “bastante alta” de itens do IPCA que estão com preços em elevação. Mas, em sentido oposto, afirmou que diversas instituições financeiras, consultorias e gestoras de recursos ainda incorporam projeções, ao que tudo indica, elevadas para o câmbio em seus modelos.
“Quando olho as estimativas que recebo do mercado, algumas pessoas já colocaram o câmbio todo na conta, outras não. Ainda vemos muitas casas com câmbio em R$ 5,25, R$ 5,30, R$ 5,35”, afirmou. Além disso, lembrou que elevações da Selic operam com defasagem. “Grande parte do trabalho que a gente fez em termos de alta de juros terá um forte impacto nos próximos trimestres”, disse.
“Como dissemos no comunicado, a gente está sempre aberto a analisar o cenário se identificarmos algo diferente do padrão até então.”
Fonte: Valor Econômico
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