O presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou no domingo, em conversa com a imprensa na 20ª Cúpula de Líderes do G20 em Joanesburgo, na África do Sul, que o acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia deve ser assinado no dia 20 de dezembro.
A se confirmar, a assinatura do acordo comercial entre os dois blocos ocorrerá depois de 25 anos de negociações. A data coincide com a próxima reunião da Cúpula dos Líderes do Mercosul, que ocorrerá em Foz do Iguaçu, no Paraná. O Brasil ocupa a presidência rotativa do bloco.
A Secretaria de Comércio Exterior (Secex), vinculada ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic), estima que o tratado pode gerar um efeito de “transbordamento”, ao tornar a indústria brasileira mais competitiva e, com isso, ampliar as exportações para outros mercados, além de inserir insumos nacionais nas cadeias produtivas europeias que abastecem outras regiões do mundo.
Simulação feita pela Secex, com exclusividade para o Valor e publicada na semana passada, indica que, em um horizonte de 20 anos após o início do acordo, as exportações brasileiras totais cresceriam 2,7% ante o cenário sem acordo. As vendas aumentariam 13% para o mercado europeu, mas o efeito de encadeamento das cadeias produtivas e a redução de custos de insumos também ampliariam as exportações para Estados Unidos (alta de 2,6%) e China (1,6%).
No encontro, Lula minimizou a ausência do presidente Donald Trump dos Estados Unidos, e declarou que gostaria de falar com ele sobre a presença militar dos Estados Unidos no mar do Caribe. As forças armadas americanas têm realizado várias operações na região contra embarcações supostamente usadas pelo tráfico de drogas, mas a maior ameaça é uma ação militar contra a Venezuela. Os Estados Unidos acusam o governo de Nicolás Maduro de envolvimento com o narcotráfico.
Presidente ironiza e diz que ausência dos EUA é sinal apenas de que eles não compareceram ao encontro
Sobre o aumento da tensão militar no perímetro próximo das Américas Central e do Sul, Lula disse que deseja tratar do tema com Trump. “Me preocupa muito o aparato militar que os EUA colocaram no mar do Caribe”, justificou, ao ser questionado sobre as investidas dos militares americanos na região, e um eventual ataque à Venezuela. O presidente repetiu que a América do Sul é uma “zona de paz”, que o Brasil tem responsabilidade na região, e lembrou que o País faz fronteira com a Venezuela, “e não é pouca coisa”.
O presidente relativizou a ausência de Trump e do líder chinês Xi Jinping. “Não é a primeira vez que falta um líder importante”, alegou. Ele disse que a China mandou outros representantes, enquanto Trump, que não enviou ninguém, terá que presidir o próximo encontro, quando, segundo ele, “todos estarão lá”.
Questionado se a aprovação do texto final sem os Estados Unidos seria um sinal de enfraquecimento de reuniões desse tipo, ele negou. “É sinal de que os Estados Unidos não estavam presentes, o único sinal é esse”, afirmou. “Os Estados Unidos não estavam presentes, então não sabemos se ele concordou ou não, não tem outro significado”, descartou.
Lula acrescentou que Trump já se afastou da Unesco e da Organização Mundial do Comércio. “Ele tenta fazer uma pregação prática e fortalecer o unilateralismo, mas acho que vai vencer o multilateralismo”, observou. “Todos os presidentes já faltaram em uma reunião, e a reunião acontece. Pelo fato de EUA não estar presente, ele não participou do documento, mas os 19 países que estavam, o aprovaram por unanimidade.”
A cúpula aprovou uma declaração sobre a crise climática e outros desafios globais. Foi a primeira vez que o evento ocorreu em território africano. A ausência de Trump deixou dúvidas sobre a força do G20 e a capacidade de manter seu papel desde 2008, quando funcionou como eixo de coordenação na crise financeira global.
Lula afirmou que sai satisfeito do G20 e, na sequência, irá a Moçambique. Depois volta ao Brasil, e não pretende viajar mais neste ano, a não ser para o Paraná, a fim de assinar o acordo comercial com a União Europeia.
Fonte: Valor Econômico

