Nos próximos 18 meses, o mercado brasileiro de “data centers” acelera sua expansão geográfica e terá novos movimentos de fusões e aquisições, prevê o relatório Global Data Center Trends 2025 feito anualmente pela CBRE, empresa americana de serviços e investimentos imobiliários comerciais.
O relatório anual, que analisa os principais mercados de centros de dados do mundo, na América do Norte, Europa, Ásia-Pacífico e América Latina, aponta a cidade de São Paulo como líder no mercado latino-americano de “data centers” com 493 Megawatts (MW) de capacidade em operação, um crescimento de 12,8% no primeiro trimestre de 2025 ante igual período de 2024. Na sequência está Santiago, no Chile, com 148 MW, alta de 23%.
A capital paulista não deixará de ser um grande polo de centros de dados, mas a falta de espaço e a demanda mais robusta de energia gerou um gargalo na região e a busca por novas estruturas fora da capital paulista, nas regiões Nordeste, especialmente em Fortaleza (CE), e Sul, aponta a CBRE.
“Novos projetos que demandam de 50 MW a 300 MW têm quer ir além de São Paulo, buscando regiões como Jundiaí e Grande Campinas, no interior do Estado”, observa o gerente de soluções de data center para América Latina da CBRE, Alison Takano, ao Valor.
O movimento de descentralização geográfica de centros de dados é global, nota Takano. “O que temos visto, por exemplo, nos EUA é a migração de mercados óbvios como Virgínia do Norte, Phoenix e Atlanta, para locais como Richmond, na Virgínia, e Des Moines, em Iowa, nos últimos 18 meses”.
Em mercados mais maduros como a Virgínia do Norte, a capacidade operacional de “data centers” é de mais de 3 Gigawatts (GW), mais de seis vezes a capacidade de São Paulo. Outros mercados de grande porte como Londres, na Inglaterra, Frankfurt, na Alemanha, e Tóquio, no Japão, operam mais de 1 GW.
Além de Richmond, na América do Norte, o relatório destaca oportunidades para os “data centers” em Santiago (Chile), em Mumbai (Índia) e Bruxelas e Zurique, na Europa.
Outra projeção para o mercado brasileiro é a continuidade de fusões e aquisições envolvendo investimentos de grupos internacionais. Takano cita o exemplo da Odata, que pertencia ao fundo Pátria, e foi comprada pela americana Aligned Data Centers, em dezembro de 2024.
Segundo Takano, o cenário favorável do Brasil, em termos de infraestrutura, conectividade e alta capacidade de produção energética, segue atrativo a empresas de “data center” internacionais, ‘big techs’ e fundos de investimento que buscam alternativas fora da América do Norte e Europa.
O especialista nota que o avanço nas questões de regulamentação jurídica, fiscal e políticas de incentivos nacionais ao setor colaboram para tornar o Brasil mais atrativo a investimentos frente a outros países emergentes.
“Alguma política de incentivo à atração desse investimento é necessária porque o Brasil tem um peso grande em tributos e a taxa de importação [de componentes como chips de IA ] gera um aumento muito grande em gastos de capital (Capex) para as empresas”, observa Takano. “Só terra e energia disponíveis não fazem verão”.
Apesar da demanda resiliente por serviços de nuvem computacional, os mercados enfrentaram uma desaceleração temporária de novos projetos devido a incertezas sobre tarifas e aquisição de energia, aponta o relatório. “É um mercado cíclico como qualquer mercado do setor imobiliário”, observa Takano. A expectativa é de retomada dos projetos pelas “big techs”, após uma fase de revisão de gastos, a partir de 2026, incluindo “projetos de maior porte com o componente de inteligência artificial (IA)”.
A vacância global de centros de dados caiu para 6,6% – queda de 2,1 pontos percentuais no primeiro trimestre de 2025, em base anual. Neste mesmo intervalo, o preço médio por quilowatt (KW) – ou seja, o preço pago pelo usuário do centro de dados – subiu 3,3% para US$ 217,30 (R$ 1.177,80 pela cotação do Banco Central), com altas mais expressivas de 17,6% na Virgínia do Norte e de 18% em Amsterdam.
Por outro lado, mercados menores como São Paulo e Santiago tiveram queda de 20,8% e 13,7%, respectivamente. Em São Paulo, o valor da locação de espaços para servidores dos “data centers” varia de US$ 100 a US$ 280 (R$ 542 a R$ 1.517,66) por KW.
Segundo Takano, a variação reflete a dinâmica entre oferta e procura: “Neste último ano tivemos muita entrega de novos ‘data centers’ nessas regiões e mais empresas entrantes. Então há uma tendência natural de queda de preços, que deve se regularizar no próximo ano.”
Fonte: Valor Econômico
