Por Liane Thedim — Do Rio
12/03/2024 05h01 Atualizado há 3 horas
A Nau Capital, escritório de agentes autônomos voltado ao público de altíssima renda que tem R$ 5,5 bilhões sob assessoria, busca novos caminhos em meio ao rearranjo geral do segmento de super-ricos causado pela taxação dos fundos fechados exclusivos. O escritório, vinculado à XP, recebeu o sinal verde da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) para sua gestora de investimentos, a Nau Asset.
Segundo Daniel Prado, sócio fundador da empresa, a ideia é atuar em nichos pouco explorados no mercado. Ele cita como exemplo seu produto de estreia, o Nau Renda Urbana, fundo imobiliário (FII) de gestão ativa que desenvolve lojas para grandes redes de varejo, lançado no fim de 2023 e que levantou R$ 300 milhões.
“Vimos muitas gestoras fazendo logística e prédios corporativos, mas poucos em renda urbana. É uma lacuna que não bate com grandes players”, afirma Prado. Os contratos são restritos a locatários com alta nota de crédito, têm prazo de 20 a 25 anos e os empreendimentos ficam em regiões nobres. Ele cita ainda outras vertentes a serem exploradas nas áreas de private equity e venture capital. O objetivo é chegar ao fim do ano com R$ 1 bilhão sob gestão.
Fundada por ex-executivos da área de private banking do BTG, a Nau opera no modelo semelhante a um “multifamily office”, com somente 1,5 mil clientes e tíquete médio de R$ 32 milhões. A casa tem 16 fundos exclusivos fechados, geridos pela XP Advisory. Prado conta que, com a mudança na taxação dos fundos exclusivos, 80% dos clientes optaram por desfazer a estrutura. A proibição, na semana passada, de formação de planos fechados de previdência, a partir de R$ 5 milhões, tornou a situação ainda mais difícil, segundo ele.
“Dessa forma, o principal produto para nós como escritório passou a ser a carteira administrada. Foi super oportuno o momento da aprovação da gestora, que abre novos caminhos e permite que possamos reter os recursos que temos atualmente sob assessoria.” A Nau comprou em julho o controle da Alpha, que tinha R$ 100 milhões sob gestão e agora passa a se chamar Nau Asset. De acordo com Prado, as carteiras administradas podem incluir qualquer ativo, inclusive renda variável, mas a preferência tem sido por renda fixa isenta. “Não pretendemos ser uma gestora de fundos líquidos. É um mercado já com muita gente com bom histórico operando.”
O Nau Renda Urbana tem 80 cotistas e empreendimentos já prontos ou em construção, em parceria com a construtora Telmec, no modelo de “built to suit” (BTS), sendo duas no Rio (Bangu e Angra dos Reis) e outra em São Paulo (Guarujá), para a rede Assaí. Dos R$ 300 milhões levantados, R$ 60 milhões foram aportados pelos sócios e clientes da Nau e o restante veio da emissão de Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRI), adquiridos pela XP Asset. A expectativa é que o fundo entregue taxas de retorno superiores a 30% ao ano, considerando a venda dos ativos no terceiro ano do fundo.
O sócio-fundador da Nau afirma que estão em negociação outras três lojas, desta vez com Ceconsud e Obramax, bandeira da Leroy Merlin. Prado explica que uma grande vantagem do FII é o esquema de construção escolhido, o de estrutura metálica, que leva quatro meses para ser finalizada e é muito procurado por supermercados, redes de atacarejo e de material de construção e esportivo. O alvo é o Sudeste, mas a empresa também está avaliando outras regiões. Embora listado na B3, é um fundo que não tem liquidez. Segundo Prado, a ideia é fazer uma oferta pública em 2025 para ampliar o número de cotistas e aumentar o volume de negociação.
Para novos fundos, o executivo conta que a Nau avalia investir na construção de silos de armazenamento para o agronegócio, além de um fundo de participações ou de crédito privado focado em empresas de tecnologia. “Queremos atuar em nichos específicos onde complementamos grandes gestores e trazemos diferencial para os clientes.” Fundada em 2020, a Nau Capital recebeu dois aportes da XP, um em sua estreia e outro em 2022, tem cerca de 1,5 mil clientes e escritórios em São Paulo, Belo Horizonte e Goiânia.
Fonte: Valor Econômico

