O presidente do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, informou que a falta de uma indicação clara de corte de juros para a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) de janeiro não significa que essa hipótese foi excluída do leque de possibilidades para esse encontro. “Não há nenhuma seta dada, nem porta fechada para as próximas reuniões”, disse e repetiu nesta quinta-feira (18), durante entrevista coletiva de divulgação do Relatório de Política Monetária (RPM).
Segundo o presidente do BC, não há nenhuma decisão previamente tomada pelo colegiado para a próxima reunião e as seguintes. Ele explicou que isso será feito com base nas informações e no cenário econômico disponíveis em cada encontro, conforme o cenário for evoluindo. “Entendo que exista, às vezes, uma ansiedade para que o BC sinalize com um telão em neon o que vai fazer”, disse. “Mas a gente está dependente de dados.”
Foi a primeira fala pública do presidente do BC desde a reunião do Copom que manteve a taxa básica de juros, a Selic, em 15% ao ano. Nos últimos dias, uma parte do mercado entendeu a falta de sinalização explícita do BC sobre cortes de juros em janeiro como uma mensagem conservadora.
Esse foi um dos fatores que levaram o mercado a aumentar de 47% para cerca de 74% a chance de manutenção da Selic em janeiro nas opções do Copom negociadas na B3, ao lado do aumento da percepção de risco político pelo mercado, depois que uma pesquisa eleitoral da Quaest indicou menores chances de uma eventual candidatura à Presidência do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas. Nesta quinta-feira, conforme Galípolo falava, as chances de manutenção de juros recuaram para 65%.
Segundo Galípolo, a comunicação oficial do Copom “não dá dica” sobre o que vai fazer no futuro porque o colegiado ainda não decidiu quais serão os próximos passos. “Toda vez que tem uma incerteza, a gente confessa: é assim que a gente está vendo. Vamos reunir dados e, a partir da reunião de dados, chegar à conclusão.”
Galípolo também procurou esvaziar a leitura que participantes do mercado vinham fazendo de que as projeções de inflação do Copom sejam um sinalizador que indique ou desautorize quedas na taxa Selic.
“Conforme fomos retirando algumas expectativas [entre participantes do mercado] de palavras-chave serem gatilhos de sinal de baixa de juro, todo mundo vai migrando para que a projeção vire um sinal”, comentou. Segundo ele, as projeções de inflação não são um sinal nem um gatilho do Banco Central para cortar os juros — são, na verdade, um dos muitos elementos que a autoridade monetária vai analisar para decidir o que vai fazer.
As projeções de inflação entraram no centro do debate sobre a baixa de juros depois que o Copom, em reunião na semana passada, reduziu para 3,2% a sua estimativa para a variação do índice de preços para o período de 12 meses até junho de 2027. Esse é o período em que o Banco Central, atualmente, se propõe a cumprir a meta de inflação, de 3%.
Os participantes do mercado vêm expressando duas visões distintas. Alguns dizem que, em 3,2%, a projeção de inflação impede o Copom de iniciar um ciclo de corte de juros, porque está acima da meta. Outra visão, mais otimista, é que, em 3,2%, a projeção de inflação permitiria cortar os juros. Isso porque estaria estatisticamente em torno da meta, já que há incertezas num horizonte de tempo tão longo.
Também presente na entrevista coletiva, o diretor de política econômica do BC, Diogo Guillen, criticou o que chamou de visão “mecanicista” das projeções de inflação — ou seja, a visão de que esse fator, isoladamente, seja determinante das decisões do Copom. “Não tem um elemento unidimensional”, disse. “Não é olhar apenas a projeção, não é olhar apenas o balanço de riscos, não é olhar apenas o hiato [do produto, uma medida de ociosidade da economia].” Segundo ele, o BC observa um conjunto de informações para decidir.
“Não adianta querer achar que vai ter uma coisa, nem a projeção. Não vai ter uma coisa, vai ser uma série de coisas que a gente vai estar analisando”, reforçou o presidente do BC.
Guillen destacou, ainda, o quanto essas projeções de longo prazo são imprecisas. “Adoraria ter [um intervalo de confiança] de 0,1 ponto percentual para uma projeção de inflação feita para um período 18 meses à frente”, disse, lembrando que são comuns surpresas dessa magnitude ou maiores em dados mensais sobre índices de preços.
Na entrevista, Galípolo foi questionado mais de uma vez sobre como o Copom reagiria aos efeitos nos mercados das incertezas eleitorais. Nos últimos dias, em virtude em parte da apresentação da pré-candidatura do senador Flávio Bolsonaro e da percepção de que as chances eleitorais de Tarcísio são menores, a taxa de câmbio chegou a R$ 5,52, a maior cotação desde agosto.
“O processo eleitoral só entra na nossa equação a partir do ponto que ele afeta fundamentos que vão afetar a variável-chave para a gente, que é a nossa meta de inflação”, respondeu Galípolo. Ele lembrou, porém, que a política monetária foca um horizonte mais longo do que o simples ano eleitoral. A partir de janeiro, as decisões do Copom terão como alvo a inflação acumulada até setembro de 2027. “O nosso horizonte relevante já é um horizonte que perpassa o processo eleitoral.”
Para a reunião de janeiro, o Copom não terá a presença dos diretores de política econômica, Diogo Guillen, e de organização do sistema financeiro e de resolução, Renato Gomes, cujos mandatos acabam no próximo dia 31. Até que o governo indique os sucessores e o Senado os aprove, o diretor de assuntos internacionais e de gestão de riscos corporativos, Paulo Picchetti, acumulará a diretoria de Guillen, e o diretor de regulação, Gilneu Vivan, a de Gomes.
Outro tema tratado na coletiva foi o do Banco Master e a decisão do ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF), de fazer oitivas sobre o caso com dirigentes do BC. Galípolo disse que está à disposição para fornecer todos os dados para o STF. “A gente documentou tudo, cada uma das ações que foram feitas, cada uma das reuniões, cada uma das trocas de mensagens, cada uma das comunicações. Tudo isso está devidamente documentado e, obviamente, estamos, como não poderia ser diferente, à disposição do Supremo”, disse.
Fonte: Valor Econômico

