Lucros muito fortes das empresas americanas e uma temporada de balanços do quarto trimestre sólida têm sido os principais propulsores da bolsa americana mesmo em um cenário macro desafiador, com juros elevados e inflação resiliente, o que tem feito o Federal Reserve (Fed, banco central americano) adiar cada vez mais o início do afrouxamento monetário. A avaliação é de Fernando Ferreira, estrategista-chefe do research da XP, para quem um bom exemplo foi a divulgação do forte resultado da Nvidia, acompanhado de um “guidance” acima do esperado.
“Os investidores de bolsa estão olhando os lucros das empresas e eles vêm vindo acima do esperado, o que já fez as bolsas americanas avançarem 5% este ano. Elas sobem pela perspectiva de lucros, dando menos atenção à política monetária”, disse ele. Isso tem feito com que muitos estrategistas elevem as projeções para o S&P 500 terminar o ano em 5.400 pontos, bastante acima dos patamar atual de 5.000.
“No quarto trimestre de 2023, quase 80% das empresas bateram a expectativa de lucros. Mas o que surpreendeu é que os lucros cresceram cerca de 8% e ficaram 11% acima do esperado no período, ante uma média de 2% a 3%”.
O estrategista nota que existe uma divergência grande no mercado. “Os juros estão elevados, os rendimentos dos Treasuries também, o que seria negativo para as bolsas. Mas, mesmo assim, elas continuam subindo e o impulso vem da dinâmica dos lucros.”
Apesar do otimismo de alguns estrategistas, Ferreira vê que, ao contrário da Nvidia, o guidance da maioria das empresas está conservador, o que mostra que elas estão preocupadas. “As empresas estão tendo bons resultados, mas não estão inflando as expectativas para este ano. Veja Google e Microsoft, que tiveram resultado acima do esperado, mas ‘guidances’ mais conservadores e viram suas ações caírem. O mercado pode criar expectativas elevadas e acabar se frustrando”.
Além disso, a avaliação de Ferreira é que, mesmo se o S&P 500 chegar aos 5.400 pontos, a expectativa de retorno futuro é muito baixa. “O múltiplo de entrada do S&P está em 22 vezes o lucro, o que é muito caro. Mesmo extraindo as sete grandes empresas de tecnologia do índice, o múltiplo fica em 17 vezes o lucro, o que não é nenhuma barganha, principalmente em um cenário de juros a 5,5%”, explica.
“O investidor vai pagar caro na bolsa americana com uma expectativa de lucro relativamente baixa, cerca de 5% de acordo com o consenso. Não é uma combinação construtiva. Por isso, reduzimos nossa exposição nos EUA este ano”.
O mercado pode criar expectativas elevadas e acabar se frustrando”
Fonte: Valor Econômico

