Por Liane Thedim — Do Rio
04/09/2023 05h03 Atualizado há 6 horas
Depois de meses amargando perdas, os fundos ensaiaram uma recuperação em agosto. Levantamento da plataforma de informações financeiras Comdinheiro/Nelogica mostra que, até o dia 30, os fundos de renda fixa tiveram captação líquida de R$ 36,6 bilhões, a maior desde março de 2022. Já os multimercados registraram o primeiro mês no azul desde outubro de 2022, com saldo de R$ 8,7 bilhões. Os fundos de ações tiveram o resultado mais fraco, mas também no campo positivo, o primeiro desde setembro de 2021, com R$ 637,1 milhões.
Os números refletem um movimento de busca de alternativas por parte do investidor, que desde o início do ano estava concentrado em títulos bancários isentos de Imposto de Renda. Entre janeiro e junho, segundo a Anbima, foram R$ 149 bilhões para esses títulos, enquanto os fundos perderam R$ 205 bilhões. “Agora a emissão desses papéis vai desacelerar, porque os bancos precisam de lastro. Além disso, os juros em queda levam o investidor a outros caminhos”, afirma Stefano Catinella, diretor comercial da Itaú Asset.
Carlos Carvalho, sócio e diretor de gestão da Kínitro Capital, que tem R$ 1,3 bilhão sob gestão, diz que a migração para instrumentos que garantam uma rentabilidade acima da “barreira mágica” de 1% ao mês é natural. No entanto, a escolha ainda está em produtos com menor risco, caso dos fundos de renda fixa com gestão ativa e os multimercados. “É um movimento cauteloso. Para o investidor se permitir correr mais risco, é preciso que o ambiente macroeconômico mais estável se consolide e que o ciclo de cortes de juros se confirme”, afirma Carvalho.
Eduardo Grübler, gestor quantitativo da Warren, diz que os investidores institucionais locais voltaram com mais força à bolsa em agosto, mas, por outro lado, os estrangeiros tiveram saída expressiva, com saldo negativo de R$ 9,7 bilhões até o dia 30. “Não é surpresa essa saída depois de um movimento tão significativo de alta nos últimos meses, mas esse movimento acabou levando a uma correção forte das ações.” Essa volatilidade acaba atrasando a volta do brasileiro para ações. “O início da tomada de risco naturalmente está começando pelos multimercados e pelos produtos de renda fixa mais sofisticados.”
Rodrigo Fontana, gestor de portfólio da Guide Investimentos, se diz cético em relação à retomada mais rápida do fluxo para ativos de risco. “A Selic vai permanecer em dois dígitos por um bom tempo, e o brasileiro relaciona boa rentabilidade ao nível de 1% ao mês sem fazer juízo de valor do risco. O fluxo virá mais forte quando a taxa cair abaixo de 10%.”
Segundo ele, antes de uma recuperação mais consistente dos fundos de ações, virá a retomada dos fundos de crédito, que sofreram mais de R$ 100 bilhões em resgates no primeiro semestre e agora iniciam uma curva de melhora. “Há fundos que estão rendendo até 150% do CDI. Quando o investidor vislumbrar isso, a classe voltará a ter apelo.”
Para Filipe Ferreira, diretor da Nelogica para a Comdinheiro, o momento é positivo, com a indústria voltando a captar, mesmo que ainda com tendência tímida ao risco: “Há espaço para o mercado voltar a se aquecer, saindo dos títulos isentos. Pode até ser dentro da renda fixa mesmo, mas que sejam produtos financeiros.”
Fonte: Valor Econômico

