O adjetivo “desafiador” já virou uma espécie de jargão na indústria de fundos de investimento na hora de se descrever situações complexas, que exigem dos gestores uma boa combinação de conhecimento técnico, sangue frio e um pouco de sorte. Mas é essa a palavra que mais bem se encaixa no cenário dos fundos multimercados, incluindo os de previdência. O nível alto da taxa básica de juros e as incertezas relacionadas às contas públicas no Brasil e à trajetória dos juros americanos tornam ainda mais complicada a missão de gerar bons retornos para os investidores desses fundos, embora haja algumas sinalizações de eventos positivos no horizonte dos próximos meses.
Quando se trata de previdência, os fundos multimercados têm conseguido manter os aportes dos investidores, diferentemente do que tem acontecido com os multimercados não vinculados aos planos de reserva financeira para aposentadoria.
Segundo o boletim de fundos de investimento da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), nos dez primeiros meses deste ano a captação líquida (entradas menos saídas) dos fundos de previdência multimercados ficou positiva em R$ 14 bilhões, considerando as subcategorias de multimercados livre (R$ 13,3 bilhões) e multimercados juros e moedas (R$ 710,1 milhões). No primeiro caso, os gestores têm liberdade para escolher em quais tipos de ativos vão aplicar os recursos dos cotistas, incluindo renda fixa e renda variável, sempre dentro dos limites estabelecidos pelo regulamento; no segundo, as alocações são em renda fixa (juros) e mercado de câmbio.
Uma das gestoras ranqueadas no top 10 da categoria multimercados é a do BTG Pactual, que aposta na previdência como uma ferramenta a mais de diversificação. “Esses fundos são uma maneira de o investidor diversificar suas carteiras voltadas ao longo prazo. Ele pode combinar estratégias ativas e passivas e em fundos que aportam recursos em ativos que vão de juros e moedas a crédito privado e ações, e em diversas geografias, sempre respeitando o seu perfil”, afirma Júlio Filho, portfolio manager da BTG Pactual Asset Management. A gestora, diz, trabalha produtos de previdência nessa categoria divididos em famílias: juros e moedas, crédito e bolsa.
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Ele vê boas perspectivas para esses fundos no próximo ano, com oportunidades no Brasil e no exterior. “Acreditamos que se realmente os juros americanos entrarem num ciclo de cortes, isso vai abrir muitas portas para os emergentes, incluindo o Brasil”, avalia.
As taxas americanas caíram apenas duas vezes nos últimos quatro anos, sendo o último corte no início de novembro. Nesse cenário, aumenta o chamado diferencial de juros, situação em que os investidores podem ganhar mais em um mercado que tenha taxas básicas mais altas – na prática, tendo o Brasil uma Selic ainda na casa de dois dígitos, a tendência é de maior fluxo de recursos externos para o país. Isso pode ter também implicações sobre o dólar, que tende a se desvalorizar por aqui.
Filho destaca também a expectativa dos mercados em relação à condução da política econômica de Donald Trump, que em 2025 retorna à Casa Branca.
Entre os fundos de previdência multimercados existem também os chamados balanceados, nos quais os gestores recorrem a algumas estratégias para manter um certo equilíbrio entre a exposição a risco do fundo e o retorno que precisam devolver aos investidores. Essas estratégias – particularmente relevantes para os fundos de previdência, cujo objetivo central é garantir uma reserva para a aposentadoria do cotista – têm a ver com o percentual da carteira que fica exposto a ativos de renda variável. Isso porque, por sua própria natureza de volatilidade, as ações de empresas carregam mais risco que os ativos de renda fixa.
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O boletim da Anbima mostra uma captação líquida positiva de R$ 68,1 milhões de janeiro a outubro para os fundos de previdência balanceados. Considerando as subdivisões dessa categoria, contudo, o desempenho em termos de captação varia bastante. Os que se saíram melhor foram os balanceados até 15 (R$ 107,2 milhões no período), fundos em que a exposição à renda variável está limitada a 15% da carteira. Os demais são 15-30 (captação líquida negativa de R$ 19,3 milhões) e acima de 30 (captação líquida negativa de R$ 19,9 milhões).
De acordo com Altair Cesar, superintendente de investimentos da Brasilprev, uma das gestoras ranqueadas na categoria balanceados acima de 30, uma das estratégias dos fundos da casa é a gestão setorial da parte de renda variável. “Em vez de comprar as ações do Ibovespa, por exemplo, os fundos têm papéis de empresas escolhidas entre os setores que consideramos mais promissores”, afirma Cesar. “Para fazer essa seleção, contamos com aprofundadas análises prospectivas da nossa área técnica”, acrescenta.
O superintendente lembra que a estratégia também inclui ações de empresas no exterior, respeitando os limites de alocação internacional estabelecidos pela regulação. “Nossos fundos dessa categoria têm exposição à renda variável em diversas geografias, como Ásia, Europa e América Latina”, completa. A Brasilprev também aparece no ranking da subcategoria balanceados 15-30.
Na subcategoria de balanceados até 15, a Caixa oferece aos clientes fundos que, em muitos casos, são a primeira experiência dos investidores com a renda variável. “Embora a maior parte do portfólio (85%) seja alocada em ativos de renda fixa, mantendo um perfil de risco mais conservador, há a possibilidade de retornos adicionais via exposição em renda variável”, afirma a gestora em nota.
Segundo a Caixa, os fundos de previdência balanceados com essa característica são voltados para investidores de perfil moderado que desejem explorar oportunidades na renda variável de forma limitada e com gestão profissional, mas sem abrir mão da estabilidade tradicionalmente oferecida pelos ativos de renda fixa.
Fonte: Valor Econômico

