29 Apr 2024 CÍCERO COTRIM FRANCISCO CARLOS DE ASSIS
A incerteza fiscal deflagrada pela mudança das metas de resultado primário, na semana passada, e a percepção de juros altos por mais tempo nos EUA podem diminuir o espaço para cortes da Selic neste ano. A avaliação é do economista-chefe do BTG Pactual e ex-secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida, que vê risco de a taxa básica de juros brasileira fechar 2024 em 10% ou mais.
“Dois meses atrás, o mercado esperava que a taxa de juros poderia ir no fim do ano para perto de 9%, alguns até abaixo disso. Hoje, o mercado está indo para algo entre 9,75% e 10%. Então, a gente corre o risco, infelizmente, com todo esse barulho fiscal, de terminar o ano com a Selic em dois dígitos”, disse ele, durante evento em São Paulo.
Segundo o ex-secretário do Tesouro, a taxa Selic permanece alta e isso indica que o Banco Central deve continuar reduzindo os juros, embora possa diminuir o ritmo de cortes. O analista disse que, além da mudança das metas fiscais, a aprovação de medidas de aumento de despesa pelo Congresso Nacional também é uma sinalização ruim na seara fiscal, com potencial de afastar investidores estrangeiros do País.
“Se a gente não mostra convicção e compromisso de todos, incluindo todos os Poderes, com o ajuste fiscal, isso vai afastar o investidor”, afirmou. “Se não tiver controle de despesa, isso vai se transformar em aumento da carga tributária para fazer qualquer tipo de ajuste fiscal, e o investidor não vai aumentar o investimento com incerteza de quanto vai ser a carga tributária daqui a dois ou três anos.”
CORTE DE DESPESAS. O economista disse que esse cenário torna importante um compromisso dos Poderes com o ajuste fiscal e o corte de despesas, já que, mesmo com alguma redução dos gastos, o cumprimento das metas fiscais do governo ainda vai exigir elevação da carga tributária. Ele ainda afirmou acreditar que a meta de 2024, de déficit zero, não será alterada.
“O que pode acontecer em 2024 é o governo não conseguir cumprir a meta e, se ele não cumprir, tem os mecanismos de ajuste”, disse.
“O governo não precisa mudar novamente a meta e, se mudar novamente a meta para 2024, vai causar muito mais incerteza e prejudicar a queda dos juros dos títulos do Tesouro, que é o juro longo, que é importante para os investimentos.” •
Fonte: O Estado de S. Paulo

