Por Adriana Mattos, Luiza Ferraz Maria Luíza Filgueiras e Eulina Oliveira — De São Paulo
02/08/2022 05h00 Atualizado há uma hora
O fundo de investimento árabe Mubadala Capital fez uma proposta para a compra do controle do Burger King no Brasil, empresa hoje chamada Zamp, numa operação que pode movimentar R$ 938,6 milhões. Por meio de uma oferta pública voluntária para aquisição (OPA), o Mubadala quer sair de uma participação de 4,95% para 50,10% da rede, ao preço de R$ 7,55 por ação. O montante representa um prêmio de 21,6% sobre a cotação de fechamento da última sexta-feira e de 31% sobre a média a ação nos últimos 30 dias.
Como o Valor antecipou no em 5 de julho, o fundo já vinha analisando uma oferta pela empresa, dentro da estratégia de avançar sobre ativos com potencial de crescimento, mas que perderam valor na bolsa desde a pandemia. Em 12 meses até sexta-feira, o papel caía 49%. Na OPA, a proposta é de pagamento à vista e em dinheiro na data de liquidação da oferta, segundo a correspondência de uma controlada do Mubadala, enviada à rede, e que detalha as condições.
Ontem, após a divulgação do interesse ao mercado, a ação fechou o dia em R$ 7,39, alta de 18,81%, com o preço do papel já bem próximo do patamar oferecido pelos investidores. O conselho de administração da rede – composto na sua maioria por membros independentes – deve divulgar em até 15 dias um parecer prévio sobre a oferta, mas as sinalizações iniciais dos acionistas são negativas, segundo o Valor apurou.
A primeira análise de um grupo de investidores é que o ofertante terá que melhorar o preço. Três acionistas institucionais do BK ouvidos consideram que a proposta subestima o valor do negócio. Um ano e meio atrás, um aumento de capital na rede foi feito com o papel a R$ 10,80. E a companhia negociou uma fusão com a Domino’s em julho de 2021, que a avaliava em R$ 3 bilhões – R$ 11,12 por ação, bem abaixo do preço ofertado agora. À época, já houve resistência de acionistas a esse valor.
Há uma diferença relevante: ali, a operação se dava por troca de ações, portanto o acionista de BK tinha que acreditar na perspectiva operacional de longo prazo da fusão. A transação acabou suspensa depois que o valor de mercado do BK caiu a R$ 1,9 bilhão em outubro, o que significaria maior diluição dos investidores.
Para analistas, a oferta tem poucas chances de ser aceita nos termos atuais. “O Mubadala está disposto a pagar um múltiplo de 6,5 vezes o valor sobre o Ebitda de 2023, o que não necessariamente se alinha às demandas dos minoritários”, escreveu em relatório a equipe do Credit Suisse. O papel hoje é negociado a 5,9 vezes e estreou na B3 em 12,6 vezes. “O preço ofertado nos parece muito aquém quando analisado o patamar atual de negociação e principalmente ao levar em conta as melhorias operacionais realizadas nos últimos trimestres”, comentou a equipe da Eleven ontem.
Como o pagamento é em dinheiro, a questão depende da necessidade de liquidez dos sócios. “Os acionistas com maior fatia não estão com problema de liquidez para topar uma oferta que, com esse prêmio, é o mesmo valor que tinham em mãos em outubro”, diz uma fonte.
A análise da operação pelo Mubadala, até a apresentação da proposta, levou cinco meses. Mas há espaço para negociações. “Estamos falando de uma empresa com gente grande, que pelo menos antes da pandemia tinha planos grandes. Ninguém queria começar com o pé esquerdo, e entendemos que há espaço para um entendimento”, diz uma fonte.
Por “gente grande” entenda-se os acionistas da Restaurant Brands International (RBI), que por meio da Burger King do Brasil Assessoria a Restaurantes, tem indiretamente 9,4% da companhia. As marcas Burger King e Popeyes são controladas pela RBI, que por sua vez tem como maior acionista a 3G Capital (29% do poder de voto), de Jorge Paulo Lemann, Marcelo Telles e Beto Sicupira.
Na rede de lanchonetes brasileira, são sócios diretos, além da empresa ligada à RBI, a Atmos Capital (10%), Morgan Stanley (9,3%) e Vinci Capital Partners (6,4%) – cerca de 63,7% das ONs está em circulação no mercado.
Apesar do jogo duro que acionistas fazem nessas momentos de negociação, um gestor com BK na carteira entende que a vida da rede também não tem sido fácil, com a forte concorrência do McDonald’s Brasil – “um dinossauro ativo e competitivo”, nas palavras de um ex-executivo do Burger King – e com um “valutation” que não dá sinais de reação mais clara, apesar das melhorias operacionais. É o caso clássico de empresas que reagem após uma crise, mas o valor não se traduz no papel.
Desde o início da pandemia, a ação chegou a ganhar fôlego maior na metade do ano passado, indo a R$ 12 a ON quando a empresa anunciou uma fusão com a Domino’s, que foi rejeitada pelos sócios. A Vinci Partners, acionista da Domino’s e da BK por meio de um fundo, defendia a associação. E tinha direito exclusivo de preferência por um ano. Esse prazo acabou em julho. (Colaborou Felipe Laurence)
Fonte: Valor Econômico

